O Fluminense da terceira temporada (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, estamos entrando em junho e o Fluminense já disputa sua terceira temporada em uma.

Há um consenso de que o Fluminense iniciou o ano de 2022 com a Libertadores como prioridade. Diante disso, houve um determinado momento em que chegamos a ter dois times. No Estadual, um time alternativo, que jogava muito melhor que o time titular, conquistando a Taça Guanabara com algumas das melhores exibições do ano até aqui.

Enquanto isso, a expectativa pela Libertadores caminhava para o buraco com um futebol cheio de erros conceituais e escalações extremamente duvidosas, num esquema que nitidamente não funcionava. A gente dizia aqui que o time A era o time da sofrência, enquanto o time B era o da diversão.

Isso foi nossa primeira temporada, que chegou ao fim quando o objetivo se perdeu em Assunção, naquele verdadeiro vexame diante do Olímpia. Era mais que suficiente para que ficasse escancarado o erro na escolha do comando técnico. De repente, nos vimos diante de uma curta temporada de dois jogos, que era prevista, mas quase não acontece, graças a atuações calamitosas diante do Botafogo nas semifinais do Flamengão.

Iniciou-se essa curta temporada marcada pela desesperança, já que não se vislumbrava, fora do Time B, algo passível de derrotar o rival e impedir seu tetracampeonato. O primeiro jogo não mudava essa perspectiva, mas depois de muito martelar, a Dissidência caiu na armadilha tricolor, falhou em sequência e vencemos por dois a zero. No jogo decisivo, com o time mais habituado ao comando de Paulo Henrique Ganso, fomos melhores que os dissidentes e, com o empate, garantimos o campeonato, que não conquistávamos há dez anos.

Estava encerrada, com êxito, a segunda temporada, mas o que tínhamos a percepção clara de que não nos credenciava a voos muito altos. Os tropeços na Sul-Americana nos deixaram em situação difícil na competição. A chegada de Diniz não foi suficiente, inclusive pela atuação em Santa Fé.

O Dinizball começou a aparecer no jogo contra o Atlhético PR, em Volta Redonda. Sumiu em Santa Fé e não foi visto em Fortaleza, com a ressalva da péssima situação do gramado, agravada pela chuva. De qualquer modo, ficávamos com a pulga atrás da orelha, apesar da invencibilidade de Diniz até então.

Tudo começa a voltar a mudar de figura na partida na Bolívia. O 10 a 1 antológico, com exibição de gala, não serviu para nos classificar para a próxima fase da competição internacional, mas nos deixou com a impressão de que algo de bom estava por vir. E então veio o Fla-Flu.

É curioso que após uma vitória por 10 a 1, a sensação da nossa torcida fosse ambígua, mas essa ambiguidade se repetiu no Fla-Flu de domingo. Ora, amigas, amigos, o Fluminense voltou a ser superior à Dissidência em campo. Só que foi muito mais superior do que fora na decisão do Flamengão. Não é de se estranhar que a torcida do Fluminense estivesse eufórica após o jogo, cantando na arquibancada como se vencedores houvéssemos sido.

Existe uma vitória quando perdemos o Fla-Flu por 2 a 1? Sim, existe, a vitória de termos visto evolução no trabalho de Fernando Diniz, mesmo sem ter tido uma única sequência de mais de dois dias para treinar o time desde sua posse. E é essa evolução que dá sentido a essa terceira temporada, porque dela depende nosso êxito nas competições que nos restaram: Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.

Vivemos hoje a primeira semana cheia de treinos de Fernando Diniz. Teremos a segunda na semana que vem. Diniz terá que encontrar soluções para problemas crônicos, alguns que extrapolam a lógica simples das quatro linhas. Yago na lateral esquerda? Pode ser que sim. Não se avalia uma solução com um ou dois testes. Já mostrou que se vira melhor na direita, mas lá Samuel Xavier vem mostrando serviço, o que é maravilhoso para nós, porque resolve o problema daquele setor, já que Yago e até Caio Paulista surgem como alternativas para preencher a posição.

A lateral esquerda é que continua sendo o grande enigma. Enquanto as soluções vão se multiplicando em outros setores, na lateral-esquerda nós só temos mesmo é o problema, que eu acredito que Diniz resolverá com esse tempo que terá para treinar, assim como imagino uma evolução robusta no esquema de jogo com compactação, jogo associativo, busca por maioria em torno da bola em todas as fases do jogo, recomposição defensiva rápida, movimentação inteligente no ataque e muita gente entrando na área para decidir.

Podemos colocar nessa receita a posse de bola ofensiva e defensiva, a pressão no adversário e até a tentativa de verdadeira imposição física em alguns momentos, o que aconteceu pelo menos nos 30 minutos finais do Fla-Flu.

É uma receita perfeita, de time que está disposto a furar o teto das previsões previsíveis, dessas que caem quando a bola rola. E quando a bola rola tenho percebido algo, que não é de hoje, que são as atuações bem abaixo de David Braz. Parece-me problema maior que a insistência de um meio de campo com Wellington, André e Ganso. Acho que deveríamos ter um meia com mais mobilidade atuando mais próximo a Ganso para negociar nossa transição, que seria Martinelli, embora Nonato também tenha esse perfil, mas não vou insistir nas críticas, como voto de confiança.

Vejo Manuel gigante nessa temporada. Merece ser titular. O mesmo acontece com Árias, assim como acredito numa rápida evolução de JK.

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E ainda temos reforço a vista. Michel Araújo está de malas prontas e poderá ser uma peça importante para que Diniz tenha mais opções do meio pra frente. Michel teve uma média de quase meio gol por partida no Oriente Médio, atuando, inclusive, como centroavante. É um jogador com muito potencial, que poderá manter o nível do elenco mesmo com a saída de Luiz Henrique. Com Matheus Martins e JK, acredito que movimentos para contratação de atacantes são desnecessários e não preenchem nossas reais necessidades.

O que precisamos, principalmente, é resolver o problema da lateral-esquerda.

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O que esperar do Fluminense até o final da temporada? Títulos, eu espero. Vai depender dos movimentos que serão feitos daqui pra frente. Diniz é o melhor técnico brasileiro da atualidade. Isso pesa muito. Está conseguindo fazer nosso elenco rodar e algumas peças ressurgirem das cinzas.

Uma das minhas grandes críticas recaíam sobre a má utilização do elenco. Começamos a ver sinais de que isso pode se tornar apenas uma má lembrança, porque elenco nós temos. Ver Matheus Martins, JK e até Caio Paulista ganhando espaço é algo alvissareiro, porque não é só escalação aleatória, mas com qualidade.

De resto, amigas, amigos, teremos mesmo que viver a terrível angústia da espera. Se Diniz tem tempo para treinar, nós teremos mais tempo para esperar entre um jogo e outro. Há, inclusive, o suspense com relação ao que pode acontecer na janela europeia.

Pelos próximos 60 dias será jogo a jogo. Depois, com base no resultado desse período, poderemos fazer projeções minimamente confiáveis.

Saudações Tricolores!