O Fluminense e o labirinto Mário Bittencourt (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, dizem que de onde você não espera nada é que não vem nada mesmo. Nesse aspecto, a gestão Mário Bittencourt confirma a tese.

Eu não esperava nada além do que estamos presenciando, em todos os aspectos: financeiro, esportivo, de marketing e organizacional. Logo, não tenho com o que me decepcionar.

Decepção eu tive muita com a gestão Abad, de quem, por razões que já elucidei aqui, esperava muito. Esperava até o que o Fluminense precisa, mas a política do clube se mostrou um entrave incontornável para que isso acontecesse, assim como a própria pessoa do ex-presidente.

Há um aspecto, no entanto, que precisa ser salientado. O Fluminense, com Odair, chegou a uma condição no Campeonato Brasileiro que nos permitiu, em alguns momentos, até pensar no título.

Eu sei que poucos compartilham dessa minha impressão, talvez porque mesmo as decisões de Odair contrariavam uma visão mais ambiciosa. O que eu via era, para além das decisões do Odair, o potencial de um elenco que atravessou dois surtos de Covid e mesmo assim conseguiu ir brigar no G-4.

Vi a saída do Odair como uma oportunidade, apesar do risco, que ora se materializa como fato e como tragédia. De um lado, o risco de se perder tudo que Odair construiu, de outro, a possibilidade de que o sucessor tomasse decisões que aperfeiçoassem a ideia.

Marcão?

Com base no que vimos no ano passado, Marcão até poderia ser o cara para fazer essas mudanças. Após dois jogos, porém, o que se constata, pelo menos até prova em contrário, é que Marcão apenas se apropriou, de forma muito positiva, do legado de Diniz, superando-o em resultados, o que para mim é sempre um perigo quando se impõe uma análise mais profunda das questões futebolísticas.

Marcão perdeu o rumo, mantendo a política de escalações, mas sem conseguir a sintonia fina que levava o Fluminense a demonstrar pouca vulnerabilidade defensiva e uma capacidade enorme de se manter vivo em todas as partidas até o último minuto, conseguindo os resultados mesmo sem encantar ninguém.

Diante disso, qualquer visão mais otimista do futuro do Fluminense nessa temporada pode beirar à loucura. Só Odair, em sua genialidade, é capaz de conseguir o que Odair conseguiu fazendo tanta besteira.

O que nos leva ao exercício de já começar a pensar a próxima temporada. O que nos leva, por conseguinte, a pensar num nome para o comando técnico, que assuma imediatamente para tocar um novo projeto.

E é aí que nos deparamos com o labirinto Mário Bittencourt. Ao contrário da concepção original, esse labirinto não tem saída. Por mais que você procure, não vai encontrar.

Não haverá planejamento para 2021, como não houve para 2020, porque não há propósito. Ora, não havendo propósito, para que planejar? Por que Odair pediu o boné? Por que será?

O planejamento da Era Mário consiste, unicamente, em manter a roda comercial girando. É pensar em quem vender para pagar salário de jogadores que já cumpriram suas missões nas quatro linhas e vivem no Fluminense uma pomposa e onerosa aposentadoria.

Percebam que nesse labirinto você tem toda liberdade de imaginar, embora saibamos que até nossa imaginação é vigiada, mas qualquer ideia que você tenha estará fadada a morrer de tédio no labirinto Mário Bittencourt.

Nós poderíamos pensar em como nos livrar de Mário, como nos livramos, precoce, inútil e desastrosamente, de Abad. No entanto, a grande questão que se nos impõe é como vencer a falta de vontade política que grassa no intramuros das Laranjeiras. São poucos os que pensam em transformação. Unidos, não seriam capazes de formar um Conselho comprometido com a reforma do Estatuto, com a revitalização das Laranjeiras, com a utilização de Xerém como foco de atração de altíssimos investimentos e com a realização de uma profunda reestruturação de todos os alicerces organizacionais, operacionais e estratégicos do clube.

Percebam que quando nos referimos ao labirinto Mário Bittencourt, estamos dando nome a algo muito maior que a vaidade e completa falta de visão e propósitos do nosso alcaide.

Com Mário, não há rigorosamente nada que você pense para melhorar o Fluminense no curto, no médio ou no longo prazo que seja viável. No curto prazo seria o futebol, com a contratação de um técnico com o compromisso de estruturar um modelo de jogo em que a riqueza da nossa base fosse o principal fundamento estratégico, tático e técnico.

Como pensar nisso vindo de um cara que faz questão de ser o homem forte do futebol para trazer de volta Fred para ganhar R$ 500 mil mensais para não fazer nada, que renova contratos de Nenê, Wellington e tem como prioridade renovar o de Hudson?

Só se nós fôssemos trouxas.

Então, o Fluminense está completamente amarrado, imobilizado, pelos próximos dois anos. Nada, rigorosamente nada, vai acontecer, e olha que eu nem estou falando do delirante patrocínio master, que foi mote de campanha. Estou falando do mais raso imaginável da profunda transformação pela qual o clube precisa passar.

É um labirinto sem saída.

Não teremos mudanças estruturais e não teremos mudanças estratégicas, como seria o investimento na revitalização do estádio das Laranjeiras. Isso nunca passou pela cabeça do Mário.

Não teremos, também, uma guinada nas escalações. Continuaremos tendo como prioritária a escalação de Hudson, Fred, Nenê, Wellington, Caio Paulista e Felippe Cardoso. Até porque o risco de rebaixamento é uma miragem e não há na cabeça desse pessoal qualquer ambição esportiva, razão pela qual não chegaremos nem à pré-Libertadores.

Ao final de mais uma desastrosa temporada, teremos o alcaide celebrando a oitava ou décima segunda colocação como um grande feito para quem pegou um clube arrasado, que precisará de duzentos anos para voltar a ser minimamente competitivo.

Pois é isso mesmo em que querem que acreditemos. Se não há saída, não há porque haver ação. Não havendo ação, caminhamos bovinamente para o matadouro de grandes tradições esportivas, particularmente, no nosso caso, a maior de todas, sem que ninguém vá chorar ou se lamentar por isso.

Saudações Tricolores!

6 Comments

  1. Boa tarde, Savioli !
    Diniz entregou o time a Marcão finalizando a gol mais de 20 vezes numa partida. Marcão corrigiu a parte defensiva e o time se classificou para a Sul Americana.
    Odair entregou o time sem esquema tático, sem nenhuma jogada ensaiada, sem nada, jogando por uma bola. E Marcão não tem capacidade pra arrumar o time.

    1. Essa constatação é tão terrível que eu sequer cheguei a cogitá-la. Mas eu acho que você está certo. Marcão não tem estofo para construir sua própria realidade e não consegue replicar a de Odair.

      ST

  2. É incrível como todo mundo que entra lá sucumbe. Aliás, só para entrar, a pessoa já teve de assinar um tratado de imanência. O Abad era tenebroso. E a opção ao Mário na eleição me parecia ainda pior. O MB começou bem, mas está há 6 meses sem bater um ponto, sem fazer absolutamente nada. Um absoluto marasmo.

    1. Fala Gui!

      É que o Mário entrou com o único propósito de manter tudo como estava. Então, se nada acontece de novo, ele está cumprindo sua missão.

      ST

  3. Infelizmente VC TEM RAZÃO! E dá vontade de chorar ansiando pelo nosso Fluminense de volta. ST

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