Pelo time (por Mauro Jácome)

PELO TIME

Findo o Campeonato Carioca, a Libertadores, que já era o principal torneio neste primeiro semestre, agora, reina absoluta na cabeça de todos que têm alguma relação com o Fluminense. As coisas estão claras. É preciso ter fôlego para ir longe.

Além dos aspectos de dentro das quatro linhas, pode-se perceber, também, como se comporta o torcedor sul-americano. Longe daquele comportamento frio, mais parecido com o do público de peças teatrais, que caracteriza alguns países de outros continentes, por aqui a coisa é muito mais quente nas arquibancadas. Faixas, bandeiras, fumaça, foguetório, papel picado e, principalmente, garganta. Há, também, os excessos, mas isso fica para se discutir em outro momento. Os torcedores pulam e cantam por uns 150 minutos. São só noventa minutos de jogo, mas eles já estão lá, em aquecimento, quase uma hora antes. Nem contei o pós-jogo. O interessante é que o resultado, geralmente, não influi nos ânimos. 0 x 1 e o torcedor acha que o time dele merece mais incentivo. 0 x 2, o som aumenta. 0 x 3, alucinam.

É regra? Não. Por isso, disse: “geralmente, não influi nos ânimos”. O brasileiro, salvo exceções, não é tão altruísta, tão desapegado do que vem de dentro do campo. Talvez, a mais fiel hoje em dia seja a corintiana. A fase ajuda. Há anos atrás, a coisa não era bem assim.

A torcida gremista e a colorada procuram seguir o estilo argentino, seja no gogó, seja na decoração, seja nas coreografias. A intensidade não é generalizada por todos os setores dos estádios, é localizada, principalmente, detrás dos gols, nas curvas. Mundo afora, esta região dos estádios, a curva, é destinada a quem quer apoiar integralmente. O engraçado é que, em alguns lugares, nem curva tem, mas eles estão lá e com esse nome.

Contrapondo esse estilo, também por aqui, tem o torcedor que “vende” seu apoio, ou seja, ele aplica seu entusiasmo na mesma proporção do desempenho do time.

No geral, a torcida do Fluminense oscila. Tem fase em que se entrega ao time, tem fase em que desconfia e abandona o time. Tanto num momento, quanto no outro, tem os que apoiam incondicionalmente. Dizem os assíduos frequentadores das arquibancadas que são 15 mil tricolores. Esse contingente que sempre marca presença se irrita muito com aqueles que só aparecem nos jogos de grande apelo e, mais, têm comportamento mais de consumidor do que de torcedor, ou seja, se o espetáculo não está do seu agrado, vaia impiedosamente.

Os anos 2008 e 2009 são exemplares quanto à oscilação da torcida. Uma campanha espetacular na Libertadores de 2008, incendiou os tricolores, que vinham recuperando uma autoestima adormecida. Aquelas festas nos jogos do Maracanã, que chegaram ao lugar mais alto do pódio da criatividade, serão lembradas eternamente. Três jogos foram emblemáticos: São Paulo, Boca Juniors e LDU. Mesmo em desvantagem, a torcida acreditou no time e, principalmente, em si, no seu papel, na sua importância para construir um destino.

No segundo semestre de 2008, a frase “vamos brincar no Brasileiro” vinha à mente a cada resultado negativo e quando o rebaixamento pintava-se como uma realidade. A partir daí, a torcida começou a esquecer daquela abnegação recente.

O Brasileiro de 2009 foi mais característico ainda: em pouco tempo, a torcida foi de um extremo ao outro. Os primeiros dois terços daquele campeonato condenavam o Fluminense a uma inevitável segunda divisão. O torcedor não perdoou e, além de muitos divorciarem-se, os poucos que ainda tinham coragem de aparecer soltavam os cachorros.

De repente, lá na grade da arquibancada (verde ou amarela, não lembro) surgiu um faixa pedindo, suplicando, implorando, paradoxalmente imperativa, um emocionado: LUTEM ATÉ O FIM. Nas primeiras vezes, talvez, os jogadores olhassem-na sem crédito. Mais uma cobrança em meio a outras dezenas, centenas. O jogo contra o Atlético Mineiro, tão bem descrito no livro Duas Vezes no Céu, de Paulo-Roberto Andel, foi o ponto de inflexão. Uma partida dramática. Uma derrota provável foi substituída por uma vitória emocionante, arrancada da alma dos grandes guerreiros que a história exalta. Talvez, a faixa, ensopada aquele dia, tenha sido compreendida, finalmente. A partir dali, uma onda crescente de torcedores saía de suas casas, de seus leitos, de suas tumbas, convidados pelo desespero, para deveres clubísticos, rodrigueanamente falando. Sem querer nada em troca no começo, exceto luta. Mas a faixa personificou-se. De simples súplica, virou exigência, ou prova de capacidade. Aos poucos, cada torcedor nas arquibancadas era uma faixa.

Uma Sul-Americana incrustrada na arrancada ajudou a corrente. Classificação suada em cima de classificação heroica até encontrar-se, novamente, com o seu algoz de ano atrás. Não importava, relevou-se, porque o que valia era manter-se na elite. E assim foi. Muitos torcedores de outras cores, inclusive alienígenas admiradores do nosso futebol, lembram-se daquele feito até como uma lição de vida, de superação.

Acordo do transe que é relembrar aquilo tudo e volto a 2013. Saudades. Mesmo não estando fisicamente lá, mesmo pela TV, sentia-me no meio da multidão, até mesmo porque um pouco de mim estava mesmo em muitos daqueles jogos, especificamente nos da Libertadores de 2008, na alma aventureira e apaixonada de meu filho Hugo.

Enfim, todo esse histórico serve para que eu tenha esperança de que, neste momento, quando o time mais precisa, o tricolor reincorpore aquele espírito. Leia para si uma imaginária faixa “TORÇA ATÉ O FIM” e seja torcedor do time e não do jogo.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

2 Comments

  1. O que você sabe de 1987?

    O Aqipossa quer a ajuda de vocês. Estamos realizando um trabalho sobre a farsa de 1987. Foram meses de pesquisas onde foram colhidas informações importantes e incontestáveis sobre os fatos desta competição.

    Agora estamos na fase de construção de um mini e-book e elaborando a melhor forma de expor toda a verdade sem que fique algo confuso para os torcedores de todo o Brasil.

    Mas queremos sua ajuda para uma das partes desse trabalho. O AQIPOSSA quer saber o quanto o torcedor sabe sobre o Brasileirão de 1987. Ajude respondendo as perguntas sem procurar as respostas pela Internet.

    O que importa nessa pesquisa não é quem sabe mais, e sim, o quanto se sabe de uma forma geral.

    Obrigado a todos que quiserem participar. O futebol em geral agradece. Cliquem abaixo:

    O que você sabe de 1987?

    http://aqipossa.blogspot.com.br/2013/05/o-que-voce-sabe-de-1987.html

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