Política – I (por Rafael Rigaud)

POLITICA 1Política.

O termo “política” tem vários significados, que podem ser alterados de acordo com o contexto.<

Para alguns, política é “a arte do possível”, para outros, é “a atuação do indivíduo enquanto ser político em sua sociedade”. Vou me prender ao conceito da coisa em si que diz que política é “o estudo das relações de poder”. Estudar e acompanhar a política é observar como se dá a relação entre pessoas, países, organizações internacionais, empresas, grupos. Dentro da política partidária, a observação recai em como é a dinâmica dos partidos políticos e as consequências desse jogo. Cientistas políticos e profissionais de Relações Internacionais se debruçam sobre o tema e quanto mais se aprofundam, mais complexo e sofisticado o tema fica. Sabemos todos que no mundo do futebol, amigos, também há a esfera política, esfera essa que, acompanhando a cultura política nacional, é das mais sórdidas e imundas que se pode imaginar (como não poderia deixar de ser, já que o futebol é a projeção do macro no micro, olhando pro universo do nosso futebol doméstico, vemos aspectos da nossa sociedade com muita clareza). Como temos acompanhado ao longo dessa semana, grandes duelos são travados fora das quatro linhas e há quem diga que futebol se ganha INCLUSIVE dentro de campo, tamanha a importância que tem as resoluções decididas em salas fechadas (a velha conhecida FERJ e a Confederação Sul-Americana que nos digam…).

O nosso tricolor enfrentará neste domingo o coirmão Vasco da Gama no primeiro jogo entre times da capital fluminense no novíssimo Maracanã e uma grande discussão se estabeleceu em torno desse jogo. O Fluminense, que numa coincidência fortuita celebrará seu centésimo-décimo-primeiro aniversário neste dia e, em júbilo, se reencontrará com sua torcida no seu mais tradicional palco, acabou de acertar contratualmente com o concessionário do estádio o direito de utilização do mesmo e, em paralelo a isso, fez valer sua condição de mandante na hora de deliberar onde cada torcida deve estar, dando aos vascaínos um setor que não é o mesmo que estes ocuparam por décadas no estádio. Começou aí a celeuma.

Os adversários de domingo alegaram que o espaço era seu “tradicionalmente” e acusaram o clube de Álvaro Chaves não apenas de desrespeitar uma tradição do Maracanã numa argumentação inconsistente, quase alegando um usucapião do setor, como se a eles pertencesse aquela parcela do Mário Filho. Essa de ‘temos nosso lado é simbólico, até porque ninguém nunca foi DE FATO O DONO DO MARACANÃ ao longo dessas seis décadas. O Maracanã ao mesmo tempo que “era” dos quatro grandes,era também do Kiss, Frank Sinatra, Madonna, The Police, Rock in Rio II, visitas do Papa, Backstreet Boys, cultos do Edir Macedo e etc, etc, etc. Por NOS SENTIRMOS EM CASA, nos ACOSTUMAMOS a achar que era de cada um, mas de fato, nunca foi, mesmo agora não será (o consórcio é dono do estádio, somos parceiros deles mediante contrato). A tentativa cruzmaltina de solicitar por “direito adquirido” o seu “lado natural” do estádio foi infrutífera.

Tendo falhado em sua primeira tentativa, surgiu uma reclamação de uma suposta ingratidão tricolor para com o coirmão, uma vez que entendem que nos “cederam” seu estádio para nós durante as oitavas e quartas de final da Copa Libertadores da América deste ano (fato que não procede, uma vez que ALUGAMOS o estádio nessas duas ocasiões e PAGAMOS para tal, logo o coirmão AUFERIU LUCROS da nossa presença em suas paragens). Na verdade, como fomos informados pelo blogueiro tricolor PC Filho, a situação é inversa: o coirmão da Zona Norte jogou no estádio das Laranjeiras (ao que tudo indica, de graça) enquanto sua casa não estava pronta, celebrando, inclusive, sua primeira conquista e levantando sua primeira taça no estádio do tricolor, isso na longínqua década de 1920 (mas isso parece não ter valor para os de São Januário).

Pior, alguns setores do Vasco tentaram desenterrar uma outra suposta dívida ainda maior, que seria a de ter nos retirado da série C para a série A (o que novamente não procede, haja vista que vencemos a série C – não foi mais que nossa obrigação, convenhamos – e estávamos na série B quando foi criada a Copa João Havelange, em que TODOS OS CLUBES FORAM CONVIDADOS, inclusive o coirmão Vasco que se sagrou campeão).

Não fosse tudo isso o bastante, ainda buscaram subterfúgios em laudos da PMERJ e da FERJ (que diabos a FERJ tem a ver com um jogo do Campeonato Brasileiro, que é organizado pela CBF? Gostaria que alguém me esclarecesse isso)alegando que tal mudança poderia ocasionar confusão e violência. Houve ainda uma carta-ameaça de uma organizada do Vasco dizendo de forma sutil que caso não ocupassem o setor que entendem que lhes é de direito e algum tipo de animosidade ou confusão tomasse conta do setor, caberia ao Flu ser responsabilizado civil e criminalmente (me perdoem a observação, mas saber o que é responsabilidade civil e criminal é algo para alguém que tem o mínimo de erudição em Direito, logo, alguém que ao fazer tal afirmação estava muito ciente do que estava querendo sugerir com tal afirmação, não sendo uma mera provocação de rival que se joga ao vento sem qualquer consequência, a mim pareceu algo de caso pensado).

No fim, nosso presidente Peter Siemsen foi irredutível e, ao respeitar contrato e não ceder a pressões, mostrou tanto que é cumpridor de determinações legais e quanto que é capaz de firmar posição favorável ao seu clube e não se deixar levar por qualquer tipo de tentativa de coação e intimidação. Tal firmeza do mandatário das Laranjeiras incomodou profundamente o Vasco que, como contrapartida e/ou retaliação anunciou querer somente 10% da carga de visitante deixando claro que no outro turno irá, tal qual o Flu agora, exercer seu direito de jogar em seu estádio e fazer o tricolor ser visitante com iguais 10% dos ingressos à venda.

(continua amanhã)

Rafael Rigaud

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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Em agosto, a apoteose da literatura tricolor com João Marcelo Garcez, Luiz Alberto Couceiro, Paulo-Roberto Andel, Valterson Botelho, Marcelo Janot e Cezar Santa Ana.

2 Comments

  1. excelente texto. derrete com qualquer dúvida a respeito da razão Tricolor de fato e de direito.

    1. Obrigado,Gustavo.
      Confesso que a intenção era essa,refutar,uma a uma,as argumentações cruzmaltinas.

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