A coletiva de Fernando Diniz (por Edgard FC)

O treinador do Fluminense Football Club começou seu pronunciamento se referindo à sua entrevista pós-jogo no último Fla-Flu, em que o Tricolor foi eliminado pelo rival pela soma de dois a zero, onde o Time das Laranjeiras não acertou uma bola sequer o alvo do goleiro Rossi.

Em sua fala inicial, tratou de pedir uma meia desculpa, pois embora tenha baixado o tom, seguiu sustentando as mesmas teses que vociferou quando da eliminação. Sua escusa se deu mais em relação ao tom do que ao conteúdo que, para ele, continua sendo a única visão respeitável, pois mais a frente, teve a oportunidade de reiterar seu pensamento.

A seguir, algumas perguntas sobre formação de elenco, aproveitamento de jogadores e sobre preferir trabalhar com elenco curto, defendendo que, prefere elencos mais esvaziados, para utilizar a base, pois segundo suas palavras, é uma premissa de sua carreira.

Acontece que nesse ponto, a retórica é apenas jogo de palavras, pois na prática, os jogadores em formação são pouco o subaproveitados pelo comando técnico e negocial tricolor. O que vemos é o contrário, pois sempre que possível, algum atleta da base é deixado de lado, emprestado e, por vezes, escalado em situações de menosprezo, como foi o caso de alguns que tiveram de jogar na altitude na temporada passada, para as celebridades descansarem por aqui.

Neste mesmo ano, tivemos um início promissor de alguns jovens, como João Neto, que já foi emprestado, Felipe Andrade, este teve de jogar improvisado de volante, sendo zagueiro, mesmo assim arrebentou, sendo um dos destaques da equipe comandada por Marcão até que Diniz e seus jogadores voltassem de férias; desde que os chamados titulares resolveram voltar (antes do planejado), o rapaz nunca mais teve uma oportunidade, mesmo com a equipe precisando, tanto de volante, como de zagueiro, basta ver os improvisos nas duas semifinais disputadas contra o Flamengo.

Temos mais. Luan Freitas, outro zagueiro promissor que enfrentou uma dura lesão na temporada, assumiu a zaga da equipe e vinha se desenvolvendo bem em campo. Seu prêmio: ser emprestado ao Paysandu, provavelmente para não incomodas as vagas dos veteranos Felipe Melo e Thiago Santos e não atrapalharem as vindas de Thiago Silva (só se fala em outra coisa, como diriam os gaúchos) e David Luiz (este ventilado por ter perdido espaço no rival).

Outros nomes como Isaac, Arthur, os laterais Jhonny, Justen, Marcos Pedro, Rafael Monteiro, além dos meias Yago (emprestado ao Nova Iguaçu), Edinho (também emprestado). Outrossim, jogadores jovens recém-contratados, já estão tendo chances de atuar, furando fila de muita gente, como o caso do Marquinhos, que até de lateral direito improvisado jogou, mesmo sendo canhoto e Lucumí, que teve o mesmo fado de atuar fora de posição no Fla-Flu, enquanto Diniz argumentava que tem de lançar jovens com todo preparo. Curioso, o mesmo não vale para os jogadores que usam o clube como vitrine, como Pirani, Manson e agora a dupla de pontas emprestados para alguma composição empresarial.

Passado este tema, o mesmo entrou mais uma vez, na incansável cruzada do coitadismo, choramingando não ter o orçamento do Flamengo, por exemplo, como se o Fluminense fosse um Criciúma ou um Cuiabá, em termos orçamentários. O Flu, junto a outros dez, doze clubes, abocanham centenas de milhões de reais, com potencial de arrecadar muito mais, triunfos que Palmeiras, Flamengo e outras marcas vem fazendo, em função de alguns benefícios, evidente, mas também esforços em equacionar (de verdade) suas dívidas e maximizar os anhos com as vendas de jogadores de suas bases, vide os exemplos recentes de Endrick (R$198 milhões) e João Gomes (R$103 milhões), fora outros ganhos variáveis, com metas alcançáveis, não a de mentirinha que fizeram na venda de Luiz Henrique, em que o ponta deveria ser artilheiro da Champions League e seu ex-clube deveria ser campeão do certame. Piada.

A realidade é que o Fluminense faz parte da atrocidade financeira feita no futebol brasileiro, desde os idos da década de 1980, com o famigerado Clube do 13 e todos seus movimentos posteriores, culminando agora, nas leis de SAF e formação de Lias (de novo) para negociar contratos de televisão e outros ganhos com publicidade, embora o Fluminense esteja cavando seu poço de dívidas mais ao fundo, pois já comprometeu 20% de possíveis ganhos, por 50 anos, tomando dinheiro emprestado a juros brasileiros, para fingir não precisar fazer movimentos mais inteligentes em contratações.

Parte da coletiva mais se assemelhou com levantadas de bolas para que o treinador pudesse desfilar suas convicções, normal para um treinador de topo da elite do futebol brasileiro, porém, bastou uma pergunta um pouco mais desconfortável, para que Diniz voltasse a defender as mesmas teses que o fez dar essa coletiva a fim de pedir desculpas pelos faniquitos distribuídos de torto a direito, recentemente.

Certamente houve alguma conversa ou cobrança interna, pois ficou nítido no semblante do Cruijff tupiniquim (segundo seu maior fá, o auxiliar Eduardo Barros) o desconforto em estar ali e ter de baixar um pouco a bola. Resta saber se isso o ajudará a atenuar seus ataques à beira do campo ou os intensificará.

Vale destacar também, outra fala risível, mas compreensível dentro do meio boleiro, dizer que o Alianza Lima é muito perigoso porque já jogou trinta vezes a Libertadores enquanto o Fluminense está indo à sua décima edição apenas, em um movimento de fala que contradiz o choramingo do orçamento. Ora, se não pudemos vencer o Flamengo por ter cerca de um terço do que o Rubro-negro tem para fazer futebol, quantas vezes mais temos em relação à tradicional equipe do Peru para tal?

Alguns outros pontos, cabe ressaltar: era óbvio que seguiria defendendo suas teses sobre escalações estapafúrdias e improvisadas, quando a isto não resta duvida e foi reforçado pelo atual ocupante do cargo (muito bem) remunerado à frente da comissão técnica da equipe tricolor, de que seguirá seus experimentos, sob eufemismo de procurar as melhores decisões para vencer partidas.

Com isso, me faço algumas perguntas retóricas: recuar André e Martinelli para zagueiros ajuda o Fluminense a ficar mais perto de vencer? Recuam para quem jogar em seus lugares (volantes)? Toni Kross? Luka Modrić? Escalar Marquinhos (que acabou de chegar) de lateral direito sendo canhoto, nos aproxima de vencer? Por quê? São perguntas que seguirão sem respostas, isso porque me ative a exemplos recentes.

Quando a entrevista começou a fugir do controle, o assessor em conjunto ao treinador, trataram de encerrar dizendo que o objetivo da coletiva já tinha sido alcançado.

De modo geral, podemos destacar a baixada de tom como algo positiva e até a relativa vontade de voltar a falar sobre os temas dos quais pouco se fala, embora o treinador faça um apelo para aprofundar o debate sobre futebol toda vez que é questionado, distribui grosserias e chama as perguntas de rasa, como se o próprio conseguisse nadar despreocupado nas galhetas de Ponta Negra, ali em Maricá.