Pobres clubes… (por Jorge Dantas)

A desorganização do futebol nacional é tanta que alguns de nossos clubes, donos de torcidas imensas, muitas delas maiores que a população de países, não conseguem se colocar bem nos rankings e estatísticas do futebol mundial.

O reflexo dessa gestão amadora e ineficiente, pra não dizer que não falei de flores, é o estado de penúria e risco de falência que clubes como o Flamengo e Vasco, por exemplo, enfrentam, com dívidas estratosféricas, penhoras de receitas, ações trabalhistas, etc. E, para complicar de vez, ainda tem a tal Lei Pelé, com a qual os nossos clubes ainda não aprenderam a lidar.

Marcas de grande valor e que possuem um potencial imenso de consumidores não conseguem faturar o suficiente para dar alívio aos problemas financeiros dos clubes e não reproduzem a expectativa de resultado que se poderia obter se essas agremiações agissem dentro de um moderno modelo empresarial.

Em todas as listas publicadas, a despeito da crise por que passa a Europa, nossos clubes não conseguem se colocar bem. A última é que o Flamengo ocupa a décima posição no ranking dos maiores patrocínios de materiais esportivos, enquanto o Corinthians uma suposta décima segunda posição.

Para o leitor incauto pode parecer que estamos bem na fita, mas um país pentacampeão do mundo, cujo futebol é a principal atividade esportiva, que mexe com uma população de 200 milhões de pessoas, os números são vergonhosos. Compare o nosso faturamento com os números das ligas americanas de baseball, basket ou football (americano). É ridículo!

Mesmo sendo pentacampeões, estamos no terceiro mundo do futebol. Somos desprezados pela mídia internacional, haja vista a premiação dos melhores do mundo. Os jogadores da América do Sul não são vistos ou têm baixa exposição. As premiações são exclusivamente de jogadores de clubes europeus.

Para consolar-nos resta o fato curioso de que a seleção do ano foi formada apenas de jogadores do campeonato espanhol. Esnobaram os ingleses, os italianos, os franceses, os alemães.

A análise mais evidente remete ao complicado e ultrapassado modelo de gestão dos clubes e da CBF, à bagunça dos deficitários campeonatos estaduais, à falta de organização do calendário esportivo anual, que condena os atletas a um torturante e extenuante excesso de jogos e à uma mentalidade imediatista e irresponsável dos próprios atletas e a uma equivocada e ineficiente operação de marketing. Faz lembrar o tempo em que nossos clubes viajavam de navio para jogar no exterior. Talvez a única diferença seja que hoje viajam de avião, mas, no geral, carregam a mesma mentalidade de outrora. O abismo continua presente.

Outro fenômeno a se observar é que os maiores jogadores não trocam a Europa pelo Brasil. Os que retornam estão queimados em seus clubes ou amargam reservas. Não concorrem a prêmios, se desvalorizaram ou estão com idade avançada. Somos apenas um celeiro de grandes jogadores para o mercado europeu, do mesmo modo que os clubes pequenos dos Estados fornecem revelações para os times dos grandes centros.

É preciso haver uma reforma radical no modelo de gestão do futebol brasileiro e na forma como encaramos esse esporte como negócio. Os clubes precisam se profissionalizar e adotar formas de administração semelhantes às empresas, onde o lucro e a liderança de mercado sejam seus objetivos. Brincar de clube de esquina, administrar provincianamente apenas por amor e pensar de forma retrógrada como nos tempos do amadorismo expõe os clubes ao risco de desaparecerem ou ficarem anos a fio sem títulos, limitados à memória nacional ou municipal. O mundo está globalizado e os clubes precisam ter expressão internacional, serem admirados em outros continentes para serem chamados de grandes.

Até que isso mude, nossos grandes clubes serão grandes apenas no nosso imaginário. Os donos da mídia, dos grandes contratos, dos grandes astros e dos grandes espetáculos continuarão sendo os espanhóis, os franceses, os ingleses e os italianos. Ou, futuramente, os japoneses e os chineses. Eles, sim, sabem fazer do futebol um negócio de sucesso.

Um novo ano esportivo começa no Brasil e na América do Sul. Temos a Copa das Confederações, que vai interferir no nosso calendário, e, no ano que vem a Copa do Mundo. Pode ser que esses eventos ajudem os clubes a mudarem a sua visão e se voltarem a uma estratégia mais audaciosa e evolutiva.

Jorge Dantas

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin