É duro escrever uma crônica nas condições como as de hoje. Os dedos gostariam de percorrer determinadas teclas, mas a realidade empurra-os para outras.

Não é de agora que o Fluminense entra em campo com tamanha falta de compromisso. O adversário nem precisa fazer tanta força para ficar na cara de Cavallieri. Na realidade, os dois times passeiam em campo. Um porque encontra todos os espaços necessários para jogar, o outro, porque acha que não precisa correr atrás da vitória.

Wagner, Rhayner, Bruno, Gum, Digão. Haja jogador jogando tão mal. Ninguém consegue produzir algo com tantas peças negativas em campo. Wagner não tem a visão de jogo necessária para distribuir o jogo. É jogador para ficar mais encostado na defesa adversária. Rhayner não pode ser titular, muito menos absoluto. É jogador para entrar e colocar fogo no jogo. Gum e Digão, além das limitações técnicas, estão em fase trágica. Bruno não consegue executar a jogada básica para a posição: chegar à linha de fundo. E o Fluminense, pelas características, depende muito disso. Ainda tem o Edinho: é, demasiadamente, lento de raciocínio e quebra o ritmo de jogo. Esse contexto sobrecarrega os demais que têm que jogar de forma sobre-humana.

O primeiro gol do Internacional foi uma falha gravíssima de posicionamento: Gum e Digão estavam, juntos, perto da linha lateral. Por quê? D’Alessandro, que não é bobo, viu e correu pelo lado oposto. Nesse lance não havia meio-campo, nem defesa.

A falha do Digão no segundo gol não foi isolada. Foram várias semelhantes. Gum disputou pau-a-pau com Digão quem errava mais e de forma mais bisonha. A gente não torce só para o pessoal da frente marcar, mas para que os de trás não entreguem o ouro. A coisa está feia. Muito feia.

Deco, que tem sido a opção de mudar o panorama do jogo, não tem mais condições de oferecer o que o Fluminense precisa. Fisicamente é um jogador fora de competição. Percebe-se, também, que não tem mais aquele ímpeto necessário, profissionalmente falando. Samuel é outra aposta do Abel para aumentar o poder ofensivo, mas corre feito um louco, para o lado errado, e não produz, absolutamente, nada.

Depois do caldo entornado, fica muito complicado buscar. A desvantagem transforma tudo em uma correria desenfreada, sem inteligência, só alucinação. A torcida vai junto: “Guerreiros, Guerreiros, time de Guerreiros”. Não dá para viver disso, não nessas condições. Ainda, quando o fim de jogo vai se aproximando, é cada um tentando ser o salvador da pátria. O adversário faz cera, todos se irritam com o árbitro. Mas os problemas estão dentro de casa mesmo.

Percebe-se, também, que o Abel não tem mais o que fazer. A coisa desandou. E agora?

1) Há problemas de elenco: faltam zagueiros. Tecnicamente deixam a desejar e, para agravar a situação, todos estão em péssima fase. Um a um foram caindo: primeiro Leandro Euzébio. Depois, Gum não acertou mais. Por fim, Digão seguiu o mesmo rumo. Terríveis, nem Cavallieri salva, pelo contrário;

2) Há problemas na armação do jogo: Wagner não é o cara. E o Eduardo? Por que não utilizá-lo? Das poucas vezes que entrou, foi ser lateral ou ponta esquerda. Não é a dele. Mas é um garoto que tem qualidades. No entanto, o Abel insiste com as mesmas opções. Sempre e infrutíferas;

3) Há problemas táticos: no primeiro gol, foi claro o péssimo posicionamento da defesa, a marcação frouxa do meio-campo, a dispersão dos laterais. Quando o time recupera a bola, a transição é lenta, previsível.

Enfim, o futuro preocupa, mas, sei lá, parece que está tudo normal. Pensam que amanhã ou depois a verdade será restabelecida? Que verdade? Não é assim. Muito há o que se fazer. E rápido.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor

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