A filosofia de trabalho do Fluminense (por Flavio Souza)

O mundo esteve encantado pelos chamados Galáticos do Real Madrid, na sua segunda edição a partir de 2009, que teve como técnico o português José Mourinho e entre suas linhas jogadores como Cristiano Ronaldo, Kaká, Benzema, Xabi Alonso, Di Maria e outros. Esse time chamou muito a atenção em uma época que o Barcelona dominava o futebol espanhol, mas que também foi criticado por não ter alcançado os resultados esportivos de acordo com o volume do investimento.

Infelizmente o futebol brasileiro não tem a dimensão de La Liga e nem tão pouco o Fluminense tem a capacidade financeira minimamente próxima a do Real Madrid. Então nossa realidade financeira nos impele a montar times mesclando bons jogadores com outros medianos, jogadores jovens com outros mais experientes e assim por diante.

O Fluminense é reconhecido há décadas como tendo ótimos resultados em Xerém, seja pela performance e grandiosidade de títulos dos times de base, seja pela quantidade e qualidade dos jogadores que são rapidamente disponibilizados para o futebol profissional. A lista de jogadores que tiveram origem na nossa base e que brilham hoje em outras equipes é grande: Gerson e Pedro no Flamengo, Scarpa no Atlético-MG, Luis Henrique no Botafogo, Richarlison no Tottenham e Evanilson no Porto, dentre outros por exemplo.

A situação hoje no Fluminense é, no mínimo sui generis: temos excesso de jogadores veteranos no elenco (Marcelo, Ganso, Felipe Melo, Cano, Fábio, Manoel, Renato Augusto, Diogo Costa, Thiago Santos), vários jogadores medianos contratados de fora do clube (Guga, Diogo Barbosa, Lima, Terans, Gabriel Pires), poucos jogadores bons contratados (Arias e Marquinhos), alguns bons jogadores da base já utilizados no time profissional (Martinelli, André, Alexsander, JK) e uma lista enorme de jogadores da nossa base que precisamos ver mais jogando (Felipe Andrade, Luan Freitas, Isaac, Calegari, Arthur e Kauan Elias).

A falta de intensidade e as quedas de rendimento que o time vem demonstrando na segunda parte dos jogos são indicativos de que, no mínimo, o time se ressente de mais juventude e energia em campo. Além disso seria extremamente benéfico utilizar nossos jogadores da base combinados com os veteranos para que ganhassem rodagem e experiência.

Mas infelizmente o que observamos no Fluminense é que os jogadores que vieram de fora, mesmo quando são medianos, têm preferência do treinador para serem escalados. Guga, Diogo Barbosa, Lima e Thiago Santos são exemplos. Temos jogadores da base que têm capacidade técnica e física para atuarem nas mesmas posições, mas que nunca são escolhidos e a comissão técnica nunca dá explicações. Parte da nossa torcida também age de forma diferente com nossos jogadores de Xerém, sendo tolerante com erros dos contratados enquanto detona os jogadores da base por qualquer falha, por menor que seja.

Sabemos que nossas finanças dependem de venda de jogadores para nossa sobrevivência, mas não conseguiremos retorno esportivo nem financeiro de jogadores que nunca jogam. Exemplo claro desse problema é o Jefté, que é um lateral esquerdo de 20 anos da nossa base que foi emprestado ao Apoel da Bélgica com valor de passe fixado em 400K Euros e que está sendo disputado pelo Rangers da Escócia. Enquanto isso, o único substituto para o Marcelo de acordo com nosso treinador é o mediano Diogo Barbosa.

Temos exemplos de times brasileiros, como o Palmeiras, que têm tido muito retorno esportivo e financeiro da sua base. O que motiva o Fluminense a fazer diferente?

Precisamos acordar para esse problema.