O Fluminense vai ser um time chato de vencer (por Marcelo Savioli)

“O Fluminense vai ser um time chato de vencer”.

Amigos, amigas, vocês podem escolher que leitura fazer da frase acima.

Na linha Odair isso pode se aplicar de duas formas:

  1. O Fluminense é um time difícil de ser vencido;
  2. É difícil o Fluminense vencer uma partida;

As duas interpretações estão corretas. O Grêmio sabe bem a dificuldade que foi vencer o Fluminense na noite deste domingo.

O Fluminense só conseguiu vencer uma partida desde a volta da pandemia, mas deu uma trabalheira danada para o atual campeão brasileiro e da Libertadores. Deu uma trabalheira danada para o Grêmio, que é, possivelmente, o grande rival do atual campeão brasileiro.

O Fluminense de Odair Hellmann é um time bem definido taticamente, bom na defesa e com alguns bons recursos ofensivos, mas que faz um sacrifício danado na hora da transição ofensiva.

Uma das jogadas mais comuns que temos visto é o time sair tocando bola, rodar, rodar e acabar voltando no goleiro. Isso acontece porque nós não temos meio de campo. Temos um time de cintura dura, que tem enorme dificuldade de quebrar as linhas de marcação adversárias.

Tivemos chances importantes de gol, mas vale lembrar que isso foi contra um adversário que gosta de jogar, que propõe o jogo e, com isso, acaba oferecendo espaços. O problema, ao meu ver, será enfrentar adversários que jogam mais fechados que nós, aqueles que jogam por uma bola, embora eu não ache que haverá muitos neste campeonato.

Então, o que podemos esperar é um time com muita dificuldade de pontuar. Odair deu voltas e mais voltas mas nunca abriu mão de jogar da forma como jogamos ontem. Sempre foi a ideia central jogar com três volantes e dois homens abertos nas pontas: Nenê e Marcos Paulo.

Como os volantes não são organizadores de jogada, enquanto Nenê e Marcos Paulo são jogadores de último passe e finalização, falta quem construa o jogo a partir do meio de campo. Odair, com uma falha conceitual grave, tenta reproduzir o modelo da Alemanha campeã do mundo em 2014. A diferença é que os três volantes dos caras eram Tony Kross, Schweinsteiger e Sami Khedira. Os laterais eram defensores, enquanto os volantes eram encarregados de construir as jogadas.

Tem essa grande distorção de alguns técnicos brasileiros, que insistem em abrir dois homens pelas pontas e avançar os laterais, deixando o time sem capacidade de construir jogadas pelo meio, porque os volantes, com baixo potencial criativo, ficam encaixotados pela marcação adversária. Dodi e Yago são muletas de camisa dez. Com um cara de criação podem ser muito úteis. Sem ele, vão desarmar o adversário e devolver a bola.

É totalmente diferente do conceito do ano passado, com Diniz, quando tínhamos três meias, que atuavam como volantes, que no final das contas é a mesma coisa nos dias atuais, que construíam jogo: Alan, Daniel e Ganso. E ainda tínhamos jogadores que conseguiam abrir espaço com velocidade, casos de Yony, Everaldo e até mesmo Luciano, apesar de ser um jogador um pouco mais pesado.

E onde eu quero chegar com isso? Temos um técnico que pensa primeiro em não perder o jogo. Com isso a gente não vence. E todos nós sabemos o que acontece no Campeonato Brasileiro com times que não vencem.

O meu diagnóstico é que nós temos um grande problema. Odair repete no Fluminense a receita do Inter no ano passado. Andou fazendo graça na Libertadores e na Copa do Brasil, até ameaçou engrenar no Brasileiro, mas no final não aguentaram essa ideia de jogo do Hellmann e o demitiram.

Acho que hoje nós podemos entender o porquê. O Fluminense é aparentemente competitivo, mas o jogo vai passando e a gente percebe que sempre vamos parar nas cordas, como foi o jogo de ontem, em que o Grêmio foi aos poucos se impondo e alugando a intermediária.

Qual a solução? A solução eu não sei, mas é evidente que temos um grande problema. Nós estamos em agosto e podemos perceber que tudo que se construiu sob Odair Hellmann foi aquilo que vimos ontem, com o que, em sua visão de futebol, ele está satisfeito, embora eu possa arriscar dizer que nenhum de nós está.

Tem uma metáfora do Gustavo Albuquerque sobre o Edinho, volante campeão brasileiro de 2012, que dizia que ele parecia um ônibus tentando manobrar na rua da Alfândega. É uma visão quase escatológica. Só que o Edinho tinha ao seu lado Jean, Deco e Thiago Neves. Quando não tinha Diguinho, Valencia ou Wagner. Quando você monta um meio de campo com Yuri, Dodi e Yago, você consegue causar um profundo mal estar no torcedor só de olhar a escalação.

É que a gente, na hora de procurar a solução, olha pro passado, para a construção do elenco, para a escolha do treinador, do conceito de jogo. Agora, em pleno agosto, com a perspectiva do assédio aos nossos melhores jogadores, com um técnico que pensa futebol tentando amarrar o adversário, fica muito difícil.

A boa notícia é que o Campeonato Brasileiro está só começando. Só tem uma rodada. Qualquer decisão precisa ser tomada agora e com um projeto muito claro, mas eu não arriscaria um tostão em que a atual gestão seja capaz de formular um projeto sequer para o Fluminense atravessar a rua no sinal, quanto mais pensar em uma ideia de jogo.

Resta-nos assistir aos próximos jogos para ver onde vai dar a conjuntura atual. O horizonte não é nada promissor.

***

Espero que o dia dos pais dos amigos tenha sido de muita alegria, apesar do Fluminense. Eu, particularmente, vivi um dia ambíguo. Ao mesmo tempo em que pude passar o dia com meu filho, e ainda ganhei de presente a linda nova camisa tricolor, tive que amargar a ausência do meu pai, hospitalizado em estado grave. O guia que me apresentou a paixão pelo Fluminense e a arquibancada do Maracanã, verdadeiramente a minha segunda casa.

Mas a gente não pode ter tudo nessa vida nem dispor da hora que não nos pertence. Então a gente vai light, vivendo e pedindo que o desfecho seja o melhor para aquele que é minha grande referência na vida.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

#credibilidade

5 Comments

  1. Savioli. Antes de mais nada que seu pai se recupere rapidamente, força tricolor. Com relação ao seu comentário, muito brilhante como sempre. A frase “Quando você monta um meio de campo com Yuri, Dodi e Yago, você consegue causar um profundo mal estar no torcedor só de olhar a escalação” fala por si.

    1. É porque talvez você não tenha visto ainda a possível escalação contra o Palmeiras. É de doer.

      Agradeço aos amigos pelas mensagens. Está nas mãos dos médicos e de Deus. Aqui a gente tem que aguardar com paciência.

      ST

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