Abel é um homem que transborda emoções. Não à toa, quando veio para o Flu, prometeu dar nova alma ao Tricolor, pois só atinge a alma de alguém a emoção mais pura. Toda essa sinceridade, toda essa paixão, que se mostra no seu olhar esbugalhado, nas bochechas vermelhas, no falar embargado, deram uma nova vida ao Fluminense.
Após a vitória sobre o Botafogo, em tom de galhofa, perguntei a mim mesmo como seria levar um “esporro” do Abelão, uma bronca que tem o poder de mudar o resultado de uma partida, impregnando os jogadores de brio.
Ao assistir à sua entrevista coletiva logo depois do jogo, deu para se ter uma pequena amostra desse “fator motivacional” ao estilo Abel Braga. Nosso simpático treinador mandou todo mundo para “aquele lugar”, mandou todo mundo tomar “no lugar que ninguém gosta”, e perdeu a voz de tanto “motivar” seu grupo. Deu certo.
É assim mesmo que se deve agir quando uma equipe parece estar dormindo dentro de campo. O vestiário é para isso. Mas como manter essa sinceridade explícita de Abelão intra-vestiário? Seria realmente necessário evitar a publicidade dessa conversa acalorada?
Abel é o que é. Tolher sua forma de pensar e agir seria descaracterizá-lo, e nem acredito que alguém tivesse esse poder, nem mesmo seu patrão, o presidente do Fluminense. Abelão é espontâneo, e, embora possa parecer a muitos uma inconveniência, o treinador não diz nada muito diferente diante das câmeras do que diz aos seu comandados.
É essa proximidade, através de uma linguagem popular, do seu jeitão abrupto e do seu estilo “paizão”, que torna Abelão um treinador compreendido e por seus jogadores. E não duvido de que também o amem, porque da mesma forma que dá suas palmadas, também afaga.
Não gosto do perfil “engomadinho” à beira do campo. Um treinador deveria usar o mesmo uniforme do time, como um décimo segundo jogador que atuasse na sua área reservada. Esse é o seu papel: orientar, brigar, incentivar, aplaudir. E Abel Braga faz isso do seu jeito peculiar, e é entendido até por quem não conhece a nossa língua com perfeição.
Portanto, deixemos Abel ser o que é. Ao contrário de alguns que usam as entrevistas para transferir responsabilidades, ele, apesar de toda a sua “brutalidade” com as palavras, só faz proteger seus jogadores.
Abelão foi a mais importante contratação do Fluminense para a temporada, portanto, deixemo-lo trabalhar do jeito que sabe, pois foi assim que conquistou os maiores títulos de sua carreira, um ex-zagueiro que é, como treinador, o que foi como jogador: um bruto que ama.
Panorama Tricolor
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