Sobre Ângelo Chaves (por Paulo-Roberto Andel)

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Logo mais tem Fluminense. Eu sempre confio, eu sempre acredito mesmo depois de uma decepção. Não é ingenuidade ou alienação, mas amor sincero, daqueles que likes ou promessas de cargos não compram. Enfim, temos que vencer. É preciso que o Fluminense tenha ao menos tranquilidade no campo, já que fora dele a harmonia inexiste.

Eu quero amenidades. Acabou de passar o Dia dos Pais e, naturalmente, muitos tricolores celebraram o domingo com seus progenitores, avôs, filhos e netos, além das mães – que muitas vezes também foram pais. Dentre muitas saudações de Facebook, uma delas e chamou a atenção: a de Fernanda Canaud, integrante do Olimpo da música instrumental e clássica brasileira, comemorando o aniversário de seu pai, que celebra 87 anos nesta terça-feira. Acontece que Fernanda é uma fervorosa tricolor e seu pai é Ângelo Chaves, presidente do Fluminense entre 1990 e 1993.

O mundo é engraçado. Eu já era fã da Fernanda há muitos anos (qualquer apreciador de música instrumental no Rio comprou seu CD onde interpreta as obras de Radamés Gnatalli) e, mais recentemente, por conta das redes sociais, fiquei fã de suas postagens. Em 2015, ao lançar meu livro “O Fluminense que eu vivi” em Nova Friburgo no espetacular Bar América, ao lado de meus camaradas Beto Meyer e Gustavo Valladares, tive a honra de autografar um exemplar para o Dr. Ângelo, que estava num almoço familiar. E aí a Fernanda comenta numa das fotos sobre a presença de seu pai. Céus! Era ele. Mais recentemente, há coisa de duas semanas, Fernanda se apresentou na Sala Cecília Meirelles com meu querido amigo superbaterista Roberto Rutigliano – ela está sempre por perto de algum jeito.

A postagem de Fernanda que me chamou a atenção foi a da festa antecipada do Dr. Ângelo ao lado dos familiares. É bom vê-lo bem, querido, respeitado. E automaticamente me bateu uma saudade enorme de quase trinta anos atrás, quando ele era o presidente. Não por títulos expressivos, que não conquistamos naquela época, um tempo de vacas muito magras, jogadores humílimos e muita luta, mas por outras razões.

Eu era aluno da UERJ. O Maracanã era uma extensão da varanda da universidade. Os ingressos eram baratos, a turma estava sempre por lá – respondia a chamada e, dez minutos depois, carregava meu caderno debaixo do braço na geral. O Fluminense também jogava sempre nas Laranjeiras, o que era uma alegria enorme só de estar em casa, naquele charme da fundação do futebol brasileiro. Havia uma sensação de pertencimento, de irmandade, de brodagem. O Flu não era uma obrigação, mas um compromisso prazeroso.

Muitos chamam aquele período de “anos de chumbo” e discordo completamente. O dinheiro era nenhum, mas os anos sem título só aconteceram mesmo porque o Fluminense foi literalmente garfado. Somente durante o mandato do Dr. Ângelo, foram as decisões do Carioca de 1991 e da Copa do Brasil de 1992. E por um triz não fomos à final do Brasileiro do ano anterior. O Flu não ganhava, mas disputava e muito. Claro que havia críticas, naturais de um clube grande e vencedor, mas nem chegavam à unha desse mar de ódio que polui o Tricolor nos últimos 13 anos.

Os times eram humildes, mas isso não nos impediu de ver feras como Válber e Torres, a elegância sutil de Bobô; a volta efêmera de Paulinho, a fera de 1985; o início da linda trajetória de Super Ézio no clube, bem como sua parceria com Wagner. O bandeirão oficial do Flu na arquibancada e o mar de pó de arroz davam o tom. Enfim, não tenho saudades daquele tempo por causa de troféus, que o Fluminense tem aos montes, mas pela essência tricolor.

Lembrei de tantos sentimentos bons por causa do aniversário do Dr. Ângelo. A ele deixo meu abraço, apreço e um muito obrigado. Que ainda tenha muitos anos de vida e continue ativo no Clube de Jazz de Friburgo (um luxo só). E que sempre me traga bons sentimentos como os de agora. Ser campeão é ótimo, mas ser tricolor é melhor ainda. De toda forma, que venha uma grande vitória logo mais. É isso.

Panorama Tricolor

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