Muito obrigado, Fluminense: viva o gol de barriga! (por Zeh Augusto Catalano)

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Vinte anos passam muito rápido. Meia noite e dez de 25 de junho de 2015. Estou a 1.200 quilômetros de distância de onde ouvi aquele gol. O apartamento da Rua Maranhão, no Méier, onde vivi meus primeiros 27 anos, não nos pertence mais.

Poucos fatos marcam a vida de uma pessoa a ponto de você lembrar de detalhes do momento, onde estava, com quem…

O 11 de setembro. A morte de Senna. Tancredo. Impeachment do Collor. A explosão da Challenger. Quase todos fatos negativos. Pesados. Eternos.

Brasil x Itália, Sarriá. Os títulos do Senna. O pênalti do Zico. O 7 a 1. Serra Dourada. Santo André. Cabañas, América do México. O tetra. O penta. Assis, em 83.

Este Fla x Flu. Este gol de barriga.

BANNER GOL DE BARRIGA 2016

A imagem que me vem à mente é meu pai, com a cara cheia de espuma de barba, dando um enorme sorriso. Quando penso no meu velho rindo, em qualquer circunstância, o sorriso é este. O desse momento.

Hoje, pensando em escrever esse texto, eu tentei entender o porquê disso. A resposta é tremendamente simples. Não estive perto dele em nenhuma das grandes alegrias que o Vasco nos deu. Ou eu estava no estádio ou, já casado, distante dele. De todos estes momentos ímpares, o único que vimos juntos foi a tragédia do Sarriá. Lembro de olhar para ele sem entender o final daquilo. Não havia entendido o que era um ladrilheiro dentro de campo meses antes, e não entendia por que Roberto Dinamite não havia aparecido em campo vendo Serginho Chulapa ter atuações pífias.

Lembro o tanto que me irritou o fato de ser um “golão” e não um gol normal narrado por Garotinho. Este é pra mim o único senão em suas narrações impecáveis. O “golão” parece, em termos de berros, menor que um gol “normal”.

Da cozinha de casa, pelo rádio, não dava para perceber a magnitude do que tinha acabado de acontecer no Maracanã. A importância histórica, de carimbar definitivamente o centenário do “mais querido”, era claríssima. A alegria do meu pai, vascaíno roxo, era compartilhada por todos os cidadãos de bem da Guanabara e do mundo.

Mas como tudo o que cerca o maior do mundo é hiperbólico, suas derrotas fragorosas não poderiam deixar de ser épicas. Três gols do gordo Cabañas. Dois a zero Santo André em pleno Maracanã. Gol de Elvis. Assis no último minuto, com a Globo já transmitindo ao vivo para o Rio – e comemorando a vitória de seu time.

Foi a derrota do maior time do mundo, com o então melhor jogador do mundo, para um time com dois a menos. Muita gente sequer lembra desse “pequeno” detalhe. Só lembram do gol fatal.

Poderia ter sido um pênalti, um bate-rebate deselegante. Um gol comum. Mas não. Um lance inesquecível, concluído de forma única, por um dos maiores fanfarrões da história do futebol brasileiro. E nessa frase não há nenhum demérito ao grande Renato Gaúcho. E sim mais um pouco de azar do mais querido. Um herói obscuro e introspectivo ajudaria a flapress a sepultar no passado esse momento. Quis Deus que a barriga fosse a do jogador mais midiático do país.

E da barriga para a eternidade.

Parabéns, tricolores. E muito obrigado por esta alegria. Meu pai também agradece. O mundo agradece.

(Publicado originalmente neste PANORAMA em 25/06/2015)

Panorama Tricolor

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Imagem: pra

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