São amores (por Daniele Brandão)

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Amores que morrem, ao contrário do que diz a música.

Vamos focar nesta frase: o ídolo tem pés de barro. E nós, torcedores que somos, em certos momentos moldamos esses pés para depois jogar água neles. Quatro situações distintas mostrando isso a seguir.

1ª- Cria-se expectativa logo no começo. “Fulano é o novo craque”, dizemos na chegada de um atleta já consagrado ao time ou quando uma revelação se destaca na base e sobe rapidamente para a equipe profissional, muitas vezes comparando-o com outros grandes nomes do passado. As comparações não têm um efeito positivo, pois ele sente o peso da responsabilidade e não consegue corresponder tão rápido por inúmeras razões. E quando não chega à altura dos craques, descemos a lenha.

2ª – Após um período de muita luta, o cara mostra seu valor e firma um lugar na galeria dos maiores. Constrói uma bela história, mas chega aquela proposta de outro clube – estrangeiro, em especial. A negociação é uma novela, e no fim ele vai embora. Pode ser que isso aconteça em hora decisiva, seja final de campeonato ou quando a campanha é espetacular. E quando o fator fundamental é o salário, por mais que ele negue, descemos a lenha.

3ª – Certo dia o cidadão volta às Laranjeiras e nós botamos a maior fé que tudo será como antes. Apostamos todas as fichas, mas não dá tão certo quanto o esperado. Descemos a lenha.

4ª – Saída conturbada por N motivos. Perde-se o tal do encanto e o caboclo acha que é hora de navegar por outros mares (tô poética, hein?). Ele se sente desprestigiado, isso mexe com seus brios, o ambiente não colabora muito e se determinado mosquito zumbir em seu ouvido (esse mesmo que você pensou, não é Aedes mas também prolifera por aí) ele resolve pegar o caminho da rua. Às vezes ainda sai cuspindo no prato em que comeu, o que reforça a raiva que podemos sentir dele. E é bem pior se for para algum adversário direto… Aí é que descemos a lenha mesmo.

Por que é difícil lidar com o bicho-ídolo?

O fato é que nós queremos ídolos. (Claro que isso não é uma verdade absoluta, porém não dá pra negar.) Sentimos necessidade deles, de sua identificação com o clube e de seu amor à camisa, jurado sempre que houver um microfone e/ou uma câmera na área. Precisamos depositar confiança neles. Mas também os queremos sempre por perto, sendo tão fiéis ao brasão tricolor quanto somos, e trabalhando em seu nível máximo – afinal, merecemos sempre o melhor! E ai de quem não jogar o fino da bola… Ai de quem nos substituir por outra torcida!

Então, quem faz isso desce ao inferno mais profundo. Passa a ser xingado pelo serviço ruim que fez ou pelo bom que deixou de fazer, pois a omissão no futebol é pecado grave; execrado pela virada de casaca esperada ou não, porque passar para o outro lado é desrespeito sem tamanho, uma trairagem daquelas. Se saiu brigado, deve ter cuidado com a ingratidão – viveu bons tempos no Fluminense, por isso não terá o direito de falar uma única vírgula que desabone a casa.

O problema é que o amor, agora, não existe da forma que desejamos. Se quarenta anos atrás, ou mais, a identificação de um atleta com o clube que defendia era pura e simples, hoje depende de outros fatores. Por isso é um sentimento cíclico – e quando chega a fase ruim ou a surpresa desagradável, é certo que a estátua vai desmoronar.

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Conversaremos mais sobre este tema em outras oportunidades. Assunto é o que não falta!

Ah: para os corajosos que se habilitarem, meu Twitter é @FluminenseDNL. Não recomendo, pois só escrevo besteiras por lá e fujo da treta como o diabo foge da cruz!

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FluminenseDNL

Imagem: dan

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