O Fluminense, um feitiço do tempo (por Aloisio Senra)

Aloisio Senra

Tricolores de sangue grená, quem já possui uma certa idade, passando da casa dos 30, talvez se lembre do famoso filme protagonizado por Bill Murray, intitulado “O Feitiço do Tempo” em português (o nome original era Groundhog Day, ou “O dia da marmota”). Nesta produção, o personagem de Murray era o repórter Phil Connors, que acabou tendo que fazer uma reportagem na cidade de Punxsutawney, onde ele ia todos os anos – bastante a contragosto – para cobrir o “dia da marmota”, um evento local. A marmota, curiosamente, tinha o mesmo nome que ele (Phil). Ocorre que, naquela ocasião, o dia não se passa e ele acorda exatamente no que deveria ser o dia anterior, repetindo sempre o mesmo ciclo até conseguir o amor correspondido da repórter Rita, vivida por Andie MacDowell.

No dia 11 de novembro de 2012, o Fluminense vencia o Palmeiras por 3 a 2 pela 35ª rodada no estádio Eduardo José Farah, em Presidente Prudente, e sagrava-se tetracampeão brasileiro. O dia seguinte, 12 de novembro, foi o nosso dia da marmota. A partir daquele instante, toda a mentalidade vencedora, toda a magia que transformava aquele time num esquadrão invencível desapareceu. Perdemos para o Cruzeiro em casa no dia da comemoração do título na rodada seguinte, só empatamos com o rebaixado Sport na sequência e, para completar, perdemos para o Vasco em casa, deixando passar a oportunidade de batermos o recorde de pontos no Brasileirão dos pontos corridos.

O ano de 2013 deu sequência à sofrência. Eliminação nas semifinais do Carioca para o Vasco, eliminação nas quartas-de-final da Libertadores para o Olímpia (0 a 0 é melhor do que 2 a 1, lembram?), eliminação nas oitavas-de-final da Copa do Brasil para o Goiás e o caso Flamenguesa no Brasileirão, em que a degola esteve muito próxima. Em 2014, mais uma eliminação nas semifinais do Carioca para o Vasco, um dos maiores vexames da história na Copa do Brasil tomando de cinco do América-RN dentro do Maracanã, um posterior vexame na Copa Sul-Americana para o Goiás e, no Brasileirão, um sexto lugar que não nos levou a nada, com direito a goleada da Chapecoense também no Maracanã.

Em 2015, ano em que tivemos um bom desempenho, segundo o Sr. Bittencourt, fomos à Florida Cup tomar uma surra do Bayern e do Köln, depois jogamos – e perdemos – as semifinais do Carioca, dessa vez para o Botafogo, e emendamos com uma participação ridícula no Campeonato Brasileiro, terminando a competição em décimo-terceiro lugar, com destaque para mais uma derrota em casa para a Chapecoense (e outra fora), uma sova em casa do Palmeiras e outra do Atlético-MG em Minas. O ano só teve como positivo mesmo o fato de termos chegado às semifinais da Copa do Brasil. Foi mais ou menos como a primeira vez em que Phil consegue roubar um beijo de Rita. No fim das contas, não deu em nada.

E chegamos a 2016. Novo sparring na Florida Cup, empatando com o Shaktar e perdendo do Inter. No Carioca, repetição do ano anterior, caindo nas semifinais pro Botafogo. Na Copa do Brasil, caímos para o Corinthians nas oitavas-de-final, em que pese a arbitragem ter sido venal. No Brasileirão, é o que estamos vendo atualmente. Não vencemos desde a 28ª rodada (vamos para a 38ª!) e deixamos escapar a vaga na Libertadores mais fácil da história (emparelha com 2005) jogando qualquer coisa bastante diferente de futebol. Só tivemos mesmo a comemorar a Primeira Liga, que equivale à primeira vez que Rita dormiu ao lado de Phil. Foi como se ele tivesse realmente conquistado algo, mas no dia seguinte estava tudo a mesma coisa.

Então, caríssimos, desculpem a coluna em ritmo de retrospectiva, mas é preciso que o próximo presidente eleito, Pedro Abad, busque os caminhos para conquistar logo o amor de Rita e quebrar o feitiço, porque o que não dá é pra passarmos mais um ano (ou mais três) repetindo com amargor o mesmo dia 12 de novembro de 2012. Que pelo menos a vitória sobre o Internacional esse arremedo de time consiga, para finalmente vingar a injustiça cometida em 1992 com o nosso tricolor. É questão de honra jogar para vencer e, por tabela, rebaixar o Inter. Já estão nos dando como galinha morta. Que coloquem os juniores em campo, mas é hora de voltar a vencer de qualquer maneira, a qualquer custo! E que 2017 quebre essa maldição que já perdura por quatro anos de uma vez por todas.

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Luto:

Embora tenha me referido bastante à simpática equipe da Chapecoense em meu texto por terem sido nossos principais algozes no passado recente entre os times de menor investimento, externo meus sentimentos à torcida, à comissão técnica, à diretoria e, principalmente, aos familiares das vítimas do lamentável acidente ocorrido na terça-feira passada. Não há palavras para expressar a dor e a frustração que todos nós sentimos nesse momento. Que as almas dos que se foram possam descansar em paz.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: seralo