Um Flu e Santos de antigamente (por Paulo-Roberto Andel)

Faz muito, muito tempo.

Eu era um garoto.

A cidade era uma festa, tinha acabado de ter o Rock in Rio. Nós nos sentíamos no topo do mundo, fazia sentido.

O Fluminense ganhava tudo. Começava a temporada de 1985 depois do apoteótico bicampeonato carioca com o golaço de Assis, mais o espetacular titulo brasileiro. Era um natural favorito a mais uma conquista.

O Santos era o campeão paulista de 1984 e, no banco, seu comandante era ninguém menos do que Castilho, o maior ídolo da história tricolor.

Um joguinho gostoso para sábado à noite, início do Brasileirão. Maracanã com reformas, a geral mais alta, fui pra lá. Uma diversão só. Sozinho, como tantas vezes fiz, com meu radinho, par de chinelos e a grana do lanche. E pensar que, dois anos e meio antes, a torcida do Flu fazia até velório na geral, com direito a presença do eterno presidente Francisco Horta. Leia-se protestos todos liderados pelo Gonzalez, justos e merecidos.

O Santos saiu na frente e ganhou o primeiro tempo. Tinha jogadores de arrepiar: Lino, Humberto e Mário Sérgio. Zé Sérgio, senhor, era um monstro. Nosso grande reforço era Deley de volta, depois de uma briga por renovação de contrato que levou quatro meses. No mais, era o time da grande temporada anterior, cheio de feras. Ah, sim, dominamos boa parte do primeiro tempo mas não fizemos o gol, então eles se aproveitaram de uma rara falha do Paulo Victor.

Logo no começo do segundo tempo o Vica empatou o jogo. Depois o Assis virou, pra variar. Vencemos, sem convencer mas com autoridade, mas saímos do Maracanã felizes. Quase trinta mil tricolores num sábado à noite de estreia da temporada, algo que poucas vezes se repetiu. Depois eu voltei pra Copacabana, lanchei meu cheeseburger no Sumol e me sentia um adolescente imbatível, cheio de orgulho da seleção que vestia a camisa do meu time.

O Flu não brilharia no Brasileirão e nem na Libertadores, mas o Carioca de 1985 seria nosso com histórias fascinantes. Era a sina tricolor de ganhar alguma coisa a todo instante. Era o time do tri: quem viu, viu. Para minha sorte, vi demais. Que tempos!

Logo mais, os garotos de 2022 vão sonhar com o Flu caminhando para a disputa do título. Jogo na TV, na internet e no rádio. Ok, nem a geral existe mais. Ainda é cedo para comemorar qualquer coisa, mas os jovens têm direito até à precipitação. Podemos seguir em frente, vamos ver o que o fim do ano nos reserva.