Saudade dos pontas (por Marcus Vinicius Caldeira)

rivellino passe

Quarta, ao voltar do Maracanã após a bela vitória do Fluminense sobre o São Paulo, fiz uma brincadeira nas redes sociais: “Não vi Cafuringa jogar, não vi Búfalo Gil jogar, mas, vi Marco Jr”. Isso em alusão ao belo gol que o garoto fez ontem. Claro que é brincadeira, claro que não dá para comparar o garoto aos monstros sagrados Búfalo Gil e Cafuringa. Mas que dá gosto ver um gol desses à moda antiga, com lançamento em profundidade do meio para a ponta e com o atacante aberto dar um belo corte para o meio e colocar por cima do goleiro, isso dá.

Cafuringa e Búfalo Gil foram dois pontas direita clássicos do Fluminense, nos tempos que os extremas eram muito utilizados nos esquemas de jogo. Cafuringa jogou no Fluminense de 1969 a 1975, tendo sido campeão carioca pelo Flu em 69, 71, 73 e 75 e campeão brasileiro em 1970. Pelo clube fez 16 gols.

Búfalo Gil, mineiro de Nova Lima, era tricolor desde criança e realizou o sonho de jogar pelo seu clube de coração em 1975 e 76 onde foi bicampeão carioca pela Máquina Tricolor e campeão do Torneio de Paris. Fez 75 gols pelo Flu, muitos deles após passes do genial Rivellino. Uma vez tivemos o privilégio de entrevistá-lo no PANORAMA e depois sairmos para jantar no restaurante mexicano na rua Jardim Botânico. Inteligente, bem humorado, bom de papo, contou grandes histórias dos tempos de futebol, muitas delas impublicáveis aqui.

Não os vi jogar, de fato. Uma pena. Mas pude testemunhar dois excelentes pontas – só que pela esquerda – fazerem história com a camisa do Fluminense: Tato e Paulinho. Os dois eram um azougue. Ou ensaboados, como se diria nos tempos atuais. Eles nos deram muitas alegrias: um tricampeonato carioca e um brasileiro. E ainda tinham o auxilio luxuoso de dois excelentes laterais: Branco e Eduardo. Quem viu, viu; quem não viu, senta e chora. 

Vi excelentes pontas no futebol nacional jogarem: Eder, Zé Sérgio, Renato, só para começar. Mas já era o fim da posição. Hoje, o que temos são atacantes ou meia atacantes que de vez em quando abrem pelas pontas. Mas jogam pelo meio também e voltam para marcar. Antigamente, os pontas ficavam abertos lá… Nas pontas… Esperando os lançamentos antológicos de craques como Rivellino, Deley, Mário, para arrancarem em velocidade. Meias clássicos que, aliás, estão se extinguindo. Hoje, os meias são carregadores de bola, vide seleção brasileira. Que saudade do Deco!

Freando a saudade e voltando para os dias atuais, gostei muito do futebol apresentado pelo Fluminense quarta. Aplicado, com um esquema moderno que alterna entre um 4-2-3-1 quando está no ataque e 4-4-2 com duas linhas de quatro bem compactadas quando na defesa. A novidade foi a marcação pressão por zona na saída de bola do adversário por várias vezes durante o jogo. O Cícero entre os zagueiros para o primeiro passe na saida de bola e chegando ao ataque é outra mostra da modernidade do esquema adotado pelo Eduardo Batista no Fluminense. Muito bom.

Uma pena o time ter rateado onze rodadas por fatores extracampo e erros de arbitragem. Era para estar no G4 com folga, mas não adianta chorar o leite derramado. Temos uma guerra quarta pelas semifinais da Copa do Brasil e estamos apenas a seis pontos do G4 (porque não sonhar?).

Quanto ao Marco Jr, realmente cometi uma hipérbole. Está longe dos monstros sagrados Cafuringa e Búfalo Gil. Mas, se focar na sua profissão, tem tudo para ser um excelente jogador e nos dar muitas alegrias.

Vejo vocês no Maraca quarta que vem.

Quarta é guerra.

Panorama Tricolor

@PanoramTri

Imagem: mvc/abril

CAPA O FLUMINENSE QUE EU VIVI AUTÓGRAFOS

3 Comments

  1. Ve como sao as coisas, o Cafuring foi um monstro, jogou 6 anos pelo Flu e fez 16 gols.

    O Fred faz 16 gols por campeonato e o que nao falta eh gente para procurar defeito no cara.

    Rs

  2. Eu vi e vivi tudo isso. Nossa Caldeira, o seu texto encharcou o meu pé de saudosismo!

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