O Flu à mesa (por Paulo-Roberto Andel)

 

I

– Pode ter certeza: assim que entrarmos, João estará à esquerda, numa mesa do canto, minutos antes da hora e com o couvert à mesa.

– Ok, você venceu.

(Risos)

II

Hora de falar do Fluminense. É certo que temos um time forte, ninguém é tetracampeão à toa. Mas precisamos de reforços; os adversários estão em plena mobilização. Mais do que nunca, no futebol de hoje vence quem tem elenco. Apesar de tudo, quem há de negar que, em muitos de seus brilhantes títulos, o tricolor começou os certames desacreditado pela imprensa e comentários das ruas? Temos a vocação de desafiar o descrédito, sempre foi assim.

III

É uma mesa de tricolores com certeza. – Quem se lembra daquele goleiro que frangou tudo numa partida em que fomos eliminados? – Aílton Cruz, contra o Juventude em 1999, pior de todos os tempos.  – Quando estreamos na série C, quem era o goleiro? – Gabriel Gago. – E os joguinhos nas Laranjeiras nas quartas-feiras à tarde? – Acreditem: ao revirarem jornais antigos, de trinta anos atrás ou mais, o Fluminense era muito mais vilipendiado pela imprensa marrom do que hoje. – Alguém recorda do Neinha?  – O Nei Dias? – Jasson, antes de Washington. – Edson Cimento! Jorge Rauli! Luiz Marcelo e Mazzola! – Alaércio, Chiquinho, Pires e Dudu. – Não consigo parar de pensar em Cristóvão dando aquele drible monumental em Manguito e acertando o ângulo esquerdo. – Precisamos dar mais valor aos nossos ídolos. – “Ricardo Pinto é meu goleiro. Quanto ao time, sabemos que é fraco; entretanto, justamente por isso será ofensivo – é melhor ser fraco e tentar o gol do que jogar na retranca e ser massacrado”.

IV

– Será que podemos voltar um dia a jogar nas Laranjeiras? – Eu acredito que sim. – E se fosse hoje, não seria arriscado? – Para jogos menores, refazendo a estrutura, possível. Moça Bonita e outros estádios não são melhores. – E a nossa história? –Tinha que ser como realmente foi, sem retoques. – Nossas grandes vitórias vêm depois de sofrimentos: a Copa do Brasil e o Brasileiro de 2010 foram assim. – A Libertadores de 2008 é uma cicatriz que será superada, pois a América mais cedo ou mais tarde será nossa.

V

Então falamos de livros, do futuro, das coisas do dia-a-dia, as costuras que remetem à fidalguia dos que torcem para o Fluminense. O consumismo das festas de Natal. A dificuldade de se conversar ao vivo em dias onde os tempos são tão escassos e muitos preferem o computador. – A mesa de bar é essencial para fazer a boa prosa. – Ainda mais quando o assunto é Fluminense, podemos ficar horas e horas aqui. – Mas que neném bonitinha! – E já é tetra, veja a roupa. – Eu queria o troféu do turno, me irritei. – Eu também queria, mas não cheguei a lamuriar; difícil segurar depois do campeonato ganho.  – E Felipão, gente? – É, pode ser que pelo histórico, o bojo; pelo presente…

VI

– As pessoas que exercem tais práticas são chamadas de especistas. – Não, eu sou um especista envergonhado. – Ah, não quero ser um especista. – O atendimento daqui caiu, hein?  – Meu amigo, é tudo matemática: oito sujeitos para atender cento e vinte pessoas, inviável matematicamente.

VII

– E o futuro, senhores?  – Ele está nessa mesa. Está nos bares. Em qualquer lugar onde pequenos grupos de grandes almas celebrem as cores amadas e respeitadas do Fluminense. – Vamos marcar logo, hein? – Sem falta, deixem passar as festas e acertaremos isso.

VIII

Largo do Machado, dez da noite. Os amigos iriam para o metrô. Eu ainda tinha outro compromisso importante. Trocamos abraços fraternos, mar da tranquilidade e amizade. Luiz, de sempre. João, como se também fosse. Atravessaram a rua e seguiram a sina. Certa vez, estive numa mesa de três tricolores e infelizmente fui logrado. Agora não. Foi a paz verdadeira.

IX

Ligo o som em casa, ouço o novo disco do coletivo de Steve Morse. Gosto do nome, “Flying Colours”. Há todo sentido nisso.

Para Luiz e João,

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

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Contato: Vitor Franklin