O resgate da autoestima tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

O Fluminense chegou à final do Campeonato Carioca de 2017 por diversos motivos.

Porque foi e é superior técnica, tática e fisicamente ao Vasco.

Porque passou como um trator por cima da má arbitragem de sempre e da violência vascaína.

Porque começou 2017 com os pés no chão e trouxe gente que entende do riscado, além de fazer o que não fazia há quase 40 anos: formar o elenco com a mocidade independente da base, tal como em 1980.

Porque mesmo longe de seu melhor momento, Cavalieri foi um monstro diante de cinco adversários impedidos.

Porque Wellington tocou o terror na defesa adversária, levando-a à loucura e fazendo em campo uma bela homenagem a Gílson Gênio. No segundo gol, deu a tônica do jogo: arisco, deixou o Vasco estatelado no gramado.

Porque foi superior até na hora de entrar em campo, ignorando a desfeita de um dirigente que chega a seus últimos anos de vida como uma caricatura de si mesmo.

Porque neste ano, nos clássicos, foi melhor do que seus adversários, mesmo quando não venceu.

Porque não goza da opulência das manchetes, chega a ser boicotado até pelos quintas colunas mas a caravana não para: passa por cima de tudo.

Porque reaprendeu a não viver de fantasias, nem de arroubos megalômanos. Alia seriedade, humildade e qualidade, um pacote forte que não promete títulos, mas faz lutar por todos eles.

Porque Orejuela, Sornoza, Wendel e Pedro são brincadeira, caros amigos.

Porque ninguém faz cinquenta gols em três meses à toa.

Porque justamente ao valorizar a base e celebrando 1980, recobrou os tempos em que acertar chineladas no amigo bacalhau era normal.

Porque tem consciência de seus defeitos a serem corrigidos, mas também de suas qualidades evidentes por ora.

Porque aos 42 minutos do segundo tempo, Richarlison dá carrinho na linha de fundo adversária para salvar uma bola.

Porque essa garotada remete ao Miles Davis Quintet, onde menos era mais: simplicidade, objetividade e talento de um jovem Ron Carter, um Herbie Hancock, um Wayne Shorter.

E, por fim, me desculpem o teor: porque o Fluminense é foda pra caralho.

Este jogo de hoje me fez voltar a ser um garoto de décadas atrás, quando o mundo não era tão ruim e o futebol, caros amigos, era a nossa única diversão de verdade num país em ruínas. Se o mundo ficou pior – e é fato -, a sensação de voltar a ser criança é a melhor do mesmo mundo. Muito melhor do que publicar dez livros.

Daqui a pouco meu pai me puxa pela mão para tomarmos o trem rumo à Central e, depois, o ônibus para Copacabana. Novamente a vitória me enche de lágrimas.

Estamos em mais uma final. Quem sabe o que foi o Maracanã de cem mil pessoas, entenderá o que eu sinto agora. Olé!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: xulla

4 Comments

  1. Essa equipe lembra muito o Fluminense dos anos 80. Tem um meio campo que sai jogador, entra jogador e sempre rende bem. Continuo encantada com o Wendel. O Abel podia testar o Douglas no lugar do Léo. É uma posição carente, apesar de improvisar o Calazans

  2. Ganhar ou perder é do jogo.
    Jogar como jogou o Flu ontem (e tem jogado) é obrigação do Time de Guerreiros.
    Se seremos campões, já não importa, importa continuar sendo Fluminense.

    Só consegui dormir depois de 1 da madruga, vendo e revendo os lances.

    ST

Comments are closed.