Oito anos depois, mesmo palco, outra história, a história mal contada e o G-6 em 90 minutos (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, dizem as más línguas que a historiografia às vezes até que ajuda a contar a história. No caso em questão, a historiografia é terreno mais de competição de narrativas do que de esclarecimento, propriamente.

Foi no dia 8 de dezembro de 2013, há quase exatos oito anos, que Bahia e Fluminense se enfrentaram na Fonte Nova pela última rodada do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, pelas vias convencionais da informação, o Fluminense precisava vencer o Bahia e torcer por mais dois resultados (Athlético PR x Vasco e São Paulo x Coritiba) para conseguir uma então improvável permanência na Série A.

O Bahia, na mesma ocasião, já havia escapado do rebaixamento, contra o qual lutara até a penúltima rodada. Mesmo assim, a Fonte Nova recebeu grande plateia ali presente para celebrar a fuga do bicampeão brasileiro e o ocaso do Maior Clube do Brasil, rumo à Série B.

Ao final daquela partida, apesar da vitória tricolor, de virada, com gol de Samuel, que nos salvaria do rebaixamento, o que se viu foi a Fonte Nova em festa comemorando o que não acontecera. Enquanto isso, a torcida do Fluminense chorava e lamentava o mesmo falso desfecho. Decerto que há nesse enredo um habilidoso toque kafkiano. Nesse caso, eram duas realidades que se desenrolavam: a aceita e a real.

Pela realidade aceita, o Fluminense mesmo com a vitória, estava rebaixado, já que o Coritiba derrotara o São Paulo, nos permitindo, no máximo, terminar a competição em 17o lugar. Pela realidade real (a redundância é proposital) o Fluminense, ao apito final, estava livre do rebaixamento, graças a dois erros administrativos, de Flamengo e Portuguesa, na mesma rodada. Ambos relacionaram e colocaram em campo jogadores irregulares, o Flamengo no sábado e a Portuguesa no domingo, condenando-se a perder três pontos de penalização mais os obtidos em suas partidas derradeiras na temporada.

De modo que o Fluminense, ao apito final, chegava à 15a posição, à frente de Flamengo, Portuguesa e Vasco, que ainda enfrentava o Athlético PR já sabendo dos outros resultados. O Vasco escaparia com uma vitória, mas acabou sofrendo uma humilhante goleada do bom time do Furacão. Foi o que salvou o Flamengo do rebaixamento, deixando lá o próprio Vasco e a Portuguesa, além das outras duas equipes que já haviam sido rebaixadas antes da última rodada.

A história mal contada por uma imprensa omissa, para ficar só nos elogios, acabou rendendo um verdadeiro roteiro de farsas, mentiras e absurdos, combatido heroicamente pela torcida do Fluminense e parte da sua mídia local, mas que nos rendeu dias de cólera.

Os ingredientes da partida de daqui a pouco são bem mais simples e não se espera por algo sequer parecido com o que aconteceu naquele 2013. O palco é o mesmo, mas a história, embora envolva rebaixamento, é bem diferente. Dessa vez é o Bahia quem vive situação desesperadora, precisando vencer a qualquer custo, correndo sério risco de confirmar seu rebaixamento com uma rodada de antecipação em caso de derrota e mesmo de empate.

O Fluminense, do outro lado, vive uma situação completamente diferente. Com toda falta de lógica na gestão do seu futebol, o Fluminense pode, pelo segundo ano consecutivo, terminar o campeonato na zona de classificação direta para a fase de grupos da Libertadores, uma causa muito digna para uma grande grife nacional. A vaga não virá nesse jogo, independente do resultado, mas a vitória em 90 minutos pode nos levar ao G-6. Basta para isso que o Bragantino, atual sexto colocado, não vença o Atlético MG, melhor time do Brasil na atualidade, num estádio festivo e lotado de atleticanos.

É, portanto, bem possível que o Fluminense chegue ao G-6, que pode garantir a vaga na fase de grupos da Libertadores, caso seja o Atlético MG o campeão da Copa do Brasil. Portanto, jogamos amanhã por dois resultados: vitória sobre o Bahia e tropeço do Bragantino. Na última rodada, enfrentamos a rebaixada Chapecoense num Maracanã lotado pela Mais Extraordinária Força Popular do Planeta. Poderemos, então, defender nossa posição no G-6 e – quem sabe? – buscar a classificação imediata para a fase de grupos chegando ao G-5.

O time do Bahia, eu tenho assistido aos jogos, é um grupo emocionalmente fraco e que facilmente se dispersa durante as partidas. Se o Fluminense jogar compacto, trabalhar bem a posse de bola e encontrar uma forma de contra-atacar com rapidez, pode transformar um jogo dificílimo em uma vitória tranquila. O problema é o Fluminense conseguir fazer tudo isso, principalmente o último item.

A verdade, porém, é que chegamos ao final da temporada com os mesmos velhos vícios e com eles iremos até o final. Não adianta mais, pelo menos agora, a gente criticar o Marcão e a gestão do futebol. Para o momento, o que nos resta é torcer, e muito, porque uma ida direto à fase de grupos da Libertadores é muito importante em termos de prestígio para nossa marca e em termos econômicos.

Saudações Tricolores!