E depois do AeroFlu, o que virá? (por Paulo-Roberto Andel)

Vivemos um lindo e inesperado sonho. Lindo.

De desprezado, o Fluminense se transformou em um dos protagonistas do Mundial de Clubes. Viveu dias de brilho intenso, ridicularizou fanfarrões da imprensa e foi admirado pelo mundo.

Ainda teremos mais um último capítulo de beleza: o encontro do time tricolor com seu povo no aeroporto, garantia de festa inesquecível. Celebremos.

Contudo, o tempo não para e a vida segue. Há novos e velhos desafios à frente que precisam de atenção.

O sarrafo ficou mais alto. A exigência também. O novo padrão no imaginário tricolor está nos jogos contra Dortmund, Internazionale e Al Ahli. Brigar pelo título da Sul-americana é obrigação.

O sucesso no Mundial não escondeu a necessidade de reforços e de melhor aproveitamento da base tricolor. Os gols de João Pedro ajudam na reflexão: ganhamos um bom dinheiro, mas quanto ganharíamos se sua saída não tivesse sido tão precoce?

Fora de campo, há um completo desalinho entre o discurso oficial e a realidade prática das contas do clube. O argumento de reconstrução do Fluminense se derrete, quando sabemos que centenas de milhões arrecadados nos últimos anos não amenizaram um único centavo da nossa dívida de curto prazo.

Portanto, terminada a maravilhosa celebração do AeroFlu, virá uma nova fase para o Fluminense que, espera-se, tenha êxito nos gramados mas exige dos torcedores uma atenção especial, principalmente para os eleitores do clube.

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Thales Machado é bom jornalista, tem bom texto e recentemente publicou em O Globo uma ode à campanha tricolor no Mundial.

Uma ode que cabe em O Globo por motivos óbvios, mas que jamais caberia neste PANORAMA.

Longe de querer ser vigia da poesia alheia, opino a respeito.

A leitura menos criteriosa da coluna leva ao entendimento simples de um Fluminense que superou a tudo e a todos, fazendo bonito. Contudo, o que em minha opinião chega a ser desastroso no bom texto é a comparação do Fluminense a seleções que eram inexpressivas na história das Copas do Mundo, quando então se destacaram.

Uma comparação descabida a meu ver.

Muito antes do meu e do seu nascimento, o Fluminense já era campeão mundial de clubes. E o fez aos 50 anos de vida, depois de ter inventado os campeonatos no Brasil, os regulamentos, a torcida, o ídolo, a Seleção Brasileira, o primeiro estádio de futebol fora da Europa e até a música popular, consagrando Pixinguinha. Três anos antes de ganhar o mundo, o Fluminense se tornou o único clube de futebol a conquistar a Taça Olímpica, por sua excelência esportiva.

Quando o mundo se rendeu ao futebol brasileiro entre as Copas de 1958 e 1970, o Fluminense teve presença decisiva. O maior jogador da Copa de 1958 foi forjado por anos no Fluminense: Didi. Falemos de nomes como Castilho, Jair Marinho, Altair, Félix, Marco Antônio, Rivellino, Gerson, Paulo Cezar Caju e Carlos Alberto Torres: todos são nomes históricos do clube em algum momento.

Não há dúvidas de que o jornalista é bom e que o texto teve a intenção de valorizar o Fluminense. Porém, seu argumento central é profundamente falho. É um erro que jamais seria cometido aqui. O Fluminense chegou ao Mundial com humildade, mas com uma história gigantesca, muito maior do que as dos finalistas Chelsea e PSG, hoje consagrados por patrocínios bilionários – há 60 anos o PSG sequer existia.

Seria assustador que o presidente do clube compartilhasse a coluna de Thales como uma lição sobre o Fluminense. Mas, pensando bem, faria sentido.

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