A fábrica de fake news em torno do Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

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O assunto não é novo, mas continua exigindo atenção dos tricolores, especialmente nos mais interessados no futuro político do clube.

Desde o advento das redes sociais, no século XXI, uma parte da torcida do Fluminense passou a seguir esse processo de forma massiva. Como todo grande invento, a internet trouxe benefícios espetaculares mas também problemas.

Num primeiro momento, o grupo dominante da política tricolor passou a usar as redes sociais para uma verdadeira máquina de propaganda das gestões tricolores, objetivando trazer uma “New Order” às arquibancadas: apoio incondicional, inclusive a barbaridades nas escalações e substituições; inflação de elogios a jogadores de talento reconhecidamente limitado; supervalorização de feitos comuns; satanização das torcidas organizadas e, por fim, o assassinato de reputações de opositores – cujo nome mais evidente é o de Antonio Gonzalez, liderança histórica do clube. O trabalho era feito especialmente no Twitter, onde as discussões são naturalmente mais rasas pelo formato do veículo, mas não se deixava o Facebook de lado, especialmente em murais pessoais e alguns grupos mais populares.

Num momento específico a movimentação foi ampliada, exatamente quando Fred deixou o clube por desavenças empresariais em 2016. Dada a desgraça da perda do ídolo, “gênios” da política tricolor resolveram simplesmente que um jogador deveria ser “aditivado” nas redes para substituir o grande camisa 9. O escolhido foi Gustavo Scarpa e, pouco tempo depois, a tentativa de marretar um ídolo no ideário do torcedor revelou-se péssima: embora fosse um ótimo jogador, Scarpa não tinha carisma de ídolo e acabou deixando o clube sob rumoroso litígio.

O fracasso da Operação Scarpa não abalou os anseios de manipulação da opinião pública tricolor. Os títulos não vinham, pelo contrário; contudo, dia após dia eram fabricadas “grandes notícias” de modo a domesticar o torcedor – até a propaganda na bunda do calção virou uma catarse. Enquanto isso, em campo…

Há forte desconfiança entre acordos das gestões tricolores com grupos de comunicação, desde os maiores até os da chamada imprensa segmentada tricolor. Até aí, nenhuma novidade na vida brasileira; porém, nos últimos anos, a coisa mudou de proporção. É sabido que pelo menos um site foi criado exclusivamente por grandes entusiastas da atual gestão, visando ser uma espécie de “porta-voz” do stablishment tricolor, isso sem contar uma quantidade expressiva de “influencers” surgida subitamente para ganhar dezenas de milhares de seguidores, em estranha condição quando comparada com outros agentes tricolores com muito mais tempo e qualidade no ar. Por fim, muitos grupos de Facebook aumentaram seu tamanho de forma desproporcional, e em muitos deles nitidamente não há postagens de críticas ao time ou à gestão, mas os chamados “textões” de anônimos em plena defesa de verdadeiras sandices, tais como os gastos absurdos nas contratações de jogadores bastante questionáveis. O curioso é que, em diversos casos, os “textões” se parecem até mesmo nos erros de Português, sugerindo a redação feita por “tricolores humildes e apaixonados”.

Um outro componente, mais explorado na página oficial do clube, mas coincidentemente copiado por populares nos grupos de Facebook com textos próprios, é a súbita idolatria a jogadores que nada fizeram para conquistá-la, ou de suavização das imagens desgastadas com memes, vídeos e banners. Alguns exemplos mais recentes são Hudson, Bobadilla, Wellington, Felipe Melo, Cristiano da Moldávia e Fábio. Em alguns casos, a propaganda destes jogadores foi no mesmo dia do aniversário de ídolos históricos do clube, estes desprezados com força. E quando os custos apertam e é preciso vender alguma promessa de Xerém a troco de mariolas, o repertório de argumentos dá as caras: “O pai tumultua”, “Não performa”, “Está com a cabeça na Europa”, “É marginal” e por aí vai. Longe, muito longe de paternalizar a questão, quantos jogadores promissores não foram rifados afobadamemte nos últimos anos?

Nem sempre é fácil perceber todo esse movimento, voluntário ou não, certamente orquestrado por interesses que não são os do Fluminense e de sua torcida, mas que acertam em cheio nos objetivos de empresários ligados ao clube e seus eventuais agraciados. Contudo, com uma análise razoável do noticiário tricolor e o mapeamento das redes sociais, o comportamento de vibração chama por demais a atenção. Cabe ao torcedor a lucidez em saber separar os espaços de boa informação dos ambientes de clara manipulação, ainda mais agora, a um mês das eleições tricolores.

Todo mundo já leu na internet e em veículos pró-gestão dizeres como “Não temos como alcançar Flamengo e Palmeiras”, “Antigamente lutávamos para não cair”, “O presidente pegou o clube falido”, “Quem não apoia integralmente não é tricolor” e outros.

Há uma fábrica de fake news em torno do Fluminense, jogando cortinas de fumaça diariamente na internet. Enquanto isso, a dívida do clube aumenta (com muita maquiagem), os anos sem títulos são tratados como vitoriosos e o Flu, que tem um século XX de glórias, vai se apequenando no século XXI.

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Uma frase de Edinho, o maior zagueiro da história do clube, em sua última passagem como treinador pelas Laranjeiras.

“Jogador que é reserva de outro clube não pode ser titular do Fluminense.”