Três lados do Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

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LADO 1

Esse negócio de tirar férias é ótimo, nem que seja apenas do mundo virtual. E só quando você está de bobeira, com seu tempo à vontade, é que percebe quanto tempo inútil gasta na rotina do ano.

Por exemplo, justamente nesta época de janeiro, ao cair na imprudência de procurar notícias consistentes sobre futebol.

Cerca de 95% delas não passam de especulações para encher a linguiça de redações e estúdios. Quem fizer uma pesquisa aos velhos jornais dos últimos trinta anos, especificamente entre o final de uma temporada e o começo da outra, vai rolar de rir com a quantidade de mentiras que os sujeitos inventavam – e inventam! – só para ter o que publicar.

A maior de todas as habituais cascatas: reforço, na acepção da palavra.

Trazer um cara e apontá-lo como reforço só faria sentido se ele fosse realmente melhor do que o jogador que viria a substituir. Para ser titular. É diferente de perder uma peça e colocar outra como mera reposição.

Pare para pensar, volte no tempo e reflita: de todos os sujeitos que você leu ou viu como reforços para o nosso time, quantos deles realmente emplacaram?

Vou lembrar de alguns aqui, a partir de 2001 em diante e do nosso Fluzão.

Viveros, Sidney, Maurício Fernandes, Fabinho, Andjel (não tem nada a ver comigo!), Malzoni, Fabio Melo, Bismarck, Jorginho (do tetra!), Zada, Marquinhos Careca (lateral), Ademilson, Josafá, Augusto, Lopes, Rissut, Angelo, Evando, Djordcevic, Milton do Ó, Odvan, Igor, Pedrinho, David, Rafael (lateral), Fabinho II, Ivan, Soares, Wellington Monteiro, Diego (goleiro), Ygor, Uendel, Ciel, Gustavo Nery, Leandro Amaral, Eduardo Ratinho, Ruy Cabeção, Urrutia, Xandão, Everton Santos, Roger 9, Gerson (lateral), Belletti, Willians, André Luiz (zagueiro), Leandro Teixeira, Leandro Bonfim, Araújo, Edcarlos, Fábio Neves, Adeílson, Kieza, Souza (desgraçado), Márcio Rozário (Camburão) Carleto, Martinuccio, Anderson (zagueiro maldito), Rhayner, Marcelinho das Arábias, Chiquinho, Felipe Garcia, Fabrício Shortão, Jonathan, Osvaldo, Felipe Amorim, Victor Oliveira, João Filipe, Guilherme Santos.

Numa lista rápida de cabeça, sem Google, 68 nomes. Descontei aqui situações óbvias como as da “Máquina 2004” (Roger, Ramon, Edmundo e Romário), bem como outros que poderiam ter dado certo se não rolassem estranhezas – um caso típico era o de Equi González. E também jogadores da base, deixando apenas contratados. Forçando a barra, com alguma pesquisa, chegar a 80 ou até 100 nomes não teria sido surpresa.

Mais de seis times em vão.

Não falei de trinta e tantos treinadores, mais de dois por ano na média.

Sinceramente?

Olhando hoje para o histórico recente, Orejuela, Sornoza e Scarpa dão de 100 nesses mais de 60 acima, com mais um bônus: são jovens. Houve um tempo em que o Fluminense todo ano se “reforçava” com astros de 36 anos. Se não for um Romário, amigo, amiga, é para esquecer.

Temos goleiros.

Acho que o Renato Chaves merece disputa de vaga. Outro que foi bem, ainda que com poucas atuações, foi o Nogueira. Ok, gastou-se uma nota preta nesse Henrique, o cara até melhorou, bota ele. Colocando um blocão com garra à frente da defesa, a coisa melhora.

As laterais são problemáticas. Para ontem. Se o Léo der certo na esquerda, excelente.

Henrique Dourado desafiou definições de paciência em 2016 – a minha, muito. Mas é o que temos por ora. Eu tenho muita dificuldade em acreditar, mas vou torcer pacas e acharei sensacional que alguém me diga, “Você disse que o cara era um traste, mas ele emplacou” e logo responderei “Porra, vá cobrar do sabichão da internet, eu sou apenas torcedor e escritor”. Vai que o cara vira uma torre estática eficaz e recebe todos os passes, acertando duas finalizações por partida? Tomara.

Na frente tem Wellington, com as papagaiadas mas a técnica também, o Richarlison (será?) e o Pedro, além do eterno Marcos Júnior.

Não há dinheiro. As loucuras dos últimos anos custaram caro.

É time para ser campeão? Não. Mas desde quando o Flu começou uma temporada como favorito? Em 1975, 1976 e 2013 (…). De resto, sempre foi desprezado.

Completamente longe de ser meu – e provavelmente nosso – time dos sonhos, mas será que é tão diferente – para pior – de Atlético-PR, Botafogo e Ponte Preta do ano passado, que terminaram entre os oito do Brasileirão e, consequentemente, à nossa frente?

Não, não é. Mas está abaixo das expectativas naturais da nossa torcida, por motivos óbvios.

Vamos torcer, vamos apoiar, mas que venha uma digna contrapartida. O que faltar em talento terá que ser muito compensado com garra e atitude.

LADO 2

“Não há dinheiro. As loucuras dos últimos anos custaram caro”. Você leu isso no bloco anterior.

Se assim é, e tudo indica que é mesmo, parece natural que o Fluminense passe por uma completa reestruturação financeira, já que suas manchetes econômicas do ano passado e retrasado não se sustentam por ora. Ainda por negociar a nova marca de material esportivo e um patrocinador, os tempos são naturalmente difíceis.

Mas já que é o caso de pés absolutamente no chão, que seja por completo, em todos os setores do clube, e não somente no Custo Futebol, ainda que este seja o maior de todos.

O pessoal começou a trabalhar agora e seriamente, sem dúvidas. Sejamos minimamente racionais. Mas atenção permanente é tudo.

LADO 3

Li há pouco tempo uma ótima entrevista do economista Luiz Gonzaga Belluzzo e, nela, achei uma frase genérica que vale exatamente para este momento do Fluminense, para todos os tricolores, e especialmente para um ou outro deslumbrado, oh!, se acha mais importante do que realmente é:

“A gente sempre precisa achar que a gente sabe menos do que acha que sabe.”

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap

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6 Comments

  1. Wellington Monteiro e Osvaldo empatados como piores de todos os tempos. Mesmo eu sabendo menos do que acho que eu sei.

  2. Perfeito, assino embaixo. Só falta a diretoria assumir que a “melhor administraçao que o Fluminense já teve “, foi na verdade catastrófica.

  3. “A gente sempre precisa achar que a gente sabe menos do que acha que sabe.”

    Para jornalistas, então, deveria fazer parte dos dez mandamentos.

    Promessa de comparecer a uma sessão de chopp na Cruz Vermelha em breve.

    ST

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