O “tiki-taka” do Fluminense (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, o que vimos em campo na última quinta-feira foi o Fluminense ou o Barcelona? Brincadeiras à parte, não dá para não reconhecer algo muito bom e muito positivo quando vemos, e foi exatamente o que aconteceu em Bacaxá. Com a entrada dos jogadores que foram regularizados, o time começou a tomar uma cara para o que será no resto do ano. É claro que comentar resultado é muito fácil, mas sendo bem honesto, os quatro gols impostos ao Americano não foram o que mais me impressionou nessa partida, e sim a maneira como a equipe atuou. O índice de acerto de passes subiu abruptamente, e o que vimos foi um futebol muito bem jogado, marcação apertada do início ao fim, consciência defensiva e subidas para o ataque muito mais verticalizadas que num passado recente. A estreia de gala de Yoni “Speedy” González e a atuação surpreendente de Daniel, jogando à là Deco, foram, é claro, determinantes para um placar elástico, mas não foi apenas isso.

Fernando Diniz deu uma mostra do que pode ser o “tiki-taka” tricolor se tiver tempo para treinar o time e tiver a paciência da torcida a seu favor. Digo isso porque vimos que ele dá liberdade pra que os jogadores deem chutão quando for necessário, mas afirma que esta é uma jogada de exceção, e que o toque de bola preciso, a posse de bola e a participação do time inteiro são os pontos fortes de seu estilo de jogo. É importantíssimo, também, notar que esse é um esquema tanto ofensivo quanto defensivo, embora seja muito melhor que o Fluminense de Diniz sempre abra o placar, já que é muito mais fácil controlar o jogo e fazer o tempo passar jogando dessa maneira. O “tic-tac” dos ponteiros do relógio acaba pesando a favor quando se tem a bola, o resultado, e um esquema tático que privilegia a administração da partida. Quando precisar furar defesas, o time precisará de uma variação tática adequada, nem que seja cruzar mais bolas para a área. Essas opções precisam ser exploradas.

Contudo, nenhum esquema tático funciona sem jogadores de qualidade. Com Bruno Silva e Yoni González sendo as mudanças principais – e contando com uma atuação até aqui não vista de Daniel – o Fluminense foi outro em termos de eficácia. Além dos quatro gols, ainda metemos bola na trave e demos trabalho ao goleiro do time de Campos. Ainda entraram Caio Henrique e Matheus Gonçalves durante a partida, embora não tenham tido tempo de apresentar suas credenciais. É claro que ainda falta muito. Foi apenas um jogo, uma goleada e contra um time de menor investimento. Precisamos testar esse modo de jogar à exaustão e fazê-lo funcionar contra os grandes. Além disso, contratações ainda terão que ser feitas para realmente qualificar a equipe, sendo o setor de meio-campo o mais carente, como estamos cansados de saber. A novela Ganso não parece que terá um final feliz, com o Sevilla endurecendo mais do que o necessário. Nenê também não vem. Há de se procurar alternativas.

Hoje temos um compromisso contra o time da Portuguesa no Maracanã, no horário das 17 horas, o que significa que certamente passará na TV aberta. Isso enfraquece a presença de público infelizmente, tão necessária para evitar novos prejuízos enquanto Laranjeiras não é restaurada. Mas não há muito o que fazer. A Portuguesa só fez um ponto em dois jogos contra pequenos e perdeu do Americano jogando em casa. Logo, a obrigação do Fluminense é de ganhar – e ganhar bem. A vitória do Volta Redonda sobre o Madureira ontem colocou uma certa pressão em cima de nós, pois empataram em pontos com o Flu. Como o time da Cidade do Aço já enfrentou tanto Vasco quanto Fluminense, a perspectiva é que possam somar mais pontos a partir de agora, e como ainda vamos enfrentar o time de São Januário, é bom colocarmos as barbas de molho. Mesmo a vitória contra a Lusinha não nos encaminhará à classificação antecipada, pois a distância de três pontos é perigosa. Qualquer empate entorna o caldo.

Assim, é de suma importância que Diniz repita o time que enfrentou o Americano – o que deve ser a tendência – e, principalmente, o modo de jogar. A Portuguesa não tem nada a perder, mas talvez seja um bom negócio para eles levar um ponto do Maracanã pensando na briga para não cair. Podemos esperar um ferrolho defensivo que, se superado precocemente, pode levar a uma nova goleada. Ver o Fluminense voltar a jogar de uma maneira contundente, consistente e empolgante me traz muita felicidade. Saber que o natural será isso se manter e melhorar com os treinamentos e com a chegada de reforços me dá uma nova esperança para um ano que eu achava que seria de sofrimento. É claro que pensar a longo prazo é importante, mas começar 2019 faturando a Taça Guanabara não seria nada mau. Sem vencer o Carioca desde 2012, já aguardamos na fila há sete anos para poder zombar dos rivais nem que seja um pouquinho. Já sofremos demais e merecemos essa alegria. Vamos buscar a taça!

Curtas:

– A dancinha de Yoni González me remeteu ao futebol de antigamente, com irreverência e alegria, que cada vez menos fica aparente nos dias de hoje. Que siga metendo seus gols e desfilando sua malemolência com a camisa tricolor.

– A janela fecha em menos de uma semana, e nada do Fluminense trazer pelo menos um meia para fazer sombra a Daniel e Caio Henrique, que dirá um para ser titular. Fala-se em Guerra, que estaria insatisfeito no Palmeiras, entre alguns outros nomes, já que as outras tratativas estão prestes a melar. Que a diretoria consiga agir rápido e trazer mais dois jogadores de qualidade para a posição. Diniz e a torcida merecem.

– Se fosse o Deco no lugar do Daniel em Bacaxá, estaríamos vendo muita gente reafirmando o talento do craque. Até aqui não tinha visto essa qualidade toda no nosso prata da casa, mas nessa partida ele arrebentou. Espero que mantenha o nível, principalmente se não tiver concorrência.

– Nas próximas semanas veremos o desfecho da novela em que se transformou o caos político do Fluminense. Entre assembleias gerais, renúncias e novas eleições, o importante é que nada disso afete o desempenho do time dentro de campo. E que o novo presidente – se houver um – faça tudo de uma forma diferente do que foi feito até agora, em todos os aspectos. Recuperar a credibilidade do Fluminense é essencial para voltarmos a ser respeitados. O caso Sornoza (e agora o caso Ibañez) deram a tônica do amadorismo dessa gestão. Chega!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

1 Comments

  1. Acabei percebendo que não falei nada sobre os compromissos contra Madureira (quarta) e Vasco (sábado), então deixo aqui meus dois centavos:

    – Madureira: endureceu contra Vasco, Portuguesa e Volta Redonda, mas só levou um ponto. Não será jogo fácil porque eles lutam pra somar pontos e não caírem, e o time de Diniz atua melhor em campos menores pelo que já notei. Mas o horário da partida diminui o calor. Dá pra vencer bem, jogando sério.

    – Vasco: primeiro teste real até aqui. Pode dar…

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