Sentimento blues (por Gustavo Reguffe)

Definitivamente, a semana começou triste; a morte do grande Celso Blues Boy me trouxe uma mistura de sentimentos: não apenas a melancolia pela perda de um dos grandes ídolos de minha geração como também certa nostalgia de uma época à qual este acontecimento me remeteu.

Celso foi genial; além do inegável talento musical, foi um pioneiro do blues no Brasil. Cantando e compondo em português, deu identidade própria e ajudou a divulgar um gênero ao qual, antes dele, ainda não se havia dado a devida atenção por aqui. Sob sua influência surgiram várias bandas de sucesso na cena blues brasileira.

Inúmeros foram os shows de Celso aos quais tive o privilégio de assistir; a maioria deles no Circo Voador, um dos palcos que melhor traduzem a alma musical carioca. Ele também fez parte daquela geração que mudou a cara do rock no Brasil e que embalou aquela época, a partir de meados da década de oitenta, entrando pela década seguinte. Tempo esse que representou particularmente para mim um período de grandes transformações, alegrias e decepções.

Afora as dores e delícias de um processo de amadurecimento pessoal, fruto de uma intensa vida estudantil, crescimento profissional, novos amores e amizades, aqueles anos representaram também uma montanha-russa de emoções em minha vida de torcedor de futebol. Além de presenciar todo o infeliz processo de exaltação de um futebol pragmático de uma seleção brasileira novamente campeã do mundo após vinte e quatro anos, em detrimento do vistoso futebol da seleção tragicamente derrotada em 82, ainda tive que presenciar a derrocada do meu time de coração.

À época dos seguidos rebaixamentos, lembro-me de um excelente artigo que saiu na parte de opinião do Jornal do Brasil, se não me engano, intitulado “Tragédia anunciada”. Estava tudo ali: de forma lúcida, objetiva e resumida, o artigo explicava como uma péssima administração havia levado o Fluminense a tão vexatório destino.

Mas essa digressão, assim como a morte de Celso, não faz muito sentido; no final das contas, já é tudo passado. Seja um lapso na brilhante trajetória de uma estrela ou outra que brilha intensamente para se apagar de forma precoce, já não importa mais. Louvemos nossos ídolos, eternizemos suas histórias. E que descansem em paz.

Gustavo Reguffe

Panorama Tricolor/ FluNews

Imagem: Bogado

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