O Fluminense parece estar desgovernado em atoleiro, encantado pelas lábias da raposa.
Em uma semana de montanha-russa, com emoções e paixões, o Tricolor viveu o céu e o inferno na mesma partida. O que já vem vivendo nas internets, por conta da saída, em comum acordo (piscadela de olhos entre nós) com a diretoria, de Abel Braga, e o retorno de Fernando Diniz.
Importante lembrar ainda, quando do êxtase no início da temporada, culminando em uma partida bem jogada e decente, contra o Olimpia no Engenhão, que virou abóbora quando da notícia da venda de Luiz Henrique, mais um tributo pago a fim de manter a boa vida de atletas veteranos, cujas carreiras são geridas pelos empresários chegados da gestão.
Marcão, como interino que é, segurou as pontas na partida do Couto Pereira, antes da chegada do novo-velho jogador e treinador do Fluminense, Diniz, que deve tomar as rédeas já nesta segunda-feira. Vai precisar e muito, porque o pensamento de manada e bando impera nas cartilhas tricolores.
Ante o Coritiba, foi a campo a escalação bem próxima a que conseguiu jogar um bom futebol no Carioca, com dois zagueiros, três volantes, Ganso e dois avançados. E funcionou no primeiro tempo, mesmo contando com a sorte. Ganso chutou e Muralha engoliu, depois em jogada de contra-ataque, Luiz Henrique entortou e desentortou seu marcador e cruzou para Ganso, de cabeça, fazer dois a zero.
Na volta do intervalo, Morínigo, treinador do Coritiba, mexeu de verdade na sua equipe, com três alterações e veio para o embate.
André cometeu um pênalti inacreditável, dando um golpe de kung fu em Léo Gamalho, que converteu a cobrança. No lance, o volante recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso de campo por Rafael Claus. O empate veio após um bate-rebate na área, em que a bola sobrou para Andrey emendar para as redes. E a virada foi de uma bola cruzada e recruzada, primeiro da esquerda, segundo da direita, até os pés de Léo Gamalho, o ‘Ibra do Cerrado’, uma virada que escancarou um mar de lodo que é o departamento de futebol profissional do Fluminense, quiçá desde a formação.
Urge, mais do que sempre, a necessidade de uma mudança geral, uma limpa, uma desratização por completo do clube que um dia foi referência do que é futebol em nossa colônia.
Nesse ambiente e com pouca chance de errar, o treinador Fernando Diniz terá de operar um verdadeiro milagre, conseguir andar nesse ambiente que lembra Zaun (periferia de Piltover, no seriado Arcane), mas que merecia ser Piltover, tamanha é nossa história e vocação para inovações e conexões com o mundo.
Porém, do jeito que vem sendo tangido o Fluminense, estamos caminhando a passos largos e apressados para a extinção, de onde seremos apenas lembrados como alguém que um dia foi sem ser. Ai se sêsse.
Se fosse possível intervir pelo menos no planejamento macro do departamento de futebol, de imediato, disputaria a Copa Sul-Americana com equipe alternativa e comandada pelo Marcão, a quem daria autonomia para trabalhar com um grupo secundário, de veteranos encostados e jovens que estão desesperados por uma chance. Com isso daria tempo ao Diniz poder trabalhar a equipe em treinamentos com focos imediatos no Brasileirão e Copa do Brasil.
Permitiria ainda que o técnico pudesse implementar seu sistema de jogo com total poderes para estabelecer seu plantel, além de qualificar com os melhores profissionais disponíveis, todo o entorno da equipe profissional de futebol.
Não convém brincar no Campeonato Brasileiro como certa vez sugeriu Renato Gaúcho, então técnico do Fluminense em dois mil e oito, tampouco deitaria vinho novo em odres velhos. É mais que necessário expurgar as traças e visgos que infestam a vida pública tricolor.
Pois há tempos nos ensinou o treinador italiano Arrigo Sacchi, o ‘Mágico de Milão’: “O futebol é a coisa mais importante, dentre as coisas menos importantes”.