Rodízio de jogadores, sim, mas não assim (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, o Fluminense segue parado no tempo na atual temporada. É impressionante como no jogo de sábado Abel desmontou a estrutura que vinha dando algum alento tático e voltou para o 3-4-3, isolando Nonato e Ganso no meio, sem terem, praticamente, com quem dialogar, enquanto Wellington fazia a saída de bola entre os zagueiros, como fora um dublê mal acabado de Felipe Melo.

Abel faz um necessário rodízio de jogadores, mas com uma falta de critérios inacreditável. Contra o Cuiabá, ressuscitou Fred como titular, quando deveria estar dando chances a Samuel Granada, caso fosse determinante poupar Cano. Um time com três atacantes, engessado diante de um adversário que até surpreendentemente abdicou da bola e do ataque para se defender durante 90 minutos.

A vitória do Fluminense foi justa? Sim, foi. Foi a vitória de quem foi a campo para buscá-la, contra quem dela abdicou. Ah, a exibição foi boa? Trouxe algo de novo ou digno de registro? Nada, foi um daqueles jogos entediantes, em que nosso primeiro chute a gol aconteceu já com uns 20 minutos da segunda etapa, desferido por Cano, que acabara de substituir um inoperante Fred.

Abel precisa, primeiro de tudo, gerar um esquema tático e um conceito de jogo capazes de dar suporte a um bom futebol, o que até agora só aconteceu com o Time B, aquele dos 9 gols em três jogos, aquele que conquistou a Taça Guanabara. Aquele, inclusive, cujo esquema, o 4-4-2, ou 4-5-1, Abel apagou por completo de sua memória e tenta apagar também da nossa.

Isso que Abel está fazendo não é rodízio de jogadores, é reproduzir sua trajetória errática de desde o começo da temporada, voltando a esvaziar o meio de campo e liquidando o que de pouco chegamos a ter em termos de capacidade criativa. E basta uma vitória chorada, com um golzinho no apagar das luzes, para o rito ufanista se instalar. Com direito até a coroação de Caio Paulista, elevado a herói da noite, sem ter feito nada que o justificasse.

A impressão que se tem é de que o Fluminense não vive de projetos ou resultados, mas de narrativas. Criam-se narrativas em cima dos resultados, sempre com o foco em justificar e manter procedimentos que já deram errado, embora tentem nos convencer do contrário.

O Fluminense tem elenco para rodar, mas é preciso que se recorra a novas peças, que estão pedindo espaço em cima. Nosso fluxo de Xerém para o profissional parece ter sido bloqueado. Reparem que não tivemos a chegada de nenhum jogador formado na base à rotina do time principal em 2022. Um mísero lateral direito ou esquerdo, nada! Abel insiste sempre nas mesmas peças e no mesmo esquema furado. Vamos tendo pequenos e fugazes momentos de alegria pálida, até o próximo vexame. Aliás, o vexame está sempre rondando o Fluminense, tanto quanto o famoso golzinho cagado.

Daqui a pouco temos o Vila Nova na estreia da Copa do Brasil. Mais um convite a um fiasco, pois sabemos de antemão que Abel não levará a campo um time capaz de jogar um futebol suficiente para liquidar essa fatura. Eu não sei, realmente, o que Abel ainda faz no Fluminense, com todo respeito que tenho por sua história no clube.

Às vezes eu vejo algumas reportagens, comentários e entrevistas que me deixam estupefato. Em que mundo eles vivem? Eles estão falando do Fluminense? Estão falando do último jogo? Ou estão perdidos em um delírio interminável, alimentado por vitórias com sabor de alface sem tempero e vexames sem precedentes mesmo nos piores momentos das últimas temporadas?

O que temos é um elenco que consegue dar suporte às escolhas erradas e falta de rumo, o que nos garante uma caminhada tacanha e sem brilho até o final da temporada, dando graças a Deus pela conquista de um título de uma competição que só tinha dois jogos, em que ganhamos um jogando mal e empatamos o outro atuando acima da péssima média, contra um adversário que não consegue nos vencer nos últimos tempos nem com ameaça de morte.

É uma pena, mas a gente sabe o tipo de comando que o clube tem e não pode esperar seriedade no comando técnico do futebol. A única coisa que temos é uma eleição em outubro, mas que não nos basta se não for capaz de nos trazer uma alternativa política disposta a romper com esse modelo perverso que mantém o Fluminense acorrentado à mediocridade.

Saudações Tricolores!