O Fluminense continua (por Paulo-Roberto Andel)

paulo panorama red

A vida é hoje.

Todo mundo tem passado. Nele, moram erros e acertos, felicidades enormes, dramas, tudo. E no futebol não é diferente.

Parece claro demais que o Fluminense e sua torcida, ou parte dela, ou gente demais, está em estado de choque pelos últimos acontecimentos. E nem poderia ser de outra forma. Tudo é compreensível. Houve um baque.

Contudo, viver o futebol é saber que o gosto amargo de uma quarta-feira pode se tranformar no quindim de domingo, e vice-versa.

Acabamos de perder um dos principais atores da cena contemporânea tricolor, numa relação de amor e desatinos. Dói. Doeu. Mas a vida continua e hoje mesmo aí está um jogo importante em Volta Redonda. Uma verdadeira prova de fogo neste momento.

E vivemos o tempo todo em pluralidades: sendo contra ou a favor da atual gestão do clube, confiando ou não no time em campo, acreditando ou não no treinador, uma coisa nos une o tempo inteiro – a torcida pelo bom desempenho do Fluminense.

Houve quem criticasse os que, como eu, colocam o escudo acima de qualquer um de seus protagonistas em campo. Minha réplica é de enorme simplicidade: a vida do Tricolor nos gramados – e muitas vezes, nos outros esportes – foi conduzida nestes 114 anos à base de conjunto, coletividade, grupo. Isso explica muitos títulos quando éramos absolutamente desacreditados. Muitos clubes se gabam de seus talentos individuais no decorrer da história – e o Fluminense também -, mas o que nos diferencia de quase todos os coirmãos é que a nossa trajetória foi escrita principalmente pelas conquistas e superações.

Aí está um momento crucial: desfalcado para sempre de seu maior artilheiro nos últimos 50 anos, o time das Laranjeiras precisará de uma reinvenção. O campo é seu teatro de operações. Há semanas atrás, todos saudamos a conquista da Primeira Liga. Até por sua fórmula modesta, ágil, ela não poderia servir de termômetro para o restante da temporada. Mas não indicava um caminho? Saibamos encontrá-lo com lucidez, da mesma maneira em que nos abarrotamos de títulos nos 50 anos em que tivemos artilheiros menos badalados e celebrados.

Ao entrar na imponente sede das Laranjeiras, qualquer torcedor nosso fica embasbacado com os bustos de Castilho e do Casal 20. Eles representam dezenas e dezenas de craques e mitos consagrados com a camisa do Fluminense e estão condenados à profunda idolatria eterna. Lembrados, louvados, deixando saudades. Mas um dia o fim chegou. É o caso de agora, onde mais uma estrela adentra o pantheon da perenidade tricolor. Bom ou mau negócio, bem ou mal conduzido, apropriado ou não, está irremediavelmente feito. Só que o amor continua.

O céu de noite limpa, repleto de estrelas, todas mortas há muito tempo, mas só podemos vê-las agora a incalculáveis distâncias. Estrelas que apontam caminhos, orientam jornadas, brilhantes, definitivas. Todas importantes, nenhuma delas maior do que o céu, nem o sol que sucede o negrume da noite e ilumina as manhãs.

Temos um jogo importante logo mais. Temos dezenas de jogos importantes nesta temporada. As discordâncias, a luta pelo poder – e a manutenção dele – certas vaidades e afirmações pessoais, a idolatria, tudo isso tem momento ou até mesmo importância pontual, mas não mais do que o principal: o Fluminense vitorioso em campo. Que as lutas entre os homens tenham seus ringues adequados.

A vida continua. Apesar de tudo, ruge o Fluminense, que também continua. Estamos todos vivos demais. Torçamos juntos, discutamos nos momentos certos. Acabamos de viver um drama. Acima de tudo, que logo mais sejamos uma só torcida.

São as estrelas que formam o céu – e não o contrário.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: repe

1 Comments

  1. É Paulo!
    Outro dia mesmo eu estava com você no Maracanã e vimos aquele movimento no camarote: o novo contratado acenando…todo mundo feliz!
    Eu te contei que tinha um Golden chamado Fred, pois nasceu bem na Copa de 2006, quando ouvi que um menino entrou no lugar do Ronaldo e fez logo um gol!
    Agora sinto como se tivesse perdido um amigo!
    Eu torci tanto pra que ele ficasse até o fim -pois queria se aposentar no Fluminense que amava- e logo se tornasse o segundo maior artilheiro do clube!
    E…

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