Quarto Poder (por Paulo-Roberto Andel)

Todo janeiro é a mesma coisa: os times estão voltando, começa a pré-temporada (que nem tinha esse nome anos atrás), as notícias são escassas e, para piorar, o Fluminense tem sido mestre em blindar suas operações de novos contratos, de tal forma que nem os mais categorizados formadores de opinião – jornalistas ou não – têm conseguido grande coisa.

Antigamente, para a turma da imprensa convencional – às vezes até fácil de ser denominada como “imprensa antiga” – era muito fácil: inventava-se duas ou três mirabolantes contratações, nenhuma delas acontecia e boa parte dos torcedores nem se lembrava no dia seguinte o que aconteceu. Enchimento de linguiça simples. Conversa para boi dormir.

Nesta semana, ao navegar rapidamente na internet, logo me deparei com lamúrias de dois jornalistas “oficiais” mostrando suas indignações com o fato das informações serem divulgadas nas redes sociais “por qualquer um” que não é “jornalista esportivo” (tudo com as devidas e essenciais aspas mesmo). Em resumo: raivinha dos sites e blogs da imprensa segmentada de futebol.

Pois bem: primeiro, o mundo mudou, a reserva do mercado de opinião acabou. O Quarto Poder ainda tem bastante poder – principalmente no futebol -, mas precisa dividi-lo com milhões de internautas e, dentro destes, há vários jornalistas potenciais (com qualidade), nenhum deles felizmente nas grandes redações. Muitos sequer são formados em jornalismo – e nem precisam, assim como craques da imprensa também não precisaram noutros tempos para brilhar em texto e informação. Não que não seja útil e importante cursar uma (boa) faculdade de Jornalismo, mas isso não fará de ninguém um excepcional jornalista por si só, como se vê em páginas, estúdios e redações por aí, com (cada vez mais) raras exceções.

O mundo da informação não é mais propriedade exclusiva da chamada “imprensa oficial” (tudo o que é “oficial” de certa forma me causa risos, pois sugere uma prepotência enorme e uma reação excludente). E como nem todo mundo é Mauro Santayana ou Jânio de Freitas, os vocacionados jornalistas amadores podem muito bem dar suas raquetadas na internet, dentre os quais me incluo um pouco. Nunca me vi como jornalista: sou escritor, é outra coisa geralmente mal-compreendida pelos defensores da reserva de mercado da informação, até natural. Leem muito pouco, trocam os pés pelas mãos. A decadência é visível na qualidade dos textos, na substância da informação, na precisão, tudo deixado de lado por conta de um disse-me-disse que afugenta os torcedores e os leva aos meios alternativos de comunicação. Simples assim.

Felizmente os sites e blogs alternativos estão aí a serviço do futebol, principalmente para a torcida do Fluminense – que pode contar com vários veículos de boa qualidade. Cada um faz as escolhas que quer ao acessar seu computador, sem depender da verborragia oca de jornalistas recalcados que, não satisfeitos em vestir uma surreal camisa de oficialato da informação, gritam para os moinhos de vento inutilmente, tentando influir nas decisões do que é “certo” ou “errado” seguir. Alguns vêm dos tempos da ditadura no Brasil, onde tal comportamento era possível; hoje, a mesma ditadura está morta e sepultada, assim como a importância de quem se considera capaz de determinar os rumos do pensamento coletivo.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: Agência Jovem

Contato: Vitor Franklin

7 Comments

  1. Paulo, concordo com toda essa coisa de estarem incomodados. Estão cada vez mais perdidos, pois eles não mais podem inventar isso ou aquilo para chamar a atenção, pois vem um blog ou site independente e desmente tudo.

    Viva a Internet, meus caros, ela existe para que procuremos investigar.

    Paulo, se me permite, veja se o link abaixo não é um exemplo do que acabei de falar, ou seja, a mídia conta algo, vem um blog e explica de forma diferente e mostra que tudo era exagero:

    Flamengo e Adidas – Fatos ocultos pela FlaPress

  2. Pelo fim da ditadura da imprensa tradicional, aquela que vive de vender noticia e por isso mesmo, tem uma isenção deveras questionável.

    1. Paulo responde: Gustavo, o tempo inteiro. Estão incomodadíssimos…

      Quanto à conclusão, depende da visão do leitor basicamente.

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