O pai tricolor (por Edgard FC)

Foi em um Dia dos Pais que debutei no Maracanã. A primeira vez que tive coragem e já não precisava de autorização para ir ao ‘Maior do Mundo’.

A tristeza atônita se deu porque fui sozinho, eu e Deus, como se diz por aí, pois meu pai sempre me desincentivou a querer ir ao Maraca, pois ele, seu Carlos Alberto, havia sofrido um trauma nas arquibancadas: viu um senhor de idade ser atingido por uma pedrada, em uma briga de torcida, e morrer.

Então carreguei comigo parte desse trauma mas, ao mesmo tempo, uma vontade imensa de superar e mais: a missão de fazer meu pai voltar a frequentar as fileiras do Maracanã.

E consegui. Após anos e anos de insistência e desculpas fajutas da parte dele, conseguimos almoçar juntos em um fatídico domingo, trinta e um de janeiro de dois mil e dez, e logo depois rumar ao estádio, para um Fla x Flu, onde perdemos de cinco a três, um jogo retumbante e aterrorizante.

Porém, o mais importante no dia foi levar o seu Carlos de novo ao estádio. E desde então, virou rotina, sempre que podíamos ir juntos, fomos. Uma pena a maioria das vezes ter sido no Engenhão, mas foi igualmente importante.

Hoje, Dia dos Pais, muitas fotografias antigas e muitas lembranças de amigos e anônimos, assim como eu, na internet afora, destacando a importância da herança Tricolor e agradecimentos por seus pais levarem aos jogos. Eu guardo um misto de agonia e tristeza, mas também de alegria e realização, por eu ter invertido essa pirâmide com meu pai.

Agradeço aos céus por ter tido força de superar, junto com meu pai, esse trauma e demais mazelas que uma vida simples e muito precária nos impunha. E não tem jeito: das melhores lembranças ainda estará ela, a daquela tarde-noite de vinte e cinco de junho de mil novecentos e noventa e cinco, o dia do gol de barriga, o eterno feito no Maracanã. No mesmo dia, vinte e quatro anos depois, o nascimento do meu filho caçula, Akin tesla, mais um gol de barriga, superando uma eclâmpsia da companheira Mônica.

No mesmo ano, em dois mil e dezenove, já batizei meu filhonense no Maracanã. Não vem sendo fácil, mas tenho mantido toda a cria Tricolor, e mais: converti a Física Mônica a ter fé nas Três Cores que Traduzem Tradição.

Felicidades a todos os papais, os que o são organicamente e os que são forçados pelas circunstâncias da vida, a viver o papel. Aproveitem ao máximo a existência e experiências junto aos seus pais e filhos, pois a vida é trem-bala, parceiro – e a gente é só passageiro prestes a partir.