Desde o dia em que me tornei Fluminense, já se passaram 51 anos. Como torcedor presente e ativo, 46 anos. Naturalmente, vi e vivi histórias que dariam livros e livros, mais do que os que já escrevi.
Vivi todas as fases deste meio século intensamente, de grandes títulos a grandes sofrimentos. Nos últimos 15 anos, acabei conhecendo e sendo conhecido por um monte de tricolores por causa de meus esforços literários e deste PANORAMA, no que sou extremamente grato. Mas também tem o outro lado: isso me rendeu haters, inimigos, boicotes, sabotagens, tentativas de invisibilidade e um processo judicial. Posso dizer que no saldo corrente venci. Mas nos últimos dias uma pergunta tem me pesado muito, independentemente dos resultados de campo.
Será que ainda vale a pena?
Torcer pelo Fluminense, sempre.
O que digo é ter que lidar diariamente com o chorume produzido no universo tricolor.
Falar há anos de maracutaias óbvias que os passadores de pano aliviam.
Lutar há anos por uma verdadeira democracia no clube, hoje refém e capacho de uma só pessoa.
Combater canalhices como a deliberada perseguição a Martinelli (hoje em momento ruim), orquestrada por quem lucraria com sua saída e dirigida por meia dúzia de avestruzes que só têm likes.
Comentar a terrível contabilidade do clube, divulgada como se fosse uma chanchada, em completo desalinho com o conjunto dos números atuais. O que falar da negociação de um jogador estipulado em 50 milhões de euros e negociado por UM milhão?
Testemunhar barbaridades como a última assembleia do clube, tratando os sócios como gado e querendo a validação de uma proposta sem qualquer discussão.
Some-se a tudo isso anos e anos de campanhas esdrúxulas (2013 a 2021, mais 2024), contratações jabazeiras, negociações patéticas e o discurso oficial arrogante, prepotente e mentiroso de que tudo está bem.
E jogador de segunda linha botando mão no ouvido para provocar a torcida enquanto faz outras c@g@d@s nas noites de folga.
E super ídolo que tem fatias de dezenas de jogadores do clube, enquanto é babado por bajuladores alienados…
Brigas no Maracanã porque depois de 70 anos agora temos fiscais de torcida, fiscais de vaia e fiscais da pqp. O contrário do que sempre foi a torcida do Fluminense, um dia a mais culta, sensata e crítica do país.
A bolha tricolor na internet está cheia de espones, pico celebridades especialistas em gestão, campo, vestiário (sei…), estatística, tática etc. Ninguém conhece o currículo dessas pessoas, o que faziam antes, as formações. Um monte de jornalistas que nunca atuou em jornais… Essa salada de aberrações joga contra o clube, não a favor.
Um pacote bem pesado para mais de dez anos, de janeiro a novembro ou mais, de segunda a segunda.
Escrever, escrever, escrever, gravar, transmitir, organizar, pesquisar, estudar, tudo do próprio bolso, para ver que as grandes transformações nunca vêm?
Será que ainda vale a pena?
Sei que o impossível nunca virá. Eu queria mesmo era ter dez ou doze anos de idade no Maracanã, sentar ao lado do meu pai e ver Pintinho, Cléber e Rivellino. Robertinho, Cláudio Adão e Zezé. Ficar dentro da maior nuvem de pó de arroz do mundo e me sentir no céu. Viver o tempo em que a minha camisa era mais importante do que qualquer jogador, treinador ou dirigente, sem latidos ridículos.
A realidade é: tudo passou. Já era. Os tempos são outros. All things must pass.
O problema nem é a péssima colocação, já lutamos muitas vezes contra isso. O pior é a escrotidão que cerca o Fluminense atual, muito pior do que a de nossos piores momentos no campo. No pior deles todos, a Terceira Divisão, a gente sofria e sofria, mas éramos unidos. Tricolor abraçava e incentivava tricolor. Hoje é um batalhão de idiotas que se xingam e se ameaçam no lodo da internet.
A Libertadores, que deveria ser nossa paz eterna, virou desculpa para as maiores barbaridades. Enquanto isso, tem gente cada vez mais rica às custas de negócios duvidosos…
Vem aí mais um jogo duro na terça. Barra pesada. Eu só penso em me salvar no Brasileirão. O que vier além disso é lucro.
Admito: nunca estive tão cansado dessa gente. Que seja feita a vontade de Deus. Não sei se vale a pena, mas ainda vou tentar.