Clichês inevitáveis pelo Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

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Então tá: estamos na marca do pênalti, o momento é decisivo, precisamos vencer de qualquer maneira, o Maracanã vai ferver nesta noite que promete chuva. Vamos enfrentar um ainda candidato ao título, que busca assegurar sua vaga na Libertadores e a maior cota possível no Brasileirão. Somando estes fatores ao nosso momento, é claro que a sexta-feira tricolor tem um componente dramático. Tudo bem, então o que fazer para superar isso?

Uma palavra, há muito sumida do Fluminense e do futebol brasileiro, cada vez mais mergulhado no linguajar pernóstico dos jornalistas, querendo ostentar uma erudição que não existe, precisa ser reabilitada logo mais: garra. É com garra que se supera más fases, maus planejamentos e gestões idiotas. Cabe ao time do Fluminense mostrar garra em campo, tanto para incendiar a torcida quanto para superar um adversário hoje superior.

Agora, que fique bem claro: a torcida não é claque nem vassalagem, como gostariam os Fluotários torcedores de dirigentes. E ela pode até incentivar muito a equipe, ajudar no processo. Porém, quem ganha ou perde é o time no campo com seu treinador à beira da lateral. A torcida depende muito do que o time faz em campo, e não é responsável por atuações ridículas e escalações extraterrestres. Outra coisa: o Fortaleza é acostumado a jogar para grandes clubes e não se sentirá intimidado Maracanã. Portanto, incentivar dentro e fora do estádio é importante, mas vamos parar com a idiotice em colocar a culpa na torcida quando a coisa não vai bem.

O fato do Fortaleza ser superior não torna o Fluminense menor em nada. Já ganhamos do Palmeiras, inclusive. E nossa campanha no segundo turno é média – o buraco veio da campanha pavorosa na primeira parte do Brasileirão, e até hoje estamos pagando o pato disso. O problema básico está na ineficiência do ataque, provocada também pela falta de criação ostensiva – quanto mais chances criadas, mais chances de fazer gols.

Literalmente, à essa altura do campeonato, tudo que a nossa torcida não merecia era voltar a fazer contas, secar adversários e se desesperar com algo que já poderia ter sido solucionado há semanas, mas infelizmente aconteceu. A ganância, a prepotência, a arrogância e a fábrica de acordos pessoais levaram o Fluminense a mais um drama contra o rebaixamento. Todos por aqui já escrevemos e falamos muito sobre tudo isso. Paciência. Hoje é dia de torcer, acreditar e confiar pelo menos em alguns jogadores admiráveis,que sempre respeitaram nossa camisa. A torcida vai fazer a sua parte. Agora é com os onze, ou treze ou quinze que passaram em campo para ajudar a impedir um desastre injusto para milhões de tricolores, mas não para ídolos de araque, veteranos enganadores e dirigentes patéticos.

Por hoje, quase todos juntos logo mais.

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Meu agradecimento a Wesley Machado por seu olhar apurado a respeito do meu trabalho como cronista.

Ser objeto de estudo acadêmico ao lado de nomes gigantescos da crônica esportiva, tais como os de Nelson Rodrigues, Ruy Castro e Armando Nogueira é motivo de alegria, orgulho e realização. Achei que isso só aconteceria postumamente, mas me enganei.

O reconhecimento da academia é uma justa resposta para os caçadores de likes que desdenham da crônica, mas é possível entender essa reação: afinal, salvo raríssimas exceções, os deslumbrados que debocham da audiência do texto escrito o fazem pela pura incapacidade de reunir leitores. É mais fácil posar com tom professoral ou quase esquizofrênico em láives, compreende-se.