O réquiem da bola (por Erica Matos)

“A diferença de uma paixão eterna e a lembrança de um gol bonito
é que a lembrança desse gol dura mais”

Vinicius de Moraes

 Os apaixonados por futebol costumam tentar fazer de seus filhos torcedores do mesmo clube que amam.

No decorrer da vida, alguns seguem os pais, uns até certa idade e outros simplesmente não o fazem.

Futebol é algo que move paixões irracionais, com embasamento em fundamentos quase religiosos.

Traçando um parâmetro com a vida, no futebol não temos garantias. Dispomos de dias alegres, tristes e dias. No decorrer da partida chamada vida, temos que driblar dificuldades, arriscar chutes a gol e superar lesões.

No futebol, a torcida está na arquibancada. Na vida, geralmente a torcida está dentro de casa e na família. Eles vibram com nossas vitórias, choram conosco nas derrotas e nos apoiam o quanto podem.

Particularmente, tenho uma ligação muito forte quando se trata de família e futebol. Meu pai é quase um ditador da bola caseiro. Sempre nos disse que não tínhamos opção e que ser tricolor era herança do meu avô. Graças a Deus, todos crescemos torcendo para o Fluminense e, pasmem, parentes agregados se converteram ao Fluzão por influência do chefe de minha casa.

A vida é estranha e o futebol muita das vezes também é. Estamos bem e daqui a pouco tudo muda. As mudanças são inesperadas, às vezes surpreendentes e outras drásticas, nos fazendo encarar realidades que vão além do sonho das quatro linhas.

O futebol é analgésico para a vida. Esta sim não tem replay e o calendário não é nada programado.

Penso que, no findar da vida de um homem, o que fica é o que marcou a sua existência. Quantas vezes pude presenciar funerais onde cobria-se o caixão com a bandeira do clube amado. Em outros, membros da família iam vestidos com camisas do time do ente que se foi.

Lembro de um amigo rubro-negro que perdeu seu pai ano passado. Edison tinha um pai tricolor e pude presenciar o mesmo amigo de rixas e farpas clubistas me abraçar chorando, me agradecendo por estar ali e enfatizou que vestiu seu pai pela última vez com sua camisa predileta do Fluminense.

Essa ligação entre a vida, a morte e os ícones que marcam a existência estão presentes nos momentos de tristezas e despedidas.

Confesso não ter estrutura quando me coloco no lugar de alguém que perde seu ente que tinha o futebol como paixão. Sei que é da vida, mas a sensação que tenho é que ela deixa de ser amplamente vida quando parte de nós se vai.

Essa semana, perdi um grande amigo chamado Américo.

Grande visionário, escritor, sonhador e vascaíno.

Quando o conheci, ele estava com Davi, seu filho pequeno, me dizendo que ambos torciam para o Vasco.

Pedrinho

Hoje, o pequeno Davi tem dez anos e seu pai partiu, levando parte da sua história e deixando um legado, dentre eles o fato de ter tornado os filhos torcedores do Vasco da Gama.

Em momentos como esse, fico a pensar que qualquer clubismo acaba e as implicâncias corriqueiras com o time alheio se findam.

A vida é um tanto sem sentido e muitas vezes somos surpreendidos com a partida final antes mesmo que as rodadas chegarem até o meio do campeonato.

Pelo pequeno Davi, que perdeu seu pai, meu amigo Américo, deixo o clubismo de lado e torço para que o Vasco lhe proporcione alegrias e lhe traga lembranças doces acerca de seu pai.

Compadecendo-me com a dor que não sei mensurar, afirmando que ficarei feliz com gols do Vasco, que trarão à memória do pequeno, momentos vividos com seu pai.

Ao pequeno Davi desejo toda força para prosseguir. O jogo continua, querendo ou não. Espero que cada vitória do Vasco traga de volta um pouco do seu pai para pertinho dele.

Dedico este texto ao meu eterno amigo vascaíno Américo José Batista.

Obrigada pelos gols marcados no time da nossa amizade, grande amigo!

Meu carinho e admiração são eternos.

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Panorama Tricolor

@PanoramaTri @erica-matos

Imagem: em/pra

#SejasóciodoFlu

FRATERNIDADE

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