O novo modelo de negociações do Fluminense (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, eu não sei se ando desatualizado com as coisas ou se as coisas não fazem sentido algum. Saiu nos últimos dias a notícia de que o Fluminense negociou o Lucas Ribeiro, conhecido como Macula, jogador do Sub-23.

O atleta se transferiu em definitivo para o futebol português. O preço cobrado pelo Fluminense por essa transferência foi de “zero reais”. Pelo menos é o que diz a notícia veiculada pela imprensa esportiva. Em compensação, nós ficamos com 50% dos direitos econômicos do atleta em caso de futura transferência.

Poderíamos dizer que isso é só a comprovação de que o Fluminense se transformou num grande comércio de jogadores. Você coloca o jogador na vitrine na Europa e abre mão de parte de uma futura receita para rentabilizar o investimento no jogador.

O estranho é que o clube que adquire o atleta não paga nada pela parte que lhe caberá nos direitos econômicos do atleta. É como se eu tivesse 100% de um automóvel e vendesse 50% dele para você. Aí você fica rodando com ele e, caso o venda, embolsa metade da grana sem ter pagado nada pelo carro.

Fica mais legal quando a gente começa a suspeitar de que a negociação do Spadacio com o futebol lá do Oriente Médio se deu nos mesmos termos, quando o jogo deste sábado nos sinalizou a enorme necessidade de ter um jogador como ele, que era o destaque do Sub-20 no ano passado.

É só um exercício de suposição. Eu pego o Spadacio, que tinha tudo para se valorizar atuando pelo Fluminense, contribuindo esportivamente, e o vendo de graça (vender de graça é a última novidade em Laranjeiras) para um clube do exterior. Então, o Spadacio arrebenta por lá, recebe uma proposta e o clube do Oriente Médio fica com 50% da venda sem ter precisado pagar um centavo ao Fluminense.

Se alguém puder me explicar a lógica desse tipo de transação, por favor esclareça as dúvidas desse pobre ignorante, que não entende nada de propostas comerciais criativas.

Só para a gente poder entender, tem a tal taxa de vitrine. O Fluminense pega um jogador da Tombense, que vem com preço fixado de R$ 2 milhões, mas se houver interesse de algum clube europeu nesse interim o Fluminense coloca 20% do valor da venda no bolso, porque expôs o jogador.

Isso faz sentido, porque todos saem ganhando. Outra coisa é o Fluminense vender o seu jogador por zero milhões para um clube do exterior ficar com 50% dele.

***

Então a gente tem o jogo de sábado. Teve gente que viu um show de horrores, que eu confesso não ter visto.

Vi um Fluminense técnica, tática, física e conceitualmente superior ao Botafogo. Aliás, não é de se estranhar que tenha sido o Fluminense o responsável por proporcionar ao Flamengo uma enxaqueca inesperada nas finais do Flamengão, enquanto Vasco e Botafogo não foram notados.

O que eu tenho dito aqui, e repito, é que o Odair tem um trabalho que precisa ser respeitado. O Fluminense não é um time sem ideia de jogo, sem organização e sem propósito dentro de campo. É um time que marca organizadamente, que varia posicionamento com responsabilidade e que tem qualidade na transição.

Nós estamos naquela fase em que o time funciona independentemente das peças. A jogada do nosso gol é uma pintura. A bola sai do goleiro e passa por oito pés até chegar a Evanilson, que faz uma diagonal por trás da zaga para receber um passe magistral de Marcos Paulo e fuzilar o goleiro do Botafogo.

O problema é que eu estava incomodado desde o primeiro tempo porque o time fazia bem a transição mas parava no campo de ataque. E a única jogada ofensiva que funcionava era exatamente o Marcos Paulo achar um vazio na marcação adversária para meter uma bola para o Evanilson.

O primeiro tempo foi assim e o time até subiu de produção no segundo quando o Michael Araujo começou a se achar em campo. A gente precisa destravar esse meio de campo arrumadinho para ter criação de jogadas ofensivas. Não pode passar um jogo inteiro com uma única jogada.

Mas é aí que entra o problema, porque não sabemos se Marcos Paulo, disparado o melhor em campo sábado, e Evanilson atravessarão a janela, e aí entra o modelo econômico anacrônico do clube. É por isso que eu prevejo tanto sofrimento para o restante da temporada.

Odair já provou que treina o time e que tem talento para criar alternativas táticas, mas a escolha de peças, ou a escassez delas, comprometerá seu trabalho de forma dramática.

Não dá para você ter um jogador como Miguel e deixá-lo fora da escalação titular. Não dá para você Marcos Paulo dar uma assistência para Evanilson fazer um gol e no momento seguinte o técnico tirar o Evanilson, que estava com problema físico, é bem verdade, para colocar Wellington, deixando o time sem centroavante, obrigando Marcos Paulo, que era o homem que criava, a ocupar aquela função.

Você tirou, de uma só vez, o arco e a flecha do time.

Não adianta ter um time com organização e obediência tática, com ideia de jogo, mas que faz uma transição eficiente sem o complemento, porque não tem rapidez nas ações ofensivas e falta aproximação criativa do meio de campo, enquanto Evanilson está isolado no ataque.

Às vezes isso pode ser resolvido com uma ou duas peças. A engrenagem funciona. Os Fla-Flus estão aí para não nos deixar mentir, mas não podem servir de parâmetro para você consolidar um padrão de escalação.

O Mirassol eliminou o São Paulo, que enfrentou o Corinthians ontem, que teve que contar com a velha ajuda da arbitragem para ir à final do Paulista. Estamos voltando para a temporada e está todo mundo recomeçando. O Grêmio tem fundamentos sólidos e suou para vencer o Novo Hamburgo ontem.

O que eu estou querendo dizer é que o que funciona e não funciona em Estadual precisa ser encarado com parcimônia. Tem que analisar o trabalho para além dos jogos.

Odair precisa quebrar alguns de seus paradigmas e, o que é mais difícil, o Fluminense precisa reter Marcos Paulo, Evanilson e Miguel. Se isso não acontecer nós seremos um time estéril, chato e previsível.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

6 Comments

  1. Savioli,
    Penso que a análise quanto à permanência dos jovens MP, Evanilson e Miguel dependa de um contexto. Avalio os casos Evanilson e MP muito parecidos. Evanilson teve as negociações para renovação de seu contrato arrastadas na gestão Abad, o empresário esperou vencer o compromisso e abocanhou a maior parte dos DEs. Salvamos uma migalha e sabemos que, cedo ou tarde, ele irá sair e pouco nos caberá. Particularmente creio que não saia agora. Fred é jogador q se lesiona muito, certamente não…

  2. Savioli,
    Penso que a análise quanto à permanência dos jovens MP, Evanilson e Miguel dependa de um contexto. Avalio os casos Evanilson e MP muito parecidos. Evanilson teve as negociações para renovação de seu contrato arrastadas na gestão Abad, o empresário esperou vencer o compromisso e abocanhou a maior parte dos DEs. Salvamos uma migalha e sabemos que, cedo ou tarde, ele irá sair e pouco nos caberá. Particularmente creio que não saia agora. Fred é jogador q se lesiona muito, certamente não…

  3. Fala Marcelo, acompanho sempre os seus textos, parabéns pelas publicações.
    Sobre as negociões, a minha visão é positiva, são jogadores que já foram testados no time profissional, não renderam, alguns já foram ate emprestados sem sucesso/protagonismo e o Flu encontra uma forma de expor esses jogares, desonerar a folha e, talvez, lucrar no futuro.
    Um ponto que nos incomoda a algum tempo é a quantidade de jogadores que estavam pendurados no Flu(com contrato/na folha de pagamento) sem jogar…

    1. Fala Thiago!

      Então? Até entendo seu ponto de vista. Para mim seria positivo se esse tipo de negócio fosse feito somente com jogadores que possuem contrato e comprovadamente não têm mais nada a agregar ao elenco profissional. Não é o caso do Spadacio e do Rezende, que vinham se destacando no Sub-20 e nunca tiveram uma chance no profissional.

      ST

  4. Segundo o portal da transparência, o percentual do Fluminense nos direitos econômicos do Lucas Ribeiro é de 70%.

    1. Se é assim, nós abrimos mão só de 20%. Aí faz sentido. A questão é que esses termos das negociações tinham que ser publicados no Portal da Transparência, porque assim não tem especulação.

      ST

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