Prudência, tricolores, prudência (por Paulo-Roberto Andel)

Numa torcida que veio há quase uma década machucada por campanhas ruins, é natural que exista o momento de euforia sobre o Fluminense em campo. É uma boa fotografia tirada das últimas seis ou sete rodadas, especialmente quando o Flu passou a mostrar um futebol melhor.

Contudo, não me alinho aos que já anunciam a Libertadores à vista ou até mesmo a disputa direta pelo título. Não, não. Comemoro, torço, mas não me alinho. Explico.

Longe de defender os patetas que acusam o Fluminense de intruso, pois merecem mais é bordoadas verbais, penso que para um time disputar o título brasileiro ou, a título de consolação, uma vaga na Libertadores – para o Tricolor a prioridade deve, ou deveria, ser sempre o título – deve ser credenciado pela regularidade na competição, e isso o Fluminense ainda não tem. Vive um bom momento, venceu com justiça bons jogos e há uma expectativa de arranque para a maratona de dezenove partidas que começaremos neste domingo. E só.

Primeiro vamos a mais partidas, atuações convincentes e distância regulamentar de quem disputa o mesmo espaço. Aí, sim, uma vez consolidado o caminho que vem sendo desenhado, me sentirei com verdadeira confiança para acreditar na conquista do título. Quanto tempo isso vai levar? Não sei, não há uma precisão matemática para isso, mas é razoável dizer que, se o Fluminense mantiver esse estágio até a metade do segundo turno, uns nove jogos, talvez dez, e se sua péssima gestão não atrapalhar o campo, o título possa ser um sonho real. Nove ou dez jogos mais os sete da boa fase do turno dão uma boa amostra do que está por vir, seriam dezesseis ou dezessete, quase um turno inteiro.

Bem dito na coluna deste domingo pelo Aloísio, começa um novo campeonato para o Flu. Viemos bem, muito acima do que qualquer um esperava e também porque os sonhos da diretoria com um Flu Master em campo foram abaixo, a começar pela saída de Henrique e o banco para Egídio – até mesmo Paulo Angioni deu como meta ficar entre os dez primeiros da competição. Nossa melhor partida no turno foi com a garotada diante do Atlético Mineiro – e aí sim, a repetição daquela atuação nas próximas rodadas é que pode credenciar o Fluminense ao título brasileiro de 2020, sem tirar a importância de veteranos como Nenê e Fred, ausentes daquela partida.

Se der errado, uma vaga na Libertadores.

E nunca é demais lembrar lições do passado, sem utilizar sofismas nem malabarismos retóricos para reduzir equipes que tivemos noutras temporadas, ou ainda palpites baratos, chutados, para reivindicar a propriedade da razão no futuro – como se alguém pudesse fazer isso… O Fluminense vem fazendo uma ótima campanha recente e pareceu razoavelmente convincente nas últimas rodadas do turno, mas a regularidade é que determinará seu futuro ao término da temporada. Sobre o bom momento recente, tem que manter isso aí – sem alusões a golpistas.

Logo mais o Grêmio vem com naturais desfalques, mas continua com um time forte. É um bom parâmetro de avaliação. Vencê-lo é sinal explícito de força e arranque. Que venha a vitória e mais um passo nessa caminhada que não terá nada de fácil.

Torcer, todos torcemos. Ficar contentes com o momento atual, todos ficamos. No entanto, peço desculpas a quem se decepcione com a falta de foguetes e a festa estrambótica nesta coluna, que não deve ser confundida com falta de torcida.

Quem se propõe a publicar suas opiniões precisa ter o compromisso com a lucidez, por maior que seja a paixão pelo clube. E quem acompanha o PANORAMA sabe que aqui não se prima pelo fácil.

É muito mais simples elogiar e supervalorizar um bom momento, assim como apedrejar uma fase ruim. O difícil é manter a lucidez necessária para não se deixar deslumbrar nas vitórias, nem mergulhar em cólera nas derrotas.

Prudência, tricolores, prudência. Alegria, crença, confiança, vontade mas prudência.

Sejamos prudentes e que venha a grande decolagem para um título histórico que a torcida do Fluminense. Fomos prudentes na virada do turno em 2010 e 2012, qual o sentido de não sermos prudentes agora? Achismo? Bola de cristal?

Só precisamos estar atentos para o fato de que o avião tricolor acabou de colocar combustível. O primeiro dos dezenove voos é logo mais.

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Sobre Dodi.

Jogador de garra e atitude, dos melhores da temporada, ainda jovem. Corre muito, por muita gente que inclusive ganha bem mais e tem oferecido bem menos.

Por mais que não exista bonzinho no futebol, chama atenção mais uma dificuldade de renovação no Fluminense.

Geralmente o roteiro é o mesmo: há um problema, o jogador em renovação vira “traidor”, “mercenário” etc. E sai. Às vezes, vai parar no rival em três meses

Sinceramente, alguém acredita que estas situações são fruto de rompantes?

Volta e meia, a impressão que dá é do Fluminense, mesmo na boa fase que vive agora, parecer uma vitrine literalmente falando, expondo os jogadores que vão reforçar os clubes na próxima temporada.

Não entro no mérito do que é caro, do que não é, até porque as contas do Fluminense costumam ser enigmáticas. Mas teria sido mais inteligente realinhar com Dodi no começo da temporada, titular ou não, do que ter trazido gente cara que não vingou e/ou sequer ficou.

A quem interessa o vaivém de jogadores?

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Ganso.

Quando veio, comemorei. Não pelas condições de contrato, pavorosas, mas pela chance de ver um craque mostrando futebol com a camisa do Fluminense.

Quase dois anos depois, a relação custo x benefício é humilhante para as partes.

Ninguém tem dúvida sobre a capacidade técnica de Ganso. Quase todos têm dúvida se ela um dia voltará a campo como cliente regular.

Não é que Ganso esteja prejudicado em mostrar suas qualidades porque foi para a reserva. Na verdade, ele perdeu a titularidade antes justamente por não jogar à altura do que seria capaz.

Quase dois anos depois, ainda há três anos de contrato.

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Live Sorte

Mais uma vez, meu apreço e consideração a Antonio Gonzalez e Sergio Poggi.

A cada dia que passa, aumentam as desconfianças sobre qualquer transação financeira que envolva o nome do clube.

No mais, não se deve confiar em quem oferece leniência a práticas nazistas. Destruição de livros, por exemplo.

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Falando em livros, só lembrando: “35 dias”, “Gol de Barriga 1” e “Gol de Barriga 2” estão em produção.

“Uma breve história da Portuguesa”, sobre a querida Lusa da Ilha do Governador – e do Rio – sai no primeiro trimestre de 2021.

Para quem achou que ia derrubar minha trajetória literária com uma falcatrua, 16 livros sobre o Flu e 31 no geral ainda são pouco.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

#credibilidade

7 Comments

    1. Andel: Tenho vergonha do seu analfabetismo funcional e de você ser um covarde que precisa de pseudônimo para assinar o que escreve, ao contrário de mim.

  1. Enfim. A gestão Mário é tetrica e não merece nada, mas o Flu graças a Deus não se resume ao Mário (embora ele talvez pense assim) e é por ele que torcemos.
    Historicamente nosso returno tem sido pior, exceção de 2012 e ano passado. Vamos ver. Os próximos 10 jogos tendem a ter uma queda de performance. São os mais difíceis. Muitos fora de casa. Fomos muito bem no turno nessa etapa. Torcamos pra repetir. Particularmente Acho os próximos 3 jogos importantíssimos. Em pts corridos há partidas em que…

  2. Pois é, eu sempre lembro de 2915, mas acredito que o Fluminense vai dar alegria neste ano. Como vc disse não pode ficar de marra, tem que jogar serio

  3. O que me parece é que lamentavelmente a pífia (para usar um adjetivo suave) diretoria tricolor não tem nem mesmo a ambição de Libertadores! O clube não trazer um atacante é um erro que pode custar caro. Esperar que Fred aguente a sequência ou que Felipe Cardoso possa servir pra algo é zombar de nossa inteligência. Entendo que a não venda do Marcos Paulo tenha comprometido os planos (o Mário não tinha garantido que se não vendesse, renovaria?até agora, nada) de reforçar o time, entendo que a…

  4. Me sinto a vontade pra escrever, pois sempre defendi que brogariamos pela Libertadores. Menos por nossa qualidade, mais pela falta dessa nos outros.
    Não via nem vejo o Fluminense brigando pelo título. Penso que temos algumas carências graves (lateral direita, primeiro volante e, sobretudo, centroavante) que nos impedem de ambicionar isso. Ademais, nos pontos corridos, acho quase impossível competir com quem tem recursos muito superiores pra montar um grande elenco

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