Viver e vencer (por Felipe Fleury)

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Peço a permissão dos amigos para dividir a minha coluna de hoje em duas partes, uma delas em nada, mas em nada mesmo relacionada ao futebol. Infelizmente.

Escrevo esta coluna antes da partida do Fluminense contra a Chapecoense, apenas para que o texto, quando lido, seja inserido no contexto temporal adequado.

Perder propositalmente jogos contra equipes que disputam uma vaga fora do Z4 com o Vasco, apenas para prejudicar o rival carioca e decretar o seu descenso, não me passa pela cabeça.

Agir dessa forma seria atirar no lixo a própria dignidade, rebaixando-se ao mais vil dos comportamentos. Se já não há, no mundo que nos cerca, muitos exemplos de altivez de condutas, não seremos a colaborar para que a má-fé e a indignidade prevaleçam no futebol.

O jogo deve ser jogado dentro de campo, sem prévios acordos, sem manipulações. Fazer “corpo-mole”, assim, não deixa de ser uma forma de manipular o resultado de uma partida.

E o Fluminense, pela sua grandeza, pela sua história, deverá sempre buscar a vitória, mesmo que essa possa, de alguma forma, auxiliar o seu maior rival. É da natureza do clube, algo que não pode ser modificado.

Como salientado, porém, o Fluminense fará isso por ele mesmo e por sua rica e valorosa história. Não fará porque deveria “favores” ao Vasco. Bravata pura de dirigentes à beira do abismo que, desconhecendo a fidalguia tricolor, imaginam que o time poderia entrar para não vencer jogos que são fundamentais à sua permanência (dele Vasco) na primeira divisão.

São incautos, por certo. Ganhariam mais se tivessem permanecido em silêncio, pois, em primeiro lugar, o Fluminense nada deve a ninguém – Pagar o quê? está aí para ser lido e compartilhado – e, em segundo lugar, o Tricolor não se coaduna com negociatas escusas e outras parvoíces típicas de quem não nasceu em berço esplêndido.

Fluminense é sinônimo de boa-fé e dignidade, caso contrário não é Fluminense.

Assim, aos desavisados vascaínos que procuraram cobrar a inexistente dívida do Tricolor, que fique bem claro que o Fluminense pode não vencer Chapecoense e Avaí, afinal de contas, já passou por péssimos bocados neste campeonato, mas não faltará vontade de superá-los.

As bravatas de São Januário, portanto, não nos atingem. Trata-se de mera tentativa de transferência de responsabilidade por um ano pífio – e aí a prova de que o campeonato carioca foi arranjado – algo típico de vetustas figuras que já deveriam ter abandonado o futebol há tempos.

Façamos a nossa parte e que o Vasco faça a dele.

Agora a parte estranha ao futebol, mas que precisa ser lembrada, que precisa ser tocada como uma ferida dolorosa, para que a dor lancinante não deixe esquecer que a vida é um direito supremo, está acima das leis dos homens, e deve ser respeitada sempre.

Já me manifestei em mais de uma oportunidade aqui no Panorama Tricolor sobre aspectos criminais dessas condutas, por isso hoje falarei apenas sobre seu aspecto humano, ou melhor, desumano.

Não faço pré-julgamentos, nunca os fiz. Por isso, sem provas contundentes, não farei qualquer digressão sobre a atribuição de responsabilidades sobre o nefasto evento que vitimou de morte o torcedor vascaíno antes da partida entre Flu e Vasco no último domingo.

A culpa, na verdade, é da humanidade, que se definha, se diminui, se destrói a olhos vistos, e que nos dá sinal disso diariamente, desde as redes sociais até os noticiários internacionais.

O que difere um indivíduo que dá uma paulada na cabeça de um rival clubístico daquele que corta a cabeça de um descrente na sua religião? Os seus propósitos? Não. Na verdade, penso que nada os distingue. Ambos estão contaminados pelo vírus da desumanidade, do desamor, são ausentes de tudo. Guiam-se por sinais e grunhidos, protegem-se em bandos e atacam sem ter fome. Matam por matar.

A polícia mata, o bandido mata, o religioso radical mata, o marido traído mata, os inimigos se matam. Banalizou-se a morte. A vida não vale mais nada. Tornou-se um saco vazio esperando ser novamente enchido de amor, respeito e solidariedade, mas que de tão frágil é levado por qualquer lufada de vento. E talvez não se encha jamais.

Que Deus tenha piedade de nossas almas e proteja os nossos filhos.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FFleury

Imagem: pra

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