Internazionale 0 x 2 Fluminense (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, quem diria que paralisaríamos nossa rotina convencional numa segunda-feira para ver um jogo de Copa do Mundo de Clubes com o nosso Tricolor enfrentando o atual vice-campeão europeu, em pleno ano de 2025?

Essa Copa do Mundo tem um aspecto curioso, que é o de disseminar verdades adormecidas. Sabemos que verdade não é uma habilidade muito dominada nos dias atuais.

Nas vésperas de Fluminense x Dortmund, fomos informados de que o Fluminense, em 18 confrontos contra equipes alemãs, tem 12 vitórias e míseras 5 derrotas. É importante lembrar do baile que a Máquina Tricolor da década de 70 deu no então bicampeão da Europa, Bayern de Monique, base da seleção alemã campeã do mundo em 1974, na partida de celebração de Paulo César Caju ao Prêmio Nobel do Esporte.

Antecede o jogo de hoje a informação de que o Fluminense jamais perdeu para clubes italianos. Nossa única derrota foi para a seleção do país, um 5 a 3 espetacular, disputado em 2014, durante a preparação para a Copa do Mundo de Seleções do Brasil, conquistada pela Alemanha. Com o resultado de hoje, são 11 vitórias e 4 empates diante de clubes italianos, pelo menos pela estatística a nós oferecida.

Sabemos, obviamente, que o desequilíbrio econômico tem feito com que os europeus levem vantagem sobre nós, brasileiros e sul-americanos. Vou me abster, por enquanto, de tentar explicar o porquê de o Fluminense, com essa vitória, ter colocado os clubes brasileiros em vantagem nos confrontos diretos contra europeus nessa Copa do Mundo de Clubes. São, agora, 3 vitórias de clubes brasileiros, 2 empates e 2 vitórias europeias.

Uma coisa é a história, outra o momento atual. O nosso (meu não) complexo de vira-latas só é capaz de olhar para o momento atual, em que os europeus se valem do desequilíbrio econômico e tático criado por gênios brasileiros incompreendidos.

Desequilíbrio tático? Sei lá! Acho que hoje já não está rolando muito, graças ao afluxos de técnicos europeus – que ironia! – ao futebol brasileiro, ávidos por resgatar o que temos de melhor. Sobrou, então, o desequilíbrio econômico.

Então, o Fluminense, pelo menos economicamente, era um Davi enfrentando um Golias. Mas é bom lembrar da história. Nunca um time italiano venceu o Fluminense. Não percebem, talvez, do que se trata, mas eu estou falando do Fluminense Football Club, segundo campeão mundial de clubes, em 1952, antecedido pelo Palmeiras, o primeiro, em 1951, as duas maiores grifes do futebol brasileiro.

O Fluminense começou fazendo com a poderosa Inter o mesmo que o Bayern fez contra a Dissidência. Marcação pressão, intensidade e sufoco. Cano quase faz o primeiro ao desarmar o goleiro deles, mas a bola lhe escapou. Com quatro minutos, o Flu, senhor absoluto da partida, ataca pela direita, Arias cruza, a bola respinga no defensor e se oferece para o artilheiro tricolor abrira a contagem na pequena área.

Mesmo com três zagueiros, o Fluminense dominou a Inter nos primeiros minutos e viu um adversário baratinado, doido para se entregar ao deleite de ser massacrado. Porém, com a vantagem, o Fluminense passou a marcar em bloco médio alto, pensando em controlar o jogo e não em dominar e destruir o adversário. Nosso sistema defensivo falhou na única chance clara de gol deles. Fábio fez a primeira grande defesa. Fábio, pois é. O Fábio.

Renato pensou bem a escalação. Os três zagueiros altos, auxiliados por Bernal, neutralizaram a jogada aérea italiana. O Fluminense teve duas chances de matar o jogo. Samuel Xavier, que fez uma partida bem abaixo do normal, chutou para fora na pequena área. O árbitro anulou o gol de Ignácio, um dos melhores do time. Se não é o Nino, a dedicação supera as expectativas e, tecnicamente, é um ótimo jogador, que começou o jogo apoiando bem e iniciando nossas ações ofensivas pelo lado direito.

A impressão deixada pelo primeiro tempo era de que o Fluminense era dono do jogo, mas a realidade foi bem diferente na segunda etapa. Enquanto o técnico da Inter trocava muitas peças, tentando driblar o assédio do calor, Renato confiava seus botões. A troca de Martinelli e Nonato por Hércules e Lima não surtiu efeito positivo. Além do que, recuou o time para marcar em linha baixa extrema, especulando contragolpes.

Era a hora de sofrer, porque era tudo que o rival queria. Espaço para ficar com a bola, facilidade de desarmar as ligações diretas e proximidade constante da nossa área. Era a hora de colocar Ganso no jogo, para que voltássemos a competir pelo domínio do meio de campo. Mas o máximo que passou pela cabeça de Renato foi colocar Thiago Santos em campo. Ó céus!

Foi um show de Fábio, com direito até a bola na trave. A segunda já veio quando vencíamos por 2 a 0, com desarme ofensivo e jogada espetacular de Hércules, que avançou e mandou no canto esquerdo do goleiro italiano, decretando, já nos minutos finais, a vitória do Maior Clube do Brasil.

Vitória justa? Sem dúvida alguma. O Fluminense, mesmo nos momentos em que era dominado, conseguiu criar oportunidades. A ressalva é esse recuo, que não se explica completamente, pelo menos não se fizermos uma análise da partida e até das condições climáticas. Deixamos que eles ficassem com a bola, nos fazendo correr atrás dela, quando deveria ser nós a trabalharmos para lhes cansar.

No final das contas, passamos de fase, nos posicionando entre os oito maiores do mundo. Mas Renato precisa avaliar esse jogo com carinho. Estivemos muito próximos de tomar o gol de empate e não fomos mais seguros defensivamente jogando em linha baixa do que quando avançávamos nossas linhas para pleitear a posse de bola.

Estamos de parabéns, representando e respeitando o futebol brasileiro, mas é preciso romper com as oscilações ao longo das partidas para pleitearmos o que nos compete numa Copa de Mundo de Clubes, que é a conquista do título.

Saudações Tricolores!