A benção, João de Deus (por Rods)

JP2

O polonês Karol Józef Wojtyła liderou uma bela virada na história da Igreja Católica. O homem mais conhecido como Papa João Paulo II, ao assumir o comando do catolicismo, fez a Igreja mudar a forma de lidar com o mundo. Voltou seus olhos para os problemas de vários povos e abriu diálogo com outras religiões. Tudo com humildade, braços abertos e sorriso no rosto. Sobreviveu a um tiro à queima roupa e seguiu com sua missão de paz. Sua morte foi sentida no mundo inteiro e sua recente canonização, celebrada em todos os lugares.

Para nós tricolores, ele é João de Deus e seu milagre é nos salvar nos últimos minutos. É o momento que praticantes de todos os credos e também os que não possuem credo algum se rendem e cantam juntos pedindo a benção:

“A bênção, João de Deus

A benção, João de Deus

Nosso povo te abraça

tu vens em missão de paz

seja bem-vindo e abençoa esse povo que te ama”

Mas então, de onde veio isso? Como o João Paulo II entrou para o folclore tricolor? Para entender, precisamos voltar ao ano de 1980. O Fluminense vinha em uma espécie de ressacado desmanche da máquina tricolor. O time manteve algumas peças, mas acabou errando na troca de outras e a máquina perdeu potência. Assim tivemos que ver o Vasco levar a melhor em 77 e o Flamengo celebrar seu “tri em dois anos”. Mas em 1980 o time veio competitivo, já incluindo algumas peças que fariam parte do time do tri carioca (83-84-85) e do Brasileiro (84) e fez uma bela campanha no primeiro turno, no qual faria uma final com o Vasco. O jogo terminou 1 a 1 e foi para os pênaltis.

Paulo Goulart – Edevaldo – Tadeu – Delei – Edinho e Rubens Galaxe. Agachados: Robertinho – Cláudio Adão – Mário – Gilberto e Zezé
Fluminense 1980: Paulo Goulart, Edevaldo, Tadeu, Delei, Edinho e Rubens Galaxe. Agachados: Robertinho, Cláudio Adão, Mário, Gilberto e Zezé

Na época era comum a torcidas entoarem sambas-enredo. Porém, naquele dia, a homenagem a João Paulo II foi surgindo baixinha até que, de repente, toda a torcida tricolor cantava junta. Essa música é a mesma que está acima e que havia sido composta para homenagear o pontífice na ocasião de sua visita ao Rio em junho daquele ano. Só sabemos que o canto pegou e Paulo Goulart defendeu duas cobranças, dando o título ao Flu. Milagre ou não, é o que aconteceu. Mais à frente, o Vasco venceria o segundo turno, mas o título carioca iria para as Laranjeiras, após vitória tricolor na finalíssima por 1 a 0.

Desde então, especialmente em momentos de aflição, a torcida apela ao agora santo e canta continuamente o mesmo refrão. Mais recentemente, o Fluminense oficializou João Paulo II como seu padroeiro. Durante certo tempo “povo” chegou a ser substituído por “torcida”, mas depois foi retomado o original.

A melhor parte nisso tudo é que hoje, ainda que o Brasil tenha aumentado sua diversidade religiosa e que o número de agnósticos e ateus esteja cada vez maior, esse momento (quando a bênção é pedida) une todos em torno de apenas uma adoração: a adoração ao Fluminense. Não importa de onde venha a força, a fé, o pensamento positivo ou mesmo que seja o “Anti-Sobrenatural de Almeida”. O que importa é que de alguma forma algo se mova a favor do Flu e traga a vitória.

Amém, que assim seja, oxalá, inshalá! A benção, João de Deus!

ST!

Panorama Tricolor

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Imagem: Fluminense F.C.

Foto: reprodução