Laranjeiras: um aniversário amargo (por Osmar Lage)

No último domingo, Dia das Mães, o Fluminense tinha razões para celebrar uma grande data de aniversário: a inauguração do Estádio de Laranjeiras, em 1919.

Projetado pelo renomado arquiteto Hippolyto Pujol Júnior, o presidente Arnaldo Guinle mobilizou sócios e apresentou proposta para sediar o Campeonato Sul-Americano de Seleções, a Copa América, de 1918, com a construção, sem qualquer ajuda de governo, daquele que seria o maior estádio do continente, totalmente em cimento armado, com capacidade para 18 mil torcedores.

Não foi tarefa fácil pois as obras sofreram atraso relevante por conta da epidemia de gripe espanhola que contaminou e vitimou milhares de pessoas, adiando a competição em um ano. Fruto de um trabalho intenso de sete dias por semana, 24 horas por dia, a nova joia da arquitetura esportiva do país estava pronta para a estreia da seleção brasileira contra a chilena.

Friedenreich fez o primeiro gol do estádio na goleada por 6 a 0 em que os tricolores Marcos Carneiro de Mendonça e Fortes lá estavam. Foi o primeiro título oficial do futebol brasileiro, cuja seleção jogou 18 vezes em Laranjeiras, com 13 vitórias e 5 empates. Invicta, portanto.

Em 1922, Arnaldo Guinle encarou outro desafio. Apesar do governo brasileiro desapropriar terreno para o rival que remava construir estádio na Urca, foi o Fluminense que aumentou a capacidade de Laranjeiras, construindo inéditos dois níveis de arquibancada, para que o país pudesse sediar os Jogos Latino-Americanos, embrião dos atuais Jogos Pan-Americanos, em celebração do centenário da Independência! O evento contou com a participação de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e México. Nesse mesmo ano, nova Copa América e novo título brasileiro no estádio.

Quando enchemos a boca para dizer que “Nós Somos a História”, não estamos soltando uma bravata qualquer. O Estádio de Laranjeiras é o berço do futebol brasileiro. Sem contestação!

Ao olhar para o Estádio hoje, o que sentimos é tristeza e decepção. O descaso de várias gestões nos dá a certeza de que sua incompetência e amadorismo transcendem o limite do absurdo e nos fazem desconfiar se os motivos alegados para tamanha inoperância são meramente pretextos para esconder algo mais obscuro.

Agora, combinem a patética derrota de domingo em Belo Horizonte, com direito a polêmica declaração de Thiago Silva, e um aniversário não comemorado. É natural que se busque um culpado.

Já elegeu o seu?

Saudações Tricolores.