Saudades dos “tricolebas autênticos” (por Gilmar Prado)

Oi, pessoal! É minha estreia aqui neste site de feras. Tomara que gostem.

Nos últimos dias, esperando a volta do Fluzão aos gramados, voltei a acompanhar as chamadas redes “sociais” em busca de notícias, comentários e mesmo especulações, mas foi em vão.  Claro: o Fluminense blinda todas as negociações (com razão), a imprensa não tem o que dizer e pior ainda vem dos analistas de plantão, tipo a turminha que passa o dia inteiro escrevendo “coisas geniais” em Twitter e Facebook (poderiam ao menos ter lido cem livros na vida de modo que se capacitassem a sacanear os outros, mas aí é pedir demais).

Ai, que saudade! Ai que loucura (Narcisa Tamborim…deg?)!

Éramos “felizes” com os tricolebas, etimologicamente analisados pelo companheiro Marcus Vinicius Caldeira aqui mesmo no Panorama Tricolor, no fim do ano passado: http://www.panoramatricolor.com/a-etimologia-do-tricoleba-por-marcus-vinicius-caldeira/

Para quem tiver a oportunidade de ler o texto no link, tricoleba era só uma designação para um torcedor que poderia ir ao estádio apoiar o Fluminense, mas não o fazia por uma ou várias razões, geralmente esdrúxulas, mas dentro do estado democrático de direito. Na época, lembro bem, os tricolebas autênticos nem ligaram ou se ofenderam com as palavras sensatas do Caldeira, mas os outros… os pseudo-tricolebas (que queriam e querem ser tricolebas de verdade mas não conseguem ser nada além de verdadeiras malas-sem-alça), estes quicaram até bater com a cabeça no teto. Um verdadeiro tricoleba é bonachão, tranquilo, relax, não tem gestos de agressividade que sugerem uma sexualidade mal-resolvida, não fica de bate-boca; fica na dele, ri e vai embora. O bom tricoleba, no fundo, é gente boa; já o pseudo-tricoleba é, no fundo, bem estourado, precisa de confronto e impacto, nem que seja numa conversa pelas costas.

E aí veio o caos. Um novo movimento nasceu, já com estereótipo definido. Veio para ficar. E tudo indica que será cada vez mais forte, pois aumentou seu contingente num estalar de dedos, 100% de aumento: eram cinco malas, agora são dez e pretendem chegar a vinte em 2014. Uma verdadeira loja da rua da Carioca. Uma terrível derivação do bom e autêntico tricoleba, aquele que não ia ao estádio e ficava ouvindo o jogo no computador enquanto batia um game ou conversava no inbox do Facebook com uma mulher que jamais pegará.

É dramático, mas precisamos ter calma para lidar com esta situação (não levem a sério esta frase).

Trata-se do tricolebabaca, agora inflado pelas especulações em torno dos nomes de Felipe e Riquelme e o possível problema no exame médico de Monzón.

Um agressivo mutante virtual, capaz de ameaçar, dar porrada, dar tiro, violentar, tudo claro atrás da tela do computador, bastando que seja contrariado em suas ideias e frases, geralmente sacaneando o Fluminense e seus eventuais defensores (embora seja tricolor e normalmente se apresente como muito mais tricolor do que os outros, pois sabe tudo: como ganhar todos os títulos, como consertar os problemas do clube, como fazer todas as substituições perfeitas, como contatar Messi etc) – para ele, o Flu vai ser eliminado em todas as competições pois está “tudo errado”. Neste instante, um tricolebabaca legítimo já corneteia o time que perdeu ontem nos pênaltis para o Cruzeiro: “É tudo uma bosta, essa molecada não é de nada”. Pessoalmente, contudo, é capaz de atravessar a rua ao ver um desafeto. Mas não é preciso ter muita preocupação em termos de confronto ao vivo: o TLB dificilmente vai ao estádio – a não ser que o time dê espetáculo-, tenha chofer na porta ida e volta numa limousine, não pode ter engarrafamento nas ruas, fila na catraca, é preciso lugar cativo na arquibancada sem ninguém por perto, assento aromatizado para o bumbum (uma parte essencial da anatomia tricolebabaquiana), ninguém pode peidar, beber refrigerante ou tirar alguma melequinha rápida ao lado e mesmo assim, ainda que o Fluzão ganhe o jogo, ele vai reclamar do site do clube, do cartão de sócio que não chega, da nuvem que encobre a cidade vizinha, das eleições 2014, do Peter Siemsen, do Celso Barros, das torcidas organizadas, das torcidas desorganizadas, do Abel, do Fred, do Deco, do Carlinhos, do Rafael Moura (peraí, ele não foi embora?), do Parreira, do Cuca, do Castilho, do Preguinho e por aí vai. Sabe o sujeito que sai com o carro todo fudido, mas um som de funk nas alturas? É um perfil semelhante ao do TLB: não basta ser chato pra cacete, ele precisa irritar os outros porque, se não fizer isso, ninguém o notará. Não basta ter a opinião: precisa que ela seja imposta como a melhor sobre todas as outras. É uma forma de expressão, por mais bizarra que seja; aliás, é claro que É bizarra!

O TLB é essencialmente desagradável apenas porque lhe falta o bom humor e o respeito ao próximo: para se manifestar, ele precisa agredir os outros e as ideias destes, talvez porque não tenha nenhuma ideia disponível que possa cativar qualquer ser humano tricolor normal além dos seus nove parceiros de “grandes ideias com 140 caracteres”. É mais fácil tentar destruir teses alheias do que ganhar adeptos com as próprias. Mas, como é sabido, ele não vai incomodar nos estádios, pois tem “mais” o que fazer – escrever pequenas bobagens, geralmente sobre o trabalho e a opinião dos outros (falar de si mesmo soaria vazio), o que municia o verbo tricolebabaquear. E nada mais.

Eu quero os tricolebas autênticos de volta! Por uma meia-dúzia de torcedores chatos apenas entre si, que não posem de pseudo-intelectuais, pseudo-formadores de “opinião” e pseudo-tricolebas (verdadeira série F). Tricolebas assumidos que, uma vez identificados, mostram o bom-humor e riem. Bem diferente do tricolebabaca, geralmente obcecado por frases de efeito, ditados, citações de orelha, tudo com um mau-humor azedo crônico que se finge de seriedade.

Aproveito para saudar o tricoleba de verdade na rede social Twitter, o @SouTricoleba, este sim um autêntico, um digno representante da classe que merece ser seguido. Chega de farsantes!

Um grande abraço e até a próxima. Eu volto aqui sempre em ordinárias edições extraordinárias, tão ordinárias quanto qualquer tricolebabaca. E é desnecessário que os TLBs percam seu tempo falando mal de mim em redes “sociais”: eu não as frequento, tenho mais o que fazer. Ah, sim: se você é um autêntico tricolebabaca, este é o seu lugar: https://www.facebook.com/pages/Flunews-da-Depress%C3%A3o/226642564137840?ref=ts&fref=ts.

Obrigado pela atenção, ST.

Gilmar Prado

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @SouTricoleba

Contato: Vitor Franklin

8 Comments

  1. Eu gostaria que fosse elaborado algo tipo um questionário, nos moldes daqueles de revistas femininas ou para adolescentes, para se identificar o grau de tricolebagem de uma pessoa. Tenho dúvidas a respeito da minha intensidade neste aspecto e prometo que se um dia surgir este questionário eu o responderei com toda honestidade, sinceridade e fidalguia de um autêntico tricolor de coração, e Fluminense até de nascimento.

    1. Gilmar responde: Wilson, se você tiver Twitter, fica a dica: siga o @SouTricoleba que ele sabe tudo do assunto. ST.

  2. sou tricoleba desde o tricolordecoracao.blogspot.com

    rsrs

    saudações tricolores

    1. Gilmar responde: Lennon, você é um tricoleba responsa, mas como criou a maior banda de todos os tempos tem plenos poderes. Saudações a Yoko.

  3. Belo texto de estreia, Gilmar Prado, bem-vindo a este time de feras (ô louco, mêu! – rss). Partilhamos deste pensamento, há diferenças estruturais, semânticas, diríamos até mesmo sintáticas entre “tricolebas”, aquele que não frequenta estádios, mas que verdadeiramente chora e ri com nosso Fluminense, que se interessa por história, e não estórias de bar, ainda que às vezes elas sejam edificantes, aquele que verdadeiramente torce, mesmo quando o time cai para a segunda e terceira divisão, mas apoia, pensa positivo sempre, se supera; o segundo tipo é o literalmente mediano, o medíocre, aquele que acorda e diz hoje vai chover, sem nem ter aberto os olhos, que dirá a janela! Este é mais que um “tricolebabaca”, é um merda, fora ou dentro dos estádios. Quanto às redes sociais, às vezes tem coisas legais, já pensamos assim como você, mas também achamos que modernidades podem ser interessantes, haja visto a internet como ferramenta educacional e lúdica, de exercícios de vozes e pensamentos, como este sensacional “Panorama Tricolor”. De qualquer forma, belo texto, STT, Waldir Barbosa

    1. Gilmar responde: excelente, Waldir. Muito obrigado. Sobre os tricolebabacas, bom… eles são tricolebabacas! Rssss

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