Subterrâneos (por Thereza Bulhões)

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Dormi mal e acordei de ressaca. Não havia sido a bebida. Não bebo tem tempo Era uma outra forma de intoxicação. A falta total de respeito que sentia ter sido tratada noite a dentro pelo poder atual, prepotente e perverso, do meu país.

Eu, mulher, cidadã brasileira, despertei estranha. Eu e a torcida do povo brasileiro.

Esta sensação veio a me confundir com outra, que durante os anos de chumbo eu vivi. Lembrei de 23 de março de 1970, dia que meu então companheiro João Saldanha, convidado pelo “Senhor cidadão” Havelange da CBF em 1969 para ser técnico da seleção brasileira de futebol, e tendo nos classificado nas eliminatórias em primeiro lugar sem derrota alguma, foi por esta mesma figura exonerado.

(Apenas um parênteses – a existência do fato atual que “pode parecer similar” à convocação do Tite para as eliminatórias)

Confusão normal, pois a impotência de revidar no ato, tipo golpe de Judô, foi a mesma. Só que hoje podemos ter tempo de juntos pensar e traçar o caminhar. Nós somos o subterrâneo, sem o poder agora, mas os “subterrâneos da liberdade”,

Quando João, como jornalista e cronista maior, escreve seu livro “Subterrâneos do futebol”, apoiado na luta pela liberdade de seu amigo e camarada Jorge Amado, comunista como ele, expressa o desvendar e o caminho do povo para se tornar sujeito de sua própria história.

O presidente sem voto popular, General Emílio Garrastazu Médicitenta, após as eliminatórias queria no time seu craque favorito: Dario. João, através de uma radio gaúcha, replica:

-Vamos fazer um negócio: eu não escalo o ministério do presidente e o presidente não escala no meu time.

João Saldanha ao assumir o cargo anunciou seu time, os seus 22 jogadores, “suas feras”, em menos de 24 horas: seriam estas e pronto. Termina ele assim com a politicagem na escalação da Seleção. O povo brasileiro o segue sentindo-se respeitado e vai aprendendo a exercer este seu direito como cidadão.

Tem que haver respeito pelo povo brasileiro.

Tem que haver respeito por uma senhora Presidente da República, eleita.

Erros houve, mas o pior foi de se deixar cercar tão mal de alianças de vices e versas.

Que tribunal foi aquele que a julgou. Tribunal de corruptos, julgando o que eles próprios fazem, muito mais e pior

Este governo corrupto, que agora anda nas mãos de Eduardo Cunha com a promessa de entregar todo mundo se for cassado!

Estes seres ignóbeis não representam o povo alegre, guerreiro, nosso, brasileiro, desempregado, sem Educação, Saúde, Habitações públicas. Eles vão nos castigar com privatizações e privadas.

Perdemos mas como não estamos, ainda bem, ao lado dos que pensam ter vencido. Pensamento do grande mestre Darcy Ribeiro.

A luta continua, nos protestos, na rua, nos sindicatos, melhor escolhidos por nós. Nesta luta é que vamos crescer juntos e aprender a nos respeitar. É ai que precisamos chegar. É este o Poder Popular!

Lembrando que hoje tem jogo do nosso Fluminense, do Flamengo, que o João era Botafogo, que Milton é Vasco, que eu sou Tricolor, mas que torcemos juntos por nosso Brasil.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: tb