Época de futebol entediante, a Seleção ganha alguma notoriedade. Poucos torcedores que conheço e que são fanáticos por algum time torcem e vibram com a Seleção. Até lá pelos anos 80 ainda, era normal o choro pelas derrotas da Scratch Canarinho, mas, depois da debandada dos jogadores para a Europa associada ao viés comercial que virou o consórcio CBF-técnicos-empresários-selecionáveis, o torcedor somente passa os olhos pela Seleção. Vê alguns jogos, comenta aqui e ali, mas, no geral, sem o mesmo ânimo do século passado. Quando chega a Copa, fica animado, mas mais com o que cerca os jogos: cerveja, salgadinhos, churrasquinho, reunião com os amigos e, principalmente, a dispensa do trabalho.
Em 2014, as coisas serão um pouco diferentes, afinal, seremos os anfitriões e isso, certamente, será uma injeção extra de ânimo. Quando a Copa é fora, não há outro resultado imaginável senão o título, aqui, então! Uma perda teria fortes repercussões internas. Pelo menos no blá-blá-blá. Uma conquista poderia ser o incentivo para a evolução do nosso futebol.
Digamos que ganhe. Os olhos que já estão se virando para o nosso mercado, poderão intensificar os investimentos. Novos estádios, oportunidades de negócios e mercado interno em crescimento serão o chamariz. No entanto, várias atitudes devem ser tomadas urgentemente. A começar pela reestruturação orgânica das entidades que comandam o futebol: CBF e Federações. Os clubes têm que se profissionalizar. Os Estaduais precisam ser revistos urgentemente. O Campeonato Brasileiro precisa ser atraente. Enfim, o consumidor do futebol, seja o que frequenta os estádios, seja o que gosta do sofá, tem que entrar na lista de prioridades, em substituição à politicagem que impera no nosso mundo futebolístico. Caso contrário, tudo não passará de oportunidade que, quando muito espera, cansa, senta, deita e dorme. O bonde da história passa e não retorna.
Digamos que perca. Tudo que está impedindo o futebol doméstico de acompanhar a onda de crescimento do país virá à tona e será exaustivamente acusado e discutido. Mas passará do blá-blá-bla? Por exemplo, um dos assuntos recorrentes no momento é o baixo público nos jogos dos campeonatos estaduais. Não é de hoje, fala-se, fala-se, fala-se, mas há alguma atitude séria no sentido de inverter a curva? Criou-se a Copa Nordeste, que se mostrou viável, mas é uma ação isolada. Acabado o torneio, os times voltam à realidade dos seus estaduais com as arquibancadas vazias. Os efeitos de campeonatos inchados, logo, desinteressantes, estão todos os dias nas imagens da TV, mas não há movimentação para se pensar nas causas de que, muitas delas, até meu cachorro sabe.
Falando do time do Felipão, os jogos contra Inglaterra e Itália foram preocupantes. Gerrard, jogador espetacular, mas, visivelmente, em curva descendente, colocou o meio-campo da Seleção no bolso.
Contra a Azurra, o Brasil foi dominado grande parte do jogo, inclusive, quando Fred abriu o placar. Aquele gol foi um achado: Júlio César já tinha salvado algumas vezes. Com 1 x 0, o time se soltou um pouco, fez o segundo, mas, depois disso, o goleiro do QPR salvou outras vezes. O empate foi um prêmio para o Brasil e um castigo para a Itália.
Em Stamford Bridge, ontem, mais uma vez, o nosso iluminado Fred salvou. Até o gol de abertura do placar, a Rússia chegou seis vezes em condições de marcar. Incluindo nessas contas os dois gols perdidos antes de a bola ser empurrada para o fundo das redes. O Brasil? Rondou, rondou e nada. Lá pelo meio do segundo tempo, Marcelo cresceu e fez o que Neymar, Oscar e Kaká deveriam ter feito. Felipão foi esperto e meteu Hulk para jogar com o lateral tricolor, opa, merengue. Os dois fizeram, nos dez minutos finais, o que não aconteceu, pelo lado brasileiro, nos oitenta anteriores.
A Rússia apresentou duas linhas de quatro com bastante mobilidade. Exceto no gol de empate, Fred ficou preso entre os dois zagueiros russos. Quem caiu pelos lados, tinha alguém cercando, com outro fazendo uma sobra à meia distância. Quando as tentativas eram pelo meio, as paredes se fechavam e imprensavam quem estava com a bola, impedindo as tabelinhas à frente da área e, ainda, anulando o pivô do Fred. Não fosse a versatilidade e a ousadia de Marcelo, Felipão iria amargar mais uma derrota.
O que tudo isso significa? O que prova? Que os nossos técnicos estão muito defasados taticamente. Assim, a Seleção tem que treinar muito e pegar conjunto. Felipão tem que repensar o seu sistema de marcação, dar velocidade à transição da defesa para o ataque sem os excessos de individualismo, procurar alternativas para abrir espaços em defesas fechadas, aproximar os jogadores de mais habilidade uns dos outros, trabalhar pelos lados do campo sem o manjado chuveirinho. Se não, vai ser engolido pelos esquemas sólidos, principalmente, dos europeus.
Já não é mais hora de ficar fazendo testes, a não ser pontuais. Ao contrário dos anos 50, 60 e 70, quando se reunia aqui a nata do futebol mundial, hoje, o treinamento tático (o técnico não tem cabimento numa Seleção) tem que ser exaustivo. O que o futebol brasileiro (times e Seleção) tem apresentado, além de bolas aéreas e lampejos de um ou de outro?
Enfim, o Brasil vai precisar de inteligência e de muito empenho de seus jogadores para não decepcionar na Copa das Confederações e, principalmente, em 2014. Espanha, Argentina e Alemanha estão um passo à frente. Itália está no mesmo nível. Uma surpresa, ainda, pode surgir pelo caminho: a Bélgica de Eden Hazard, por exemplo.
Fazia tempo que não falava tanto de Seleção. Vamos jogar, Flu!
Mauro Jácome
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: lancenet.com.br
eu sou uma dessas maurão, nao faço questão nenhuma de ver jogos da seleção… abraços
Agora sem estádio bom pra jogar é que a coisa vai ficar preta. e ainda tem os jogos da Libertadores. Tá feia a coisa!
Se eu tivesse escrito um texto deste no meu último concurso, teria sido nota 10 na redação!!!!!
Boa, boa. Teve um camarada que escreveu o hino do Palmeiras. Ficou no segundo grau mesmo.