Arias e o conceito de idolatria (por Flávio Souza)

Terminada a inesquecível primeira Copa do Mundo de Clubes da FIFA, estamos de volta à duríssima realidade do futebol brasileiro, com jogos a cada três dias, muitas vezes com deslocamentos de nível continental. Aquilo que os torcedores mais debochados previram que iria acontecer, de fato aconteceu. O auto declarado campeão moral da Copa do Mundo por ter vencido o Chelsea na fase de grupos, acabou de ser derrotado pelo Santos, 13o colocado do Campeonato Brasileiro.

Outra dura realidade do futebol brasileiro também voltou junto com a chegada do escrete tricolor ao Rio de Janeiro: Jhon Arias, o melhor jogador em atividade nas américas, foi vendido para o Wolverhampton, time da quarta prateleira do Europa e fundo de tabela da Premier League por cerca de 22 milhões de Euros.

É absolutamente compreensível e natural que Jhon Arias ou qualquer outro jogador tenha o sonho de morar na Inglaterra e jogar no que é considerado atualmente o melhor e mais rico campeonato de futebol do mundo. O que é de difícil compreensão é a relação de amizade entre o presidente do clube e o jogador, além da mais absoluta falta de transparência praticada pelo clube. Amizade que pressiona o clube a vender o jogador, a despeito do desejo da torcida de que ele permanecesse, ainda por valores possivelmente abaixo do estipulado como multa rescisória em contrato.

Um tema que rodou a internet tricolor é se Arias seria ou não ídolo. Idolatria é algo muito pessoal de cada torcedor, mas também é totalmente relacionado ao tempo de vida e conhecimento da história do clube. Jhon Arias será lembrado por todas as conquistas que participou pelo Fluminense e será ídolo de muitos que viveram essas conquistas. Já para outros, como eu, será lembrado como um dos grandes jogadores que passaram pelo clube.

Ídolo, para mim, precisa daquele algo a mais. Castilho, por exemplo, foi goleiro do Fluminense por 21 anos consecutivos, tendo participado de 698 partidas. Em 1957, depois de uma sequência de contusões no seu dedo mínimo esquerdo, optou por amputá-lo para poder voltar mais rápido a vestir nossa camisa em campo.

Outro exemplo de ídolo para mim é Carlos Alberto Parreira. Já tendo atingido o topo da carreira como técnico ao ser campeão da Copa do Mundo de 1994, Parreira voltou ao Fluminense em 1999, a convite do nosso Presidente Eterno Francisco Horta, para ajudar o clube a sair do buraco da terceira divisão. Conta-se que Parreira teria utilizado dinheiro do próprio bolso para a reforma dos vestiários utilizados pelos jogadores no Estádio das Laranjeiras.

Arnaldo Guinle é outro ídolo eterno do Fluminense. Foi presidente do clube entre os anos de 1916 e 1930 e é o maior responsável pelo colosso que o clube é hoje. Foi reponsável, entre outros grandes projetos, pela contrução do Estádio das Laranjeiras, na época o maior estádio do Brasil com 18.000 lugares. No estádio das Laranjeiras a Seleção Brasileira fez seu primeiro jogo, marcou seu primeiro gol e conquistou seu primeiro título internacional relevante: o Campeonato Sul Americano de 1919.

De novo, idolatria é algo muito particular de cada torcedor, porém é muito importante o conhecimento da grandiosa história do Fluminense. É uma vergonha a atual administração esconder propositalmente a história do clube, tentando fazer o torcedor mais incauto acreditar que nada havia antes do atual presidente.

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