É terça-feira no Rio, com a doce melancolia do fim de julho. Dia nublado, de chuva a caminho e céu escuro desde cedo.
Raras vezes a natureza carioca refletiu tão bem a desgraçada trajetória política do Fluminense, culminando na pantomina denominada Assembleia Geral Extraordinária com o objetivo de, à base da boiada, aprovar a criação de uma empresa conjunta com o Flamengo para a gestão do Maracanã, desrespeitando o Estatuto tricolor de ponta a ponta no tocante a objetos e prazos.
Tudo feito na cara dos sócios, tratados como idiotas que devem apenas pagar suas mensalidades e acatar todas as sandices do clube, endossadas por seus patéticos Conselhos, que certamente figuram entre os piores da história.
Com uma participação minúscula do eleitorado, a “proposta” foi aprovada. E agora é que vamos descobrir literalmente o que está por trás disso tudo.
Se os tricolores podem, com justiça, comemorar o início da recuperação do time em campo, não se pode dizer o mesmo de sua gestão. Ela é sórdida, mesquinha e completamente alheia aos interesses do coletivo Fluminense. Não é de hoje que despreza a opinião dos sócios, fazendo de tudo para que a participação do mesmos seja mínima. Desnecessário falar do Sócio Futebol, verdadeiro estelionato retórico desta gestão, há cinco anos sem o menor sinal de cumprimento de uma promessa básica.
Há quem ache tudo normal, seja por alienação, ignorância ou má fé. Há quem defenda esse mar de lama, sabe-se lá a troco de quê. A Libertadores e a Recopa são importantes demais para servirem de justificativa para o verdadeiro sarapatel político que hoje reina no clube. Não que seja exatamente um novidade: em várias ocasiões o Fluminense ganhou grandes títulos com dirigentes e conselheiros estapafúrdios, mas realmente em 2022/2023 conseguimos desafiar definições.
A terça-feira nublada e triste logo dará lugar à quinta-feira, dia de jogo e decisão de vaga na Copa do Brasil. Menos mal: é melhor falar especificamente do futebol do que gente que desonra as tradições do Fluminense – e que não deveria ocupar as centenárias instalações do Salão Nobre, mas um cocho.
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Ainda que tudo que cerca o dinheiro do Fluminense seja motivo de dúvidas, pelo menos as novas contratações dão chance do clube obter retorno esportivo e econômico.
Ficou evidente o preço pago pelo Flu ao virar uma espécie de reprise do São Cristóvão em 1983, por um delírio de seu presidente.
Antes que alguém use Thiago Silva como exemplo de veterano que pode jogar em alto nível, basta avaliar o que foi toda a sua carreira.
Ah, sim, a mudança do paradigma de veteranos para jovens no meio da temporada mostra o que muitos já sabiam: que o planejamento era nenhum.