Fluminense 0 x 2 Chelsea (por Edgard FC)

Mais de vinte e quatro horas sem cerrar as pálpebras, efeito colateral que uma semifinal de Copa do Mundo proporciona. Como é corriqueiro dizer em redes socias: quem não está assim, está vivendo errado. Eu é que não farei de rogado.

Mesmo com (quase) tudo errado na tangência da instituições por seu algozes que deveriam ser seus protetores sob juramento estatutário, cá se homiziou o Tricolor, como quem rasga o ventre à sua mãe, como sentenciou José Régio em Cântico Negro.

E ele ainda diz, antes: ‘A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém’, depois: ‘Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos… se ao que busco saber nenhum de vós responde, por que me repetis: “vem por aqui”?’

Assim se deu, como quem dá-se ao carrasco, o nosso Fluminense, como um pirata da perna de pau, olho de vidro e cara de mau. Se nossas galeras nos verdes mares não têm coração, por outro lado, faz valer à pena desbravar oceanos intangíveis, porém já desbravados.

Ser mundial é parte do que somos feitos.

Estão aí nossos adversários de hoje que não nos deixam mentir. Certo dia parodiou nosso escudo, quando conquistamos o mundo pela segunda vez, em mil novecentos e cinqüenta e dois, pouco depois de recebermos o status de Clube Olímpico. Não é para qualquer um.

Natural que estivéssemos nesse pódio, participando da festa dos gigantes, só é novidade para quem acredita que o clube começou depois dos anos dois mil, sob forte propaganda fascistóide dos grupelhos que amealham o clube tal qual o comandante forasteiro do enorme zepelim prateado o fez a Geni.

Repetindo o modelo de escalação que, supostamente vinha dando certo, Renato escalou seu Fluminense com três pessoas na zaga, com mais duas nas laterais e mais três no meio de campo, completados por Fábio no gol, Arias e Cano no ataque e mandou um: ‘seja o que Deus quiser’.

Hoje não tínhamos nosso bravo Martinelli e parte dos insucessos da partida se deveu à sua ausência, pois é o único no elenco de movimentar o meio de campo, com inteligência, intensidade e efetividade. Talvez sirva para abrir os últimos olhos e cabeças de incautos que ganham a vida de perseguir o jogador que, em vez de latir e rosnar, joga muito bem o famigerado esporte bretão.

A vaca começou a ir para o brejo ainda no fulgor inicial da partida, João Pedro, revelado em Xerém e vendido a fim de manter as rodas girando, incluindo as de dirigentes com suas mansões cafonas e que ostentam uma vida clichê de gente que vive de explorar as bancadas, doutrinou a partida.

Aos dezoito minutos, como uma águia acertou um chute com delicada perfeição para longe das fronteiras do guarda Fábio, que nada poderia fazer, mas pulou para sair nas imagens, como um valente eleitor acreditando que será possível alguma melhora de vida pelo sufrágio.

‘Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei.’

O mesmo João Pedro, em jogada impetuosa e inescrupulosa na segunda etapa, tenteou a bola, se equilibrou e acertou outro sem-pulo, dessa vez com a gorduchinha mordiscando o travessão e quicando no chão de dentro da caixinha, ampliando e decretando o placar final.

O jovem João Pedro ter feito os dois gols dessa partida em prol de eliminar o Fluminense de seu sonho de uma noite de verão é didático e emblemático.

Logo ele, que está a se apossar da nove da seleção brasileira e que foi contratado pelos Blues para fechar essa Copa do Mundo, nas quartas para eliminar o Palmeiras e nas semis para defenestrar o nosso querido e amado Tricolor.

A jogada final foi emblemática e igualmente didática, na verdade as duas últimas. Em uma delas, um jogador recebeu bola longa de Arias para chegar sozinho na cara do gol, quando o frame da câmera estabilizou, vi que era o Everaldo, esmoreci e nem olhei o desfecho, me virei para o teclado e digitei esse trecho.

Na derradeira, um cruzamento veio da direita para um Everaldo sozinho, sem marcação, o rapazola se deslumbrou, deu às costas e emendou um monociclo, a bola fez o itinerário que achou melhor, indo parar no colo de algum torcedor, bravo e valente na arquibancada do MetLife Stadium.

Foi o que nos restou nessa festa, que os homens armaram para nos convencer a sermos quem somos, a aceitar o fado de estar abaixo do Equador e cair na real. Sonhamos um sonho dantesco, destruído por uma gente tacanha, nefasta que não aprenderá nada. Os sete a um foram pouco, muito pouco para o que merece tanta empáfia, soberba e cretinice.

Agora vou nessa, pois para escrever frases demodés e cafonas do tipo ‘foi o que deu’, ‘chegamos longe’, ‘não tinha como competir’, ‘caiu de pé’, certamente terá muita gente para fazer.

Vou seguir com minha indignação, esperando que um dia consiga superar a mediocridade que nos governa.

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FLUMINENSE 0 x 2 CHELSEA
Copa do Mundo de Clubes (FIFA) – Semifinal
MetLife Stadium – East Rutherford-New Jersey, USA
Terça-feira, 08/07/2025 – 16:00h (Brasília)
Renda:
Público: 70.556 pessoas presentes
Árbitro: François Letexier (FRA). Assistentes: Cyril Mugnier (FRA) e Mehdi Rahmouni (FRA). Quarto Árbitro: Iván Barton (FRA)
Cartões Amarelos: Nonato 59’, Yeferson Soteldo 71’ (FLUMINENSE); Robert Sánchez 73’ (CHELSEA)
Gols: João Pedro 18’ e 56’ (CHELSEA)

FLUMINENSE: 1-Fábio; 23-Guga, 4-Ignácio, 3-Thiago Silva©, 29-Thiago Santos (11-Keno 53’) e 6-Renê; 5-Facundo Bernal (45-Lima 70’), 35-Hércules (17-Agustín Canobbio 70’) e 16-Nonato (7-Yeferson Soteldo 66’); 21-Jhon Arias e 14-Germán Cano (9-Everaldo 53’). Téc.: Renato Portaluppi. 5-3-2

CHELSEA: 1-Robert Sánchez; 27-Malo Gusto (24-Reece James 67’), 23-Trevoh Chalobah, 4-Tosin Adarabioyo e 3-Marc Cucurella; 25-Moisés Caicedo, 8-Enzo Fernández (17-Andrey Santos 85’), 18-Christopher Nkunku (22-Kiernan Dewsbury-Hall 85), 7-Pedro Neto (11-Noni Madueke 67’) e 10-Cole Palmer; 20-João Pedro (15-Nicolas Jackson 60’). Téc.: Enzo Maresca. 4-2-3-1