Suborno (por Zeh Augusto Catalano)

eurico dantas 1981

Um Procurador-Geral do Ministério Público do maior estado da Federação afirma que há fortes indícios de que alguém de um clube da 1ª divisão do futebol do Brasil recebeu suborno para deliberadamente escalar um jogador irregular na última rodada do campeonato nacional, provocando o rebaixamento dessa equipe. E a salvação de outra. Que havia cometido o mesmo equívoco na véspera.

Esta história deveria ser a matéria principal de todos os veículos esportivos do Brasil. Isso deveria estar sendo debatido, investigado, questionado, de dia e de noite.

Curiosamente não está.

E por que não está?

Amiga flamenguista postou na rede social uma reportagem sobre as assessorias de imprensa no Brasil. Recomendo muitíssimo a leitura . É muito esclarecedora.

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/25/sociedad/1390678371_750307.html

Trocando em miúdos, o trabalho de uma assessoria de imprensa é divulgar aquilo que seja de interesse do seu cliente. E tentar impedir a publicação de qualquer coisa negativa sobre ele. Reparem, não há nisso nenhum compromisso com a verdade. Apenas com os interesses do cliente. E nisso não há nenhum mal. Este é o trabalho deles.

O problema está do outro lado. Nas redações. Veículos de comunicação em penúria financeira, com redações subdimensionadas, e, me perdoem a franqueza, jornalistas fracos, incultos, preguiçosos, mal intencionados.

E quando digo mal intencionados, não estou questionando o lado torcedor de cada um. João Saldanha, Sandro Moreira, Ary Barroso não escondiam de ninguém suas paixões, mas não tinham as atitudes deploráveis que vemos hoje em nossas TVs e rádios.

A frase de João Rodarte, presidente de uma grande empresa de assessoria de imprensa, é definitiva: “O jornalista, quando está na redação, tem um código de ética. Mas quando ele vem para as agências, ele é um profissional da comunicação, não é um jornalista mais”.

Listemos então os vetores em ação nessa redação:

– A paixão clubística do jornalista que, se não tiver escrúpulos, passa a esquecer o compromisso com a verdade e distorcer, aumentar, esconder…

– A falaciosa máxima que protege determinados clubes por estes serem “do povo” e venderem mais jornal.

– A pressão econômica pura e simples. Antes de ser um veículo de comunicação, é empresa. Tem contas a pagar e precisa dar lucro. Como falar mal de uma empresa ou clube se ele vai comprar um anúncio de página inteira?

– Por fim, o mais forte de todos: o interesse do próprio veículo. Suponha que você seja dono de um jornal e invista regularmente milhões de reais num determinado negócio. Você também investe em negócios concorrentes, pra dar uma equilibrada e uma disfarçada no mercado. Você não quer que te vejam como o mecenas daquela empresa. Você quer ser visto como o mecenas do mercado. Desinteressado. Distribuindo dinheiro para todos os lados. Bonzinho.

Chega então seu empregado, o jornalista, com notícia bombástica sobre aquela empresa. Aquela. Exatamente a que você espera que te encha de dinheiro. O que você vai fazer? Publicar?

Só se fosse louco. Abafa. Esquece disso. A assessoria de imprensa ligou. Não é pra tocar no assunto. Esquece. Ninguém vai citar isso.

E acabou. No dia seguinte, aparece outra budega qualquer pra cobrir o buraco. Notícia ruim é que não falta…

Com isso, voltamos à notícia do dia. O suborno.

Mas quem subornou?

Tenho um palpite. Foi o ladrilheiro.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Eurico Dantas – globoesporte

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3 Comments

  1. Parabéns, Zé Catalano!
    Colocou o dedo na ferida, como é preciso.
    A hora da fra-mídia está chegando; aliás, já passou da hora!
    SSTT4!!!!

  2. Mas graças a alguém hoje em dia existe a internet, meu chefe. Nada mais passa em branco. Vide as manifestações e agora os boicotes a restaurantes caros.
    A verdade há de aparecer

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