Mais uma noite de tédio extremo. A música baixa substituía o futebol alto, que já não ecoava mais naquela casa há muito tempo.
A causa daquele vazio era a ausência da voz tão querida no dial, a única que tornava as partidas do Flu ainda mais especiais. O rádio preservava em sua vida o encanto de outros momentos – a adrenalina que vinha a cada jogada, a imaginação recriando todos os lances e construindo o estádio nos mínimos detalhes. Até que sem motivo tudo lhe foi arrancado, e ela se viu forçada a migrar para a televisão.
Tela fria, sem emoção, cheia de ruídos dissonantes… Nem mesmo as cores se faziam tão brilhantes quanto as ondas de Hertz permitiam. No lugar do narrador espontâneo e divertido falava outro completamente perdido, sua pouca simpatia tirando o prazer de acompanhar a partida.
Estava tudo suspenso, como se esperasse a hora de sair dos tanques de nitrogênio e receber o sopro da vida. Mas, enquanto isso não acontecia, a música assumia o lugar do futebol no velho rádio.
Panorama Tricolor
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Imagem: dan