Te amo tanto que te vejo em tudo (por Paulo-Roberto Andel)

Ultimamente eu não tenho o menor motivo para comemorar nada. Aliás, nunca fui de comemorações nem quando havia uma razão. E assim estava nessa tarde de terça, ainda sob o efeito do nocaute de sábado passado.

Se fosse prevalecer a lógica, os números, os scouts e os últimos jogos, o Fluminense estava encaminhado para um fiasco. Porém, todos esses elementos são poucos quando o assunto é futebol.

Permitam-me o descrédito. É que eu ando cansado. São quase dez anos sem grandes títulos. Eu não posso esperar a vida inteira. Quase nunca passei por isso.

Feito de paçoca esmagada na final do Carioca, o Fluminense viajou para a Argentina e, para a surpresa de TODOS – que ninguém seja calhorda de dizer que já sabia -, conseguiu uma das grandes vitórias de sua história. Bateu o River Plate no famoso Monumental de Nunez, o mesmo River que já comemorou muito as vitórias do Flu sobre o Boca Juniors – porque um time grande pode ganhar o mundo, mas jamais desprezará sua aldeia, seu território natal.

Nosso time fez seu melhor primeiro tempo desde antes da pandemia. Uma partida de placa. No segundo tempo, segurou as pontas apesar do rogerismo. Acabou que deu tudo certo e o Tricolor está entre os grandes na primeira divisão da America.

Eu queria demais uma homenagem à memória de meu pai na final do Carioca. Veio uma imensa decepção, mas o futebol é muito diferente da vida: enquanto esta raramente oferece uma segunda chance, aquele sempre tem uma nova oportunidade a cada três ou sete dias. E a tristeza de sábado virou uma alegria descomunal nesta terça-feira.

É que o Fluminense foi o velho Fluminense, foi completamente Fluminense, foi Fluminense de carne e osso, de nervos e músculos, foi o Fluminense da elegância sutil de Bobô nos versos de Caetano.

Por uma noite, o Fluminense lavou a alma de sua torcida. Ele foi o Pink Floyd em Venice e quebrou as vidraças com a potência de seu som. Se assim não fosse, como derrubar o poderoso River Plate em sua casa monumental?

O que virá a partir de agora, não dá para prever. Pode ser a arrancada para um título admirável ou apenas um grande lampejo. Pode ser apenas um momento ou o começo de uma estrada de glórias. Mas dá para dizer que, independentemente dos desdobramentos, a vitória sobre o River Plate ganhou o coração dos pequenos tricolores para sempre. É um feito tão grande quanto aquelas vitórias fantásticas sobre São Paulo e Boca Juniors em 2008. Daqui a dez, vinte ou trinta anos falaremos deste jogo.

Que bom quebrar a cara nesta terça-feira. Que bom achar que seria muito difícil e ter sido uma vitória até simples, embora sofisticada. Que bom ver que o time se encheu de brios por conta das críticas da torcida, em vez de cair na ladainha dos bajuladores de plantão. Eu, que já vi, ouvi e escrevi tanta coisa, tanta virada, tanto gol no último minuto, não tenho o direito de duvidar do Fluminense. Sou humano, erro.

E que bom saber que as críticas mexeram com o time de alguma forma, trocando o ridículo de sábado pela apoteose desta terça.

Os garotos do passado foram arrebatados pelo Fluminense com as vitórias monumentais dos tempos de Barthô, depois Preguinho, depois Castilho e Didi e Telê, depois com a longa jornada do fim dos anos 1960 ao meio dos 1980. Em cada um daqueles grandes momentos, a nossa torcida se encheu de orgulho e felicidade com títulos e vitórias inesquecíveis. Há muito tempo não vivíamos uma noite brilhante como essa de Nunez, e tomara que ela seja o início de muita coisa boa. Agora, mesmo que não seja, não tem mais como ser esquecida. Nesta quarta é a vez da La 12 dar o troco das piadas. E Fred, Nenê, Caio Paulista, Marcos Felipe, Ganso, Kayky e todos serão lembrados para sempre neste jogo, dentro e fora de campo, que não foi apenas uma vitória sobre o grande River Plate em sua casa e aniversário de 120 anos, mas sim um reencontro do Fluminense atual com seu passado.

Eu só queria uma homenagem à memória de meu pai ou abraçar meu irmão depois dessa vitória. Ver minha mãe feliz por eu estar feliz. Nada disso foi possível mas a Marina ficou bem contente. O Catalano me escreveu dando os parabéns. Meu amigo Marcos Lobato, rubro-negro genial. O Gustavo mandou mensagem de São Paulo. Não é uma noite comum. É o Fluminense de mãos dadas com uma vitória que até a Fifa celebrou.

Cada um entende o que é o Fluminense de um jeito. O meu, aprendi quando meu pai comprava alguns ingressos e dava para os garotinhos pobres que pediam trocados na bilheteria do Maracanã em fins dos anos 1970. Eu me lembro disso como se fosse agora. Eles ficavam de olhos arregalados com os ingressos na mão, quase não acreditando no sonho de subir a rampa e flutuar no meio da nuvem de pó de arroz. Mais de uma vez, eu e meu pai os vimos pulando depois de passar a roleta, felizes, risonhos, às vezes sem chinelos, quase sempre com camisas rasgadas, mas com um amor enorme pelo Fluminense que, se pudesse ser expresso em palavras, seria algo como “Te amo tanto que te vejo em tudo”. É aquela felicidade que persigo até hoje.

Depois deste jogo contra o River Plate, eu voltei a ter dez anos de idade, subi minha rampa, sentei no velho degrau de cimento e fui o garoto mais feliz do mundo. Que noite!

5 Comments

  1. Lindo ,arrepiante,emocionante na vdd só arrepia ,levanta o pelos quem realmente é Fluminense ,nunca duvidamos desse clube tantas vezes campeão ,o Fluminense é o único q sai de um Fla x Flu derrotado humilhado pra maior vitória dos século ,se river fez história semana passada ,essa semana o Fluminense foi nós que fizemos história ,com elogios da FIFA e nosso maior ídolo da atualidade e o msm elogiando o segundo lugar do bravo time de 120 anos River plate ,mas em tom o primeiro lugar é nosso ….enfim dormimos felizes e acordamos sábendo q não foi um sonho ……nunca duvidem do Fluminense meu…

  2. Lindo ,arrepiante,emocionante na vdd só arrepia ,levanta o pelos quem realmente é Fluminense ,nunca duvidamos desse clube tantas vezes campeão ,o Fluminense é o único q sai de um Fla x Flu derrotado humilhado pra maior vitória dos século ,se river fez hisy semana passada ,essa semana o Fluminense história ,com elogios da FIFA e nosso maior ídolo da atualidade elogiando o segundo lugar do bravo time de 120 anos River plate ,mas em tom o primeiro lugar é nosso ….enfim dormimos felizes e acordamos sábado q não foi um sonho ……nunca duvidem do Fluminense meu eterno amor …..ass : kbssa.09

  3. Andei, tua crônica me fez voltar no tempo e sentir a mesma emoção que senti várias vezes, ao longo desses quase 69 anos ao ler, no dia seguinte às grandes jornadas tricolores as odes do nosso imortal Nelson Rodrigues!!!!!

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