O projeto maldito da SAF do Mário (por Flávio Souza)

Para surpresa de quase ninguém, a atual administração do Fluminense mais uma vez se utilizou de um vazamento seletivo para um jornalista para lançar um balão de ensaio sobre seu projeto maldito de SAF. É possível que não esperasse a enorme repercussão negativa, tanto entre torcedores quanto na imprensa que cobre o Fluminense, incluindo os grandes jornalistas Milly Lacombe e José Illan, que teceram pesadas críticas a praticamente todos os aspectos do projeto da gestão.

Sobre o momento para uma eventual sequência de votações do projeto de SAF, tanto no Conselho Deliberativo quanto dos sócios não poderia ser mais inadequado. A atual gestão do clube está no final desse período para o qual foi eleito, até o final do ano teremos uma nova eleição e o atual presidente não poderá se reeleger. É razoável pensar que falte até legitimidade para uma gestão no seus últimos meses tocar um projeto de venda do clube que terá consequências a longo prazo.

Sobre valores e condições, o que sabemos até o momento com os vazamentos é que a proposta seria de venda de 60% da SAF por cerca de 500 Milhões de Reais, parcelados em até três anos. Esse valor pode ser considerado uma verdadeira fortuna para qualquer ser humano normal, mas considerando que o Fluminense tem tido faturamento nos últimos anos superior a 600 milhões de Reais, cabe a pergunta: que grande diferença faria receber pouco menos de 200 milhões de Reais adicionais pelos próximos três anos? A quantia que está sendo considerada é tão ridícula, que se pensarmos que os donos da SAF teriam a sua disposição todo o futebol, incluindo Xerém, seria até possível o CEO da SAF vender muitos jogadores e pagar as parcelas mais a frente em parte ou no todo com o valor arrecadado nas vendas.

Outro ponto absolutamente inaceitável, eticamente muito questionável e um claro conflito de interesses é a ideia do atual presidente em condicionar a venda da SAF a tê-lo como CEO com salários milionários. A pessoa que, mesmo com receitas crescentes, não conseguiu melhorar nada no clube, nem reduzir a dívida e tampouco montar um elenco competitivo não tem qualquer condição de ser CEO de coisa alguma. Outra questão muito questionável é o banco que avaliou o valor do clube ser o mesmo que compra a SAF.

Embora haja um movimento para não se fazer críticas ao tricolor dono do BTG, meu compromisso aqui com vocês leitores deste PANORAMA TRICOLOR é minha honestidade intelectual. Considero que para este banqueiro com uma fortuna verdadeiramente nababesca, na casa das dezenas de bilhões de Reais, os valores previstos para a SAF são troco de pinga. Não é exagero nenhum esperar e até cobrar que o aporte de dinheiro deva ser equivalente ao seu amor pelo Fluminense. Nem estamos falando em doação, mas de investimento.

Não sou contra uma eventual SAF, mas acredito muito que uma gestão mais responsável e profissional do clube permitiria o Fluminense reduzir progressivamente sua dívida e voltar à sua tradição centenária de ser uma potência tanto no futebol quanto nos esportes olímpicos. Uma vez que o clube esteja saneado financeiramente e competitivo novamente, uma SAF até poderia ser discutida, mas algo que pudesse elevar o clube à classe mundial, muito diferente de vender o clube por qualquer troco, como a proposta atual.

Precisamos estar atentos às propostas dos candidatos que tem se apresentado e, talvez até mais importante, estarmos dispostos a votar nas próximas eleições. Este PANORAMA TRICOLOR reafirma seu compromisso democrático de receber todos os candidatos à presidência para entrevistas, mas nunca com perguntas pré-programadas. Estejam atentos às nossas redes sociais onde anunciaremos as próximas entrevistas.

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