Os nômades da bola (por Rafael Rigaud)

RIGAUD RED

Queridos (as), estamos vivenciando muitas novidades recentemente no que diz respeito ao nosso Tricolor. Porém, o que me fez traçar essas linhas aqui não é o novo contrato de material esportivo assinado recentemente com a DryWorld, nem a estreia de Levir como nosso treinador após dois jogos de invencibilidade do mito Marcão, muito menos o fato estarmos com nossa base de Xerém viva e pulsante em campo nesse elenco misto de hoje. Sequer é o calendário da Primeira Liga e seu regulamento que vai receber minha atenção. É sobre algo que tem acontecido conosco de forma recorrente nos últimos anos e décadas: o nosso estado de sem-teto.

Estamos nômades. Não temos onde jogar quando o Maracanã fecha. O Mário Filho é aquele lugar que todo mundo sente que é seu, mas sabe que na realidade não é e provavelmente nunca será. O “Maraca é nosso” (SIC), mas é também do Frank Sinatra, do Kiss, do Papa João Paulo II, do Rock in Rio II, do The Police, do Foo Fighters e de qualquer artista e/ou time de futebol que seja posto para se apresentar/jogar lá.

No começo da década de 1990, o então maior do mundo foi fechado para obras depois do desabamento de um guarda corpo e a morte de torcedores rubro-negros na final do Brasileiro de 1992, contra o Botafogo, e nos remediamos como deu: usamos estádios menores da capital e também nossa casa (tendo, inclusive, jogado a final da Copa do Brasil por lá) e assim sobrevivemos como foi possível. No fim daquela mesma década (quando respirávamos por aparelhos), usamos o Maracanã pela metade quando este teve seu antigo anel superior fechado para instalação de assentos para o futuro Mundial de Clubes FIFA realizado no Brasil em 2000 (muitos de nós, do Panorama, fomos testemunhas oculares do que foi Fluminense x Náutico, na Série C de 1999, debaixo de um dilúvio e contando somente com a geral e cadeiras).

Nos anos 2000 tivemos que nos deslocar até Volta Redonda, quando mais uma reforma fez o Maracanã fechar (dessa vez para os Jogos Panamericanos) e, no fim de 2010, disputamos a reta final da campanha do tri brasileiro no Engenho de Dentro, no estádio Olímpico (novamente o Maraca fechou para obras, dessa vez para o Mundial de 2014).

Agora estamos na década de 2010 e novamente estamos sem poder jogar no nosso principal palco. Ficamos assim até 2013 em virtude de obras para a Copa e novamente estamos na mesma graças a novas obras (quantas para um estádio só, hein?) visando aos Jogos Olímpicos, com o agravante que nem o Estádio Olímpico está disponível por ora (pelo mesmo motivo).

Novamente somos nômades e atuamos fora da capital fluminense, isso quando não fora do estado do Rio de Janeiro.

De certa forma, dá a possibilidade ao torcedor país afora a chance de ver o time mas, ao mesmo tempo, pode influenciar negativamente nosso resultado esportivo além de prejudicar o plano de sócio torcedor, ao fazer tricolores pagarem por benefícios que não podem usufruir, caso do ingresso. Diante de tudo isso, e também do que estamos passando nessa temporada de 2016 (jogos vazios em Volta Redonda, Los Larios – estádio situado em Xerém cuja capacidade não passa de 8.000 pessoas e está situado numa localidade em que não existe mais nada além do próprio),não consigo não perguntar: por que não reativar Laranjeiras?

laranjeiras 1991

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Sei que nossa casa quase centenária deixou de ser moderna faz tempo e que hoje não tem a mínima condição de receber jogos oficiais (ainda que houvesse melhoramentos para tal, o custo seria alto demais para tal empreitada valer a pena sob o ponto de vista financeiro), mas entre ficar pulando de galho em galho e ter de novo um campo para chamar de seu, valeria a pena pensar na possibilidade de futuramente remodelarmos nosso estádio, de modo a novamente jogar em casa e parar com essa vida de caixeiro viajante, atendendo às exigências legais de segurança e com a devida chancela do Corpo de Bombeiros.

A favor dessa iniciativa contariam o fato de termos num perímetro não muito grande duas estações de metrô (Largo do Machado e Flamengo), além de linhas de ônibus na Pinheiro Machado indo para o Centro e Zona Norte, além de outras localidades da Zona Sul (transporte público seria essencial para essa empreitada, uma vez que não temos estacionamento abundante nas nossas dependências), isso sem contar que na Av. Beira Mar (ao longo da Praia do Flamengo) também há opções de transporte público, ainda que se tenha que andar um tanto mais do que da nossa sede até as estações de metrô.

Há estádios mundo afora de pequena capacidade, construídos em bairros residenciais onde a torcida se encontra pertíssimo do campo de jogo (característica que sempre jogou a nosso favor e fez do Laranjal um “alçapão”), e que são extremamente funcionais, servindo aos interesses do clube e dos seus fãs. Cito como exemplos o Loftus Road (pertencente ao Queen Park Rangers) e o estádio Craven Cottage (pertencente ao Fulham), ambos em Londres.

loftus road

 

No nosso caso, é evidente que não precisaria custar o preço nem ter o requinte de um estádio padrão FIFA; na verdade nem poderíamos almejar algo assim (o Palmeiras fez uma arena nesses moldes e hoje está tendo conflitos com a construtora que foi sua parceira no empreendimento), Precisaria somente atender bem às nossas necessidades e nos livrar de a cada rodada ter deslocamentos aéreos e/ou rodoviários e mais despesa sem garantia alguma de retorno financeiro no estádio novo (é coisa rara um estádio lotar hoje em dia no Brasil).

craven fulham

Ter nossa casa novamente usada para jogos oficiais seria asolução para todos os problemas? Definitivamente não, tanto é que outros clubes que possuem estádios de pequena/ média capacidade de público usam estádios maiores para jogos de grande apelo (vide o CRVG, que troca São Januário pelo Maracanã, e o Santos – que abandona a Vila Belmiro e sobe a serra para jogar no Pacaembu). Mas nos tiraria desse nomadismo e nos permitiria voltar às origens, ainda que em lotação diminuta

Tenho certeza que muito tricolor prefere nosso onze jogando para seis ou sete mil torcedores no nosso solo sagrado do que hoje aqui e amanhã ali, para públicos ainda menores (a título de exemplo: o jogo entre Flu e Criciúma seria jogado em Edson Passos mas repentinamente foi transferido para Juiz de Fora na semana em que estava marcado). O que não podemos mais é ficar ao sabor do vento como estamos nesse momento.

A construção do nosso CT felizmente anda a passos largos e tem previsão de conclusão ainda este ano. Talvez com o encerramento dessa etapa na reconstrução do futebol do Fluminense (com melhorias em Xerém e aumento do nosso patrimônio com o CT profissional na zona oeste), quem sabe poderíamos começar a sonhar com mais um passo adiante do nosso Tricolor?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: rr

5 Comments

  1. Infelizmente, além da vontade da diretoria seria necessário por igual capacidade, algo que faltou a atual diretoria onde mesmo a saber a tempos da ausência dos dois principais estádios do Estado, nada fez para que a situação em que vivemos hoje, pudesse ser evitada. Enfim veremos o que será da situação casa também após todo esse embrolho a envolver governo do Estado e Consórcio.

    E por favor meu camarada, saia do chinelo e não fique mais um semestre sem texto.

    Abraços rs

  2. Inclusive aqui neste Panorama se não falha minha memória, já foi divulgado inclusive projeto desta transformação no Laranjal, inclusive com prédio que serviria como hotel e outras coisas, isso tudo sem mexer em nada na estrutura social de Laranjeiras.

    Dá pra resgatar essa postagem???

    ST

  3. Sonhamos e contamos com isso.
    Pergunto; saiu uma notícia a pouco tempo, que o flu deu Laranjeiras como garantia para uma dívida com a prefeitura, porém dizem que não se pode mexer no estádio pq o mesmo é tombado.

    Pelo que se sabe de ouvir falar (parece que ocorreu com os padeiros) um imóvel tombado NÃO pode ser dado como garantia de dívidas.

    Você saberia dizer ou consegue descobrir onde está a verdade???

    ST

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