A camisa do capitão e a Máquina do Céu (por Paulo Rocha)

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Em meados dos anos 1970, não era tão simples ter uma camisa de seu time. Eram caras e as pessoas só passaram a ter acesso a elas já quase no final da referida década. Eu mesmo sou prova disso, minha primeira camisa do Fluminense não erai oficial, ou mesmo comprada numa loja de artigos esportivos. Era, falando numa linguagem atual, customizada.

Era uma camiseta Hering de algodão. Nela, minha mãe costurou o escudo do Tricolor e, na parte de trás, o número 2, em vermelho, cor dos números das camisas brancas do Fluminense. O ano era 1976, a segunda edição da Máquina do presidente Horta. O número 2 era envergado por ninguém menos que Carlos Alberto Torres.

O capitão do tricampeonato mundial brasileiro no México era um dos integrantes daquele que foi o meu time dos sonhos. Conseguiu a façanha de ser ídolo de meu pai e meu, unindo gerações apertando ainda mais os laços fraternais que nos ligavam às três cores que traduzem tradição.

Lembro-me de um Fla-Flu que eu e meu pai assistimos nas antigas cadeiras azuis do Maracanã. Vencemos por 1 a 0 com um golaço de Gil, após receber um passe magistral de Paulo Cézar. O que ficou na minha memória, no entanto, foi a briga que rolou após Merica ter chutado Rivelino, caído no chão. O Capita chegou no meio do bolo baixando a porrada. Era mole para ele, que anos atrás, em pela Copa do México, tinha dado o soco na cara do craque britânico Bobby Moore após “um pega pra capar” dentro da área brasileira.

Carlos Alberto, apesar de bravo, era mais que isso. Era de uma liderança extrema, de uma elegância notável, de uma categoria incomparável. Um cracaço, o maior lateral-direito da história do futebol mundial. Tive a felicidade de vê-lo jogar e também treinar, nas Laranjeiras. Uma verdadeira aula a cada treinamento.

Passada uma semana de sua morte, parece que a ficha ainda não caiu. Foi para o Céu juntar-se a Félix, Rodrigues Neto, Cafuringa, Doval e Dirceu, reforçar a Máquina que joga para os aplausos de Nelson Rodrigues, de meu pai e de tantos outros tricolores que por lá estão.

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Imagem: o globo